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Bruxelas "rebela-se” contra Krugman

As críticas de Paul Krugman ao pensamento de Olli Rehn , agravadas pela forma “pitoresca” como o prémio Nobel admite ter-se referido ao comissário dos Assuntos Económicos, geraram uma vaga de protesto de Bruxelas contra o prémio Nobel da Economia. “Precisamos de críticos, não de cínicos”.

"Detesto dizê-lo, mas não faria muito diferente do Governo português"
06 de Março de 2013 às 15:26
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As críticas de Paul Krugman ao pensamento económico da Comissão Europeia são conhecidas e recorrentes, e reflectem uma linha de fractura que divide muitos economistas em todo o mundo sobre os méritos e os limites de políticas orientadas para o desendividamento (público e privado) em contexto de recessão, elevado desemprego e – no caso muito singular da Zona Euro – com taxa de câmbio única e de juros fixada centralmente.

 

Mas a troca de argumentos ganhou nas últimas semanas uma nova dimensão, depois de Paul Krugman ter abertamente elegido Olli Rehn, o discreto comissário finlandês responsável pelos Assuntos Económicos, como “o rosto da negação” dos efeitos da austeridade que Krugman considera estar a exacerbar inutilmente a recessão económica na Europa.

 

Já antes, lembra o blogue do Financial Times – que deu agora visibilidade à mais recente "disputa transatlântica" –,  Krugman tinha desferido críticas num "tom desagradável" ao referir-se ao "Rehn do Terror" .

 

Mas a gota d’água para Bruxelas chegou nesta segunda-feira, com um novo “post” no blogue no “New York Times” intitulado “As baratas na Comissão Europeia". Nele,  Krugman lamenta que Rehn insista em políticas que – tal como as baratas –  ele gostaria de ver banidas para sempre, mas que – tal como as baratas – sempre arranjam um jeito de regressar. Acusa ainda o comissário de prosseguir com políticas-tipo-baratas por desconhecer “factos básicos”, e sugere que Rehn já devia ter sido demitido.

 

Nesse “post”, o economista contesta em particular os pressupostos do comissário (alicerçados num estudo de referência de economistas do FMI) de que países com dívidas públicas superiores a 90% não podem tentar resolver os seus problemas gerando mais endividamento, argumentando que John Maynard Keynes seria um keynesiano mesmo no contexto actual, até porque escreveu a sua obra-prima numa altura em que a dívida pública britânica era ainda mais elevada.

 

E conclui: “O que surpreende são homens que não sabem nem teoria nem a história de anteriores crises e que estão plenamente convencidos do que fazer na actual; e que a sua confiança nas suas receitas não tenha sido abalada pelo facto de se terem enganado sobre tudo até agora. E, claro, o que é ainda mais surpreendente é o facto de esses homens ainda estarem ao comando”.

 

A resposta de Bruxelas não tardou. O blogue do Financial Times refere uma “tempestade de tweets” que se seguiu às acusações de Krugman, que começou pelo porta-voz de Rehn, Simon O'Connor, a lembrar ao economista prémio Nobel que “nos anos 40 o Reino Unido podia depender da generosidade dos EUA; hoje a Zona Euro precisa de acesso aos mercados”.

 

Seguiu-se o “tweet” mais ácido de Koen Doens, o diplomata belga que chefia o serviço de imprensa da Comissão Europeia: “Que vamos ter a seguir? Cuspidelas?”. Mais tarde veio Ryan Heath, porta-voz da comissária Neelie Kroes, a lembrar que Krugman esteve na Comissão Europeia em Março de 2009 para falar da crise e de como a resolver e “não deixou grande impressão”.

 

Pouco depois foi a vez da própria Kroes entrar em campo para defender a instituição. “Precisamos de críticos, não de cínicos”, foi o segundo de três “tweets” dirigidos a Krugman pela comissária liberal holandesa e um dos “pesos pesados” da actual Comissão.

 

Hoje, Krugman volta ao assunto no seu blogue, com um novo “post” com um título provocatório sobre “Baratas e comissários”, no qual admite ter “língua afiada” e usado linguagem “pitoresca”, mas não ofensiva (“não afirmei que a mãe do Sr. Rehn era um hamster e o seu pai cheirava a sabugueiro”). E insiste que apenas apontou que o comissário tem vindo a prometer bons resultados da austeridade, mas que o desemprego continua a crescer, e que faz parte do seu trabalho desafiar e confrontar "eurocratas".

 

E a troca de "tweets" entre as duas margens do Atlântico prossegue. Optar pelo termo “baratas” não é mera língua afiada, respondeu ao fim da manhã Koen Doens. O chefe do serviço de imprensa da Comissão Europeia frisa ainda que, ao contrário de Krugman, em Bruxelas “discorda-se da variante orçamental do mito urbano de que se cura uma ressaca bebendo mais álcool" e assegura que há "ampla evidência" a sustentar as opções económicas europeias – o que é preciso é dar-lhes tempo.

 

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