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UE rejeita ultimato do Irão para novo acordo nuclear
Entalada entre a pressão exercida pelos Estados Unidos e o ultimato do Irão feito a Bruxelas, garantindo que sem um novo acordo nuclear retomaria o programa de enriquecimento de urânio, a UE garantiu que não vai ceder a Teerão.
A União Europeia, juntamente com os ministros dos Negócios Estrangeiros de França, Reino Unido e Alemanha, recusa o ultimato feito pelo Irão, mas garante que mantém o compromisso assumido no âmbito do acordo sobre o programa nuclear iraniano firmado em 2015.
"Rejeitamos quaisquer ultimatos e vamos avaliar o cumprimento do Irão com base na prestação iraniana relativamente aos compromissos assumidos no âmbito do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla inglesa, e que diz respeito ao acordo nuclear iraniano) e do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (NPT)", refere o comunicado conjunto assinado pela chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, e pelos ministros dos Negócios Estrangeiros francês, britânico e alemão.
Recorde-se que o acordo de 2015 foi assinado em Viena pelo Irão e pelo grupo chamado P5+1 (integrando os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha).
Ou seja, Bruxelas avisa que não serão as declarações vindas de Teerão mas a avaliação dos inspetores ao cumprimento do acordo pelo Irão que irão determinar a abordagem europeia no futuro próximo. De acordo com a CNBC, ainda vai tardar até que surjam novos dados relativos às atividades nucleares iranianas, já que só em agosto é publicado o relatório trimestral da Agência Internacional de Energia Atómica.
Na comunicação em causa os responsáveis europeus lamentam ainda o facto de os Estados Unidos terem denunciado o acordo negociado ainda pela administração liderada por Barack Obama. Contudo, reiteram o compromisso em assegurar que esse acordo nuclear é totalmente implementado pelo Irão.
Numa rápida reação, um porta-voz da Organização de Energia Atómica do Irão, citado pela Reuters, afiança a Bruxelas que o objetivo de Teerão passa por "reforçar o JCPOA" assinado há quatro anos e recolocá-lo no "rumo certo" depois da saída unilateral decidida pelo presidente americano Donald Trump.
O presidente iraniano Hassan Rouhani anunciou esta quarta-feira que o Irão retomaria, num prazo de 60 dias, atividades de enriquecimento de urânio suspensas desde a entrada em vigor do acordo nuclear se Bruxelas não protegesse o país das sanções reinstituídas pelos EUA. Tratar-se-ia de uma desvinculação parcial relativamente ao acordo de 2015.
O JCPOA estabelece que só em 2030 o Irão poderia retomar o enriquecimento de urânio, elemento fundamental para a prossecução de armamento nuclear. Teerão mantém que o respetivo programa nuclear tem um intuito exclusivamente económico.
Rouhani tenta desta forma que as relações comerciais entre Teerão e a UE não sejam afetadas pelas sanções americanas depois de Washington ter decretado o fim das isenções às empresas com atividades no Irão.
Foi há precisamente um ano que os Estados Unidos abandonaram aquele que foi considerado por Trump como "o pior acordo da história dos acordos". Desde então a situação económica iraniana degradou-se muito e o ultimato feito por Rouhani surge como uma tentativa de salvaguardar a capacidade do país de se manter como um ator nas relações comerciais multilaterais.
Tradicional aliada do Irão, a Rússia veio ontem em defesa de Teerão, responsabilizando os EUA por terem saído do acordo sem que nenhuma razão o justificasse dado o cumprimento do JCPOA pelas autoridades iranianas.