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Alemanha quer novo sistema global de transferências financeiras independente dos EUA
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha defende a criação de um novo sistema de pagamentos que permita ultrapassar a dependência dos Estados Unidos.
As operações financeiras realizadas pelas empresas da União Europeia não podem continuar a ser supervisionadas pelos Estados Unidos, pelo que a Europa deve encetar esforços com vista à criação de um novo sistema global de transferências financeiras, defende o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas.
Em entrevista concedida ao alemão Handelsblatt, Maas afirmou que a criação de um novo canal independente de pagamentos é essencial para que as empresas europeias que realizem negócios com o Irão evitem ser atingidas por sanções aplicadas pelos Estados Unidos.
A declaração do governante germânico está relacionada com a recente readopção de sanções contra Teerão pelos EUA, uma decisão da administração liderada por Donald Trump que sempre se mostrou contrária ao acordo sobre o programa nuclear iraniano alcançado pelo anterior presidente, Barack Obama, e que permitiu levantar as sanções que há muito pendiam sobre o regime iraniano.
O pacote de penalizações financeiras reintroduzido por Washington sanciona também as empresas que efectuem negócios com o Irão. Os EUA foram o único país do grupo P5+1 (França, China, Rússia, Reino Unido e Alemanha) que em 2015 assinou o acordo com o Irão em Viena.
"Enquanto europeus, dissemos aos EUA que consideramos que abandonar o acordo sobre o nuclear iraniano é um erro", sustentou Maas para quem é inaceitável permitir que Washington possa agir "às nossas custas".
"Por essa razão, é essencial que reforçar a autonomia europeia estabelecendo canais de pagamentos independentes dos EUA", concluiu o chefe da diplomacia alemã falando na "criação de um Fundo Monetário Europeu e no estabelecimento de um sistema SWIFT (Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais ) independente".
A União Europeia mantém-se fiel ao acordo alcançado em 2015 e tem tentado convencer as empresas europeias a não cessarem as operações com o Irão, contudo muitas das companhias do velho continente têm preferido salvaguardar o acesso ao maior e mais lucrativo mercado norte-americano cessando as ligações a Teerão.
Ainda esta segunda-feira, a petrolífera gaulesa Total anunciou que já não vai participar no projecto de gás natural iraniano, um negócio de grandes dimensões que foi negociado pelas mais altas instâncias dos dois países, incluindo o próprio presidente francês, Emmanuel Macron. A Total admitiu que esta decisão estava relacionada com as ameaças feitas por Washington de que adoptaria medidas contra o sector iraniano de petróleo e gás.
Também o SWIFT, um sistema de pagamentos globais sediado em Bruxelas, é afectado pelas sanções norte-americanas e a menos que garanta uma isenção às penalizações verá os Estados Unidos exigir a saída dos bancos iranianos da rede, possivelmente já no início de Novembro.