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Ex-primeiros-ministros britânicos levantam a voz a pedir travão ao Brexit
No dia em que se confirmou o crescimento da economia britânica, em 0,5%, no terceiro trimestre deste ano, dois ex-primeiros-ministros vieram a público insistir que o Brexit ainda pode ser travado.
Primeiro foi Tony Blair, trabalhista, a dizer, numa entrevista, que o processo de saída do Reino Unido da União Europeia pode ser travado se os eleitores considerarem que a saída tem mais prejuízos do que benefícios. Blair comparou o Brexit a um acordo de troca de uma casa, sem se ter visto o novo imóvel.
"Pode ser travado se o povo britânico decidir que, tendo visto o que vai significar, concluírem que o custo é maior que o benefício", declarou Tony Blair ao New Statesman. Blair foi primeiro-ministro de 1997 a 2007. Acrescentou que "não estou a dizer que vai ser travado, mas poderia sê-lo", disse, ao mesmo tempo que declarou não planear o regresso à política britânica. O ex-primeiro-ministro não tem níveis de popularidade bons, devido, em particular, à sua decisão de entrar na invasão ao Iraque em 2003, guerra que ocasionou a morte de 179 soldados britânicos, lembra a Reuters.
Quanto à primeira-ministra Theresa May, Blair diz que é "muito sólida", além de ser uma pessoa "sensível". E, admite, "vai entregar o Brexit. Tem de o fazer. De outro modo perderá o apoio dos fortes media de direita, que conduziria a nova corrida ao partido conservador".
Poucas horas depois destas declarações de Blair foi a vez de John Major questionar o processo de saída, dizendo haver argumentos "credíveis" para convocar um segundo referendo. O porta-voz de Downing Street, segundo o The Guardian, já afastou a possibilidade de se avançar com um segundo referendo.
Num jantar privado em Westminster, citado pela imprensa britânica e pela Reuters, Major terá declarado que a saída da União Europeia não pode ser ditada pela "tirania de uma maioria", segundo o The Times, citado pela Reuters. Segundo o The Guardian, Major acrescentou que essa tirania não pode ser imposta aos 48% que votaram pela permanência. A opinião destes eleitores deve ser ouvida no debate sobre como o Reino Unido deve sair da União, acrescentou.
Para o ex-primeiro-ministro conservador (foi de 1990 a 1997), deve ser o Parlamento, e não o Governo, a tomar a decisão final sobre o novo acordo com a União Europeia.
O tribunal decidiu que o parlamento britânico terá de aprovar o accionamento do artigo 50.º do Tratado de Lisboa, que dá início ao processo de saída. Mas Theresa May ainda aguarda a decisão do recurso.
Estas tomadas de posição de ex-chefes do Governo seguem-se às previsões do organismo orçamental que cortou as projecções para o crescimento britânico do próximo ano. O organismo foi mesmo criticado, quarta-feira, pelos pró-Brexit que o consideraram demasiado pessimista. Mas foi o ministro das Finanças, Philip Hammond, que colocou água na fervura, dizendo que é bom estar-se preparado para forte chuva.
Para esta unidade independente orçamental, o Brexit representará no próximo ano menor crescimento, tendo mesmo declarado que produzir projecções era difícil uma vez que não tinha informação sobre os planos negociais com a União Europeia. Os apoiantes da saída da União aproveitaram, mesmo, para se manifestar em frente ao Parlamento britânico, nessa quarta-feira, exigindo o avanço do Brexit.