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Turbulência em França e Alemanha traz incerteza mas crise financeira é improvável

O agudizar da crise política em França veio somar-se ao abrandamento da economia alemã, conhecida como o motor da Europa, o que traz incerteza para a evolução económica, mas os analistas consultados pela Lusa afastam uma crise financeira.

07 de Dezembro de 2024 às 10:13
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"Este período de paralisia política em França tem sérias implicações tanto para a economia nacional como para os mercados financeiros", começa por sinalizar Antoine Andreani, Diretor de Estudos da XTB França.

O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, apresentou esta quinta-feira a sua demissão ao Presidente francês, Emmanuel Macron, que a aceitou.

A demissão de Barnier surge na sequência da derrota do seu Governo na quarta-feira numa moção de censura apresentada pelo bloco de partidos de esquerda Nova Frente Popular e apoiada pela extrema-direita de Marine Le Pen.

O analista admite que "os riscos imediatos de uma crise financeira são baixos", ainda que aponte que a "incerteza prolongada é suscetível de pesar fortemente sobre a economia, abrandar o crescimento e reduzir a confiança dos investidores".

Neste contexto, os investidores "irão manter-se cautelosos, navegando num período de incerteza até que surja um ambiente político mais estável".

Já a Allianz GI destaca, numa nota de análise, que a expectativa é de um aumento da volatilidade do mercado. No que diz respeito às perspetivas orçamentais, "embora a França possa ter pouca credibilidade na Europa quando promete cortar despesas, as comparações com a Grécia estão longe da realidade".

"Não esperamos uma crise financeira genuína e o risco de incumprimento não faz parte do nosso planeamento de cenários", reitera a Allianz GI.

França enfrenta uma elevada dívida pública, que atingiu 112% do Produto Interno Bruto (PIB) no final de junho, e um agravamento do défice este ano (6,1% do PIB esperados em 2024).

Alex Everett, analista da Abrdn, também nota que "foi uma semana significativa para a França, com a volatilidade provavelmente permanecendo elevada até o final do ano".

"No entanto, o complexo mais amplo de 'spreads' europeus tem-se comportado notavelmente bem", o que mostra que o mercado "vê estas questões como um problema específico de França".

A crescente flexibilização por parte do Banco Central Europeu "apoia um apetite mais amplo pelo risco, mesmo face a tais acontecimentos políticos".

Os ventos contrários não sopram apenas de França, mas também da Alemanha, onde a economia tem vindo a abrandar e se multiplicam os anúncios de fabricantes automóveis a avançar com cortes, numa altura em que a indústria alemã sofre o impacto da fraca procura global e dos elevados custos energéticos.

Depois de uma contração na atividade económica no ano passado, a maior economia da União Europeia espera um novo declínio no PIB este ano, de -0,2%, de acordo com as previsões do Governo.

A verdade é que "a economia francesa tem crescido em linha com a zona euro desde o fim de 2019, enquanto a economia alemã teve um desempenho bastante mais fraco durante esse período", contrapõe Ricardo Amaro, economista na Oxford Economics, à Lusa.

Ainda assim, "os dados mais recentes para a economia francesa são pouco animadores, e sugerem que a segunda maior economia da zona euro tem vindo a perder ritmo de crescimento e também irá pesar no crescimento da região em 2025", admite.

"Em termos agregados, estes dois países representam quase 50% do PIB da zona euro, portanto as dificuldades que atravessam têm um impacto direto assinalável na performance da região", alerta o economista.

Há também que considerar os "efeitos indiretos, pois são parceiros económicos importantes dos restantes países da zona euro que também são penalizados por via das exportações e investimento em particular".

É assim possível que Portugal venha a sofrer alguns impactos, já que "são dois dos nossos parceiros comerciais e o seu fraco desempenho acaba por limitar as exportações Portuguesas, deixando o nosso crescimento económico mais dependente da procura interna", defende.

Já no que diz respeito às contas públicas alemãs, a margem orçamental está "dentro das regras europeias", mas será importante acompanhar a mudança que se está a verificar sobre as regras nacionais, em particular o chamado travão à dívida, sendo que a orientação macroeconómica deverá depender também do resultado das eleições marcadas para 23 de fevereiro.

Do lado francês, o economista também ressalva que "importa distinguir esta situação com a crise da dívida soberana", já que o 'spread' da dívida soberana francesa "continua pouco acima por exemplo do espanhol e abaixo do italiano, e não é expectável que se aproxime dos níveis que foram atingidos por Portugal e outras economias sobre pressão durante a crise".

 

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