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Centeno: “Os líderes europeus não podem dormir sobre os louros alcançados”
A dez dias da reunião do Eurogrupo onde se espera que sejam acordados os próximos passos do aprofundamento da união económica e monetária, Mário Centeno alertou que, com a economia a crescer, “a tendência para a complacência é grande”.
O presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças português, Mário Centeno, deixou hoje um alerta: "A tentação para a complacência é grande numa altura em que a economia cresce". Centeno assumiu que "soa a um aviso, porque é um aviso" e o discurso pareceu servir tanto aos países da moeda única, como especificamente a Portugal.
Mário Centeno falava no encerramento da conferência "O futuro do Mecanismo Europeu de Estabilidade", organizada pelo jornal Público na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
A dez dias de uma reunião-chave dos ministros das Finanças do euro, onde se espera que seja firmado um acordo em algumas áreas para o aprofundamento da união económica e monetária, Centeno endureceu o tom.
"Precisamos de tempo para apagar o legado da crise", frisou. "Os governos europeus não podem dormir sobre os louros alcançados", frisou, numa mensagem clara para os seus colegas das Finanças.
Centeno argumentou que o esforço das reformas "tem de ser contínuo", que "os governos têm de continuar a trabalhar para reduzir os níveis de desemprego e de dívida acumulados, e os bancos têm de reduzir o crédito malparado".
"Há evidentemente ainda muito que fazer: tanto a nível nacional como europeu, tanto a nível publico como privado", destacou ainda.
Centeno espera que Eurogrupo assine "acordo de princípio"
O presidente do Eurogrupo espera que na reunião dos ministros das Finanças no final deste mês seja possível assinar um "acordo de princípio" em torno dos próximos passos da reforma do euro. Centeno reconheceu que será "apenas um passo", mas defendeu que vai "mudar a forma como os investidores avaliam o risco de uma crise bancária".
Mário Centeno adiantou que "existe um apoio muito alargado entre os ministros do euro" para atribuir ao Mecanismo Europeu de Estabilização um instrumento como o backstop, uma rede de segurança que lhe permitirá funcionar como financiador de último recurso para as economias em dificuldades. Reconheceu que falta afinar alguns detalhes, como "o processo de decisão na utilização do backstop e a sua data de introdução", mas notou que este instrumento poderá chegar ao terreno ainda antes do limite, definido como 2024.
E não perdeu a oportunidade de voltar a defender a criação de uma capacidade orçamental específica para o euro, que poderia ficar sob a alçada do MEE e ter uma função tanto de estabilização, como de investimento. "Seria um grande passo", defendeu "e será uma das discussões mais importantes que devemos ter nos próximos meses", sublinhou.
A outra nova função do MEE será encontrar uma forma de lhe atribuir a competência de desenhar programas de ajustamento e gerir as crises em conjunto com a Comissão Europeia.
Discussões para o futuro: estatutos e modelo de decisão
"Por agora, a prioridade é proteger o euro com novos instrumentos", defendeu Mário Centeno. Mas o presidente do Eurogrupo reconheceu que, eventualmente, será preciso revisitar os estatutos do MEE.
Além disso, Centeno notou que um dos motivos da preferência pelo modelo do MEE é que este toma decisões por unanimidade, mas avisou que será preciso equacionar mudanças. "A preferência dos Estados por este modelo é compreensível, mas no futuro no contexto de uma revisão do Tratado devemos estar dispostos a reavaliá-lo", defendeu.