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"O modelo industrial alemão e o modelo social francês estão em crise"
Gonçalo Moura Martins e António Ramalho analisam as crises políticas na Alemanha e em França e as suas consequências. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.
As crises políticas na Alemanha e em França "são más notícias para a União Europeia", afirma Gonçalo Moura Martins no 22.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, recordando o que os dois países representam para a coesão europeia, mas mostrando ainda maior preocupação com "a crise dos dois modelos fundamentais e referenciais na Europa: o modelo industrial alemão e o modelo social francês".
"Todos os outros países tinham quase como propósito tentar replicar o modelo industrial alemão, ao mesmo tempo que gostariam de tentar replicar o modelo social francês. E o que hoje assistimos é a uma profunda crise dos dois", acrescenta, frisando que isso "pode tornar a Europa quase orfã de referências".
Também António Ramalho considera existir motivo de preocupação com as atuais incertezas políticas nos dois países que representam mais de 40% da economia europeia. "Temos, de facto, um problema que merece uma longa reflexão do ponto de vista financeiro, económico, mas também político", afirma o gestor, considerando que "a matemática dos sistemas democráticos também foi posta em causa por estas duas crises". Já Moura Martins não tem dúvidas de que "o que está a acontecer na Alemanha e em França é uma realidade transversal a toda a Europa: uma atomização de partidos políticos, uma fragmentação dos antigos partidos de poder e o fim da alternância, o que implica cada vez mais a criação de partidos extremistas e conduz a governos fracos, dependentes de coligações e apoios oportunistas".
Os dois gestores, que estão certos que as duas crises vão ter efeitos na economia europeia, apontam contudo diferenças na situação de cada país. No caso da Alemanha, a braços com uma crise na indústria – automóvel, metalomecânica ou química -, Moura Martins questiona como é que o país "vai conseguir criar um modelo flexível e industrial rapidamente, baseado na transição energética e na inovação". Já em França, onde o problema reside no défice e na dívida pública crescentes, os dois concordam que a atual instabilidade vai ser mais difícil de ultrapassar.
António Ramalho compara ainda a reação dos investidores, que "continuam a investir em ativos de risco ignorando os próximos passos do combate político", com a dos credores, que, pelo contrário, "exigem taxas de juros mais exigentes e preocupam-se com as despesas do Estado", considerando que "a maior incerteza é qual dos dois tem razão".
Em seu entender, "o problema que se coloca é que não só não há visibilidade de como é que se sai deste processo, mas sobretudo pode acontecer que mesmo as soluções que estejam a ser pensadas sejam fortemente prejudicadas por questões externas que estão a surgir".