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"Olhos em bico" é ofensivo? Oettinger diz que não mas Pequim não gostou

O comissário alemão Günther Oettinger referiu-se aos chineses como os de "olhos em bico". Pequim não gostou. Muitos eurodeputados também não. Em Lisboa falou de segundo resgate. O Governo também protestou.

Bloomberg
02 de Novembro de 2016 às 18:12
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Günther Oettinger não acha que deva desculpas porque não ofendeu ninguém quando usou uma expressão comum quando se fala num registo coloquial. "É uma expressão corrente que não significa, de modo algum, falta de respeito pela China". Mas, em Pequim, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros manifestou uma opinião distinta e lamentou que o comissário alemão se tenha referido publicamente aos chineses como os de "olhos em bico". Pouco agradados mostraram-se também membros de diferentes grupos políticos do Parlamento Europeu, que detêm a última palavra sobre a ampliação iminente das responsabilidades do comissário responsável pela Economia Digital na equipa de Jean-Claude Juncker.

"Não há motivo para pedir desculpa", repetiu Günther Oettinger nesta quarta-feira, 2 de Novembro, depois de ter sido interpelado por um jornalista na rua em Bruxelas, que o confrontou com a reacção do porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros. Segundo Hua Chunying  chamar os chineses de "olhos em bico" "revela um sentimento de superioridade arraigado nalguns políticos ocidentais".  "Esperamos que aprendam a olhar-se e a olhar os outros de forma objectiva, e respeitem e tratem os outros como iguais", acrescentou.

A expressão foi usada na semana passada num evento em Hamburgo onde o comissário chamou igualmente a atenção para a composição da delegação chinesa que, dias antes, comparecera à cimeira anual entre a União Europeia e a China. "Nove homens, um partido, nenhuma democracia", disse. Na ocasião, o comissário, membro da CDU da chanceler Angela Merkel, teceu ainda uma crítica irónica às prioridades políticas domésticas sugerindo que o país caminha para uma situação em que tornará o "casamento gay obrigatório". Actualmente, a Alemanha permite uniões civis, mas não o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A controvérsia é relatada pelo Politico, publicação especializada em assuntos europeus, que dá ainda conta das reacções adversas de vários eurodeputados que, provavelmente até ao fim do ano, terão de aprovar (ou não) a atribuição definitiva de novos pelouros a Oettinger, designadamente o do Orçamento, na sequência do pedido de demissão de Kristalina Georgieva, comissária búlgara demissionária e ex-candidata a secretária-geral da ONU.

Gianni Pittella, que lidera os Socialistas e Democratas, o segundo maior grupo político no Parlamento Europeu, disse que Oettinger "deve desculpar-se pelos seus comentários ofensivos". Já Syed Kamall, líder do terceiro maior grupo do Parlamento, os Conservadores e Reformistas de direita, pediu mesmo a demissão do comissário, que descreveu como um homem "intrometido e intolerável".

A primeira crítica a Oettinger veio, porém, da Alemanha e do SPD, o grande partido rival da CDU que integra a actual coligação governamental. "Alguém que usa estereótipos racistas e homofóbicos não está qualificado para exercer cargos políticos de topo", sentenciou Katarina Barley, secretária-geral do partido, ao acrescentar que Oettinger pode "prejudicar toda a UE".

Entretanto, o Politico fez também um já longo apanhado das declarações pouco diplomáticas do comissário alemão que esteve há um mês em Lisboa, onde também protagonizou um episódio que desagradou ao governo de António Costa.
 
Falando no Parlamento português numa audição que julgava privada, o comissário admitiu que Portugal possa precisar de um novo resgate. "Queria-vos dizer, agora não publicamente" que a maior preocupação da Comissão Europeia "seria se Portugal precisasse de um segundo resgate". "Não sei qual é a probabilidade, mas é maior do que 0%", disse Oettinger aos deputados, enquanto a audição continuava em directo na AR TV, o canal que transmite diariamente os trabalhos parlamentares. No rescaldo, o Governo a terreiro desmentir essa possibilidade, ao mesmo tempo que pedia "máximo cuidado e sentido de responsabilidade" aos membros da Comissão. Pouco depois, o próprio Oettinger corrigia o discurso. Em entrevista ao Negócios, o comissário disse que não estar preocupado com a situação económica e financeira de Portugal, mas foi lembrando que o clima político na Europa não está favorável a mais medidas de solidariedade, numa referência ao financiamento de um novo resgate.
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