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Comissário alemão faz "mea culpa" por comentários sobre chineses e gays

Ao fim de uma semana de polémica, Günther Oettinger veio pedir desculpa por ter usado palavras que admite possam ter ferido algumas pessoas.

Pedro Granadeiro
03 de Novembro de 2016 às 12:08
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Após uma semana a ser "grelhado" em lume brando na praça pública, Günther Oettinger deu o dito pelo não dito, e admitiu nesta quinta-feira, 3 de Novembro, que involuntariamente possa ter proferido declarações ofensivas, designadamente sobre os chineses e os gays.

 

"Tive tempo para reflectir sobre o meu discurso e posso agora perceber que as palavras que usei geraram sentimentos negativos e podem até ter magoado algumas pessoas. Essa não era a minha intenção e gostaria de pedir desculpa por qualquer comentário que não tenha sido tão respeitoso quanto deveria ser".

 

O pedido de desculpa foi feito por escrito e colocado no site da Comissão Europeia, tendo o comissário insistido que, quando se referiu aos chineses como os "de olhos em bico" e à orientação recente da política alemã que no limite "tornará obrigatório o casamento gay", estava a falar num registo informal, não a ler um discurso previamente preparado, mas também a ser "franco e aberto".

"Tenho um enorme respeito pela dinâmica da economia chinesa – a China é um parceiro e um rival duro. Pelo que precisamos de criar um ambiente em que as companhias possam comprar empresas europeias e as europeias possam comprar chinesas", sublinha Oettinger na declaração hoje divulgada.

 

Já sobre a Alemanha, o comissário repete a ideia de fundo que já deixara na conferência em Hamburgo onde se gerou a mais recente polémica. "Se os alemães focarem as suas prioridades políticas na redução da idade da reforma, no aumento das pensões e etc., ninguém deverá depois dizer-se surpreendido se perdermos a batalha global da competitividade. O que precisamos é de duplicar esforços, em vez de fazer uma sesta e descansar no sofá", refere.

O "mea culpa" do comissário surge menos de 24 horas depois de ter repetido que "não há motivo para pedir desculpa". Disse-o após de ter sido interpelado por um jornalista na rua em Bruxelas, que o confrontou com a reacção do porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros. Segundo Hua Chunying, chamar os chineses de "olhos em bico" "revela um sentimento de superioridade arraigado nalguns políticos ocidentais".  "Esperamos que aprendam a olhar-se e a olhar os outros de forma objectiva, e respeitem e tratem os outros como iguais", acrescentou.

A expressão foi usada na semana passada num evento em Hamburgo onde o comissário chamou igualmente a atenção para a composição da delegação chinesa que, dias antes, comparecera à cimeira anual entre a União Europeia e a China. "Nove homens, um partido, nenhuma democracia", disse. Na ocasião, o comissário, membro da CDU da chanceler Angela Merkel, teceu ainda uma crítica irónica às prioridades políticas domésticas sugerindo que o país caminha para uma situação em que tornará o "casamento gay obrigatório". Actualmente, a Alemanha permite uniões civis, mas não o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A controvérsia tem sido amplamente relatada pelo Politico, publicação especializada em assuntos europeus, que tem dado conta das reacções adversas de vários eurodeputados que, provavelmente até ao fim do ano, terão de aprovar (ou não) a atribuição definitiva de novos pelouros a Oettinger, designadamente o do Orçamento, na sequência do pedido de demissão de Kristalina Georgieva, comissária búlgara demissionária e ex-candidata a secretária-geral da ONU.

Entretanto, o Politico fez também um já longo apanhado das declarações pouco diplomáticas do comissário alemão que esteve há um mês em Lisboa, onde também protagonizou um episódio que desagradou ao governo de António Costa.
 
Falando no Parlamento português numa audição que julgava privada, o comissário admitiu que Portugal possa precisar de um novo resgate. "Queria-vos dizer, agora não publicamente" que a maior preocupação da Comissão Europeia "seria se Portugal precisasse de um segundo resgate". "Não sei qual é a probabilidade, mas é maior do que 0%", disse Oettinger aos deputados, enquanto a audição continuava em directo na AR TV, o canal que transmite diariamente os trabalhos parlamentares. No rescaldo, o Governo a terreiro desmentir essa possibilidade, ao mesmo tempo que pedia "máximo cuidado e sentido de responsabilidade" aos membros da Comissão. Pouco depois, o próprio Oettinger corrigia o discurso. Em entrevista ao Negócios, o comissário disse que não estar preocupado com a situação económica e financeira de Portugal, mas foi lembrando que o clima político na Europa não está favorável a mais medidas de solidariedade, numa referência ao financiamento de um novo resgate.

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