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2010: Grécia, o rastilho para a crise do euro

A descoberta de mais um truque nas contas públicas gregas no rescaldo da falência do Lehman rastilhou a desconfiança na solvabilidade dos países periféricos e desafiou a solidez da moeda única.

A descoberta de mais um truque nas contas públicas gregas no rescaldo da falência do Lehman rastilhou a desconfiança na solvabilidade dos países periféricos e desafiou a solidez da moeda única.
Yorgos Karahalis/Reuters
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Os primeiros anos do novo século pareciam auspiciosos para os gregos. Na frente económica, as baixas taxas de juro propiciadas pela preparação da adesão ao euro deram lastro ao investimento ao consumo, fazendo esquecer o longo período de instabilidade após a transição para a democracia. Nos relvados, o país roubou a Portugal o primeiro título de campeão europeu de futebol. Nos palcos, amealhou o primeiro lugar no festival da Eurovisão. E mesmo os Jogos Olímpicos, que até à ultima hora estiveram ameaçados de sucessivas derrapagens de prazos, acabaram por projectar a imagem externa de um país moderno e bem infra-estruturado. É por isso que, quando a crise lhes bate à porta, no final de 2009, não foi só a ilusão de uma prosperidade sem fim que soçobrou; foi também a auto-estima dos gregos que sofreu um duro abalo.

Depois de meses a lutar contra o inevitável, a 23 de Abril de 2010 a Grécia pede oficialmente ajuda aos parceiros europeus e ao FMI. No cadastro, estava inscrito um défice de 12,7% do PIB e uma dívida pública que chegava aos 130% do PIB, tudo dados que estariam "escondidos" e foram expostos tacticamente pelo PASOK, quando chegou ao poder em 2009, sucedendo à Nova Democracia.  

Mas aquilo que, à primeira vista, poderia servir aos socialistas para ganharem folga na frente interna e europeia, depressa se transformou num pesadelo.

No meio da turbulência provocada pela falência do Lehman Brothers, os mercados financeiros fecharam as torneiras e começaram a olhar de viés para os países do sul. E, por mais que as mensagens políticas tentassem vincar as diferenças entre a Grécia, Portugal, a Irlanda ou a Espanha, a semente da desconfiança estava lançada, no seio de uma união pouco tranquilizadora quanto à sua coesão.

A história a partir daí está ainda bem presente. Primeiro a Irlanda, depois Portugal, os Estados mais frágeis viram os seus ‘spreads’ da dívida pública e os custos de financiamento disparar, numa espiral que só Mário Draghi conseguiria estancar. 

Chegados a Maio de 2017, a Grécia , que entretanto viu um dos principais partidos serem varridos do espectro partidário (o PASOK), já vai no terceiro empréstimo internacional, e tem a libertação de mais uma tranche, de 7,5 mil milhões de euros, refém do cumprimento de mais uma vaga de cortes nas pensões e de aumento de impostos.

Alexis Tsipras, que em Janeiro de 2015, prometeu acabar com a austeridade sem sair do euro, gere agora um país com 22,2% da população em privação material severa (9% em Portugal, segundo o Eurostat), e  um desemprego na casa dos 23,5%. E o ponto de honra do Syriza, exigência de um acordo sobre o alívio da dívida grega, continua por concretizar. Talvez chegue após o Verão de 2018.
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