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Hollande: Ou a União Europeia passa a caminhar a várias velocidades ou "explode" 

O presidente francês recebe esta tarde, em Versalhes, os líderes de Alemanha, Itália e Espanha para articular posições em véspera da cimeira de Roma que celebrará, em 25 de Março, os 60 anos do tratado fundador da União Europeia e da qual sairá uma declaração sobre o futuro do projecto europeu.

Hannibal Hanschke / Reuters
06 de Março de 2017 às 14:16
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Uma Europa a várias velocidades, onde alguns países se integram mais do que outros, é um caminho necessário para evitar que o bloco "exploda". Quem o defende é o presidente francês. François Hollande, que recebe esta tarde, em Versalhes, os líderes de Alemanha, Itália e Espanha para articular posições em véspera da cimeira de Roma que celebrará, em 25 de Março, os 60 anos do Tratado fundador da União Europeu e da qual sairá uma declaração sobre o futuro do projecto europeu, que está em vias de perder o seu primeiro Estado-membro, o Reino Unido.


"Há muito tempo que esta ideia de uma Europa diferenciada, com diferentes velocidades e ritmos distintos na integração, provoca muita resistência, mas hoje esta ideia é necessária, caso contrário a Europa explode", afirmou em entrevista colectiva a seis jornais europeus, entre os quais o Le Monde e o The Guardian.


No futuro, "deverá ser possível, para os Estados membros que quiserem, avançar na defesa, na harmonização fiscal, na investigação, na cultura, na juventude. Temos de imaginar graus distintos de integração", defendeu Hollande, que quer ainda que a Zona Euro possa aprofundar-se e ter um orçamento próprio, não tendo ficado claro se admite diferentes velocidades dentro da moeda única.


Sobre se tenciona candidatar-se a um alto cargo europeu, Hollande não respondeu, dizendo que até Maio será presidente de França. A propósito das eleições, admitiu que a extrema-direita nunca esteve tão forte, mas disse não acreditar na vitória de Marine Le Pen, líder da Frente Nacional.


A visão de Hollande para a Europa coincide com um dos cinco cenários sobre o futuro da União sugeridos na semana passada pela Comissão Europeia. Na terceira hipótese elencada por Jean-Claude Juncker, a UE evoluiria a várias velocidades e com aprofundamentos de políticas específicas, como a de defesa, por exemplo, entre os Estados-membros que o desejem. Na prática, isso significaria permitir a generalização do modelo das "cooperações reforçadas" que está por detrás do euro ou de Schengen. Contudo, Juncker torceu forte o nariz a esta opção. "A Europa seria ainda mais ininteligível do que é hoje. Mas este tipo de vanguarda, de coligações de países que querem fazer coisas juntos, não pode ser descartada", argumentou então.

 

Recorde-se que em Julho de 2015, no rescaldo da crise grega, no qual a França teve um papel activo no desenho das propostas que foram aceites por Alexis Tsipras e que frearam o cenário de ‘Grexit’, François Hollande lançou o repto para que uma "vanguarda" de países leve a Zona Euro a dar um salto em frente na integração das suas políticas económicas, defendendo que esse processo deve ser gerido por um "governo", apoiado por um "orçamento específico" e controlado democraticamente por um "parlamento" próprio. 

 

Publicado no "Journal du Dimanche" para assinalar o 90.º aniversário de Jacques Delors, o texto gerou surpresa e polémica, desde logo porque o presidente usou uma linguagem mais federalista do que é habitual ouvir-se em francês, parecendo aproximar-se da visão da Alemanha que tradicionalmente vê com facilidade reflectida na Europa o seu próprio modelo de governação: um Tesouro, um ministro das Finanças e um parlamento especial para o euro é o triângulo há décadas ambicionado pelo ministro alemão das Finanças, Wolgang Schäuble.

O ponto que gerou maior controvérsia nasceu, porém, da expressão "vanguarda" e da  declaração posterior do então primeiro-ministro francês Manuel Valls, que terá afirmado que esse núcleo duro deve ser composto pelos seis países fundadores da União Europeia: França, Alemanha, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda. Portugal foi um dos países que protestaram na altura face à possibilidade de se consagrarem várias velocidades dentro do euro.

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