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Brexit: Conservadores fazem primeira votação
Os cinco candidatos à liderança do Partido Conservador, no Reino Unido, ficam esta terça-feira, 5 de Julho, reduzidos a quatro. Mas o último episódio só irá para o ar a 9 de Setembro.
O referendo de 23 de Junho no Reino Unido que decidiu a saída do país da União Europeia fez como primeira vítima o Partido Conservador, com a resignação de David Cameron. O ainda primeiro-ministro prometeu o referendo e cumpriu, mas saiu dele com uma derrota pesada. Foi o principal rosto da campanha pela permanência ("Remain") e perdeu.
Ainda assim, também os dois mais fervorosos adeptos do Brexit – Boris Johnson do Partido Conservador e Nigel Farage do UKIP – saíram, para já, da cena política. Boris Johnson não se candidatando ao cargo de primeiro-ministro, Farage demitindo-se da liderança do partido eurocéptico. Farage deixa mais um partido sem liderança. Estando ainda a ser contestada a liderança do Partido Trabalhista, com os deputados a pedirem a cabeça de Jeremy Corbyn, eleito há cerca de um ano para o Labour.
Para já a luta mais acesa é a que está a ser travada no Partido Conservador. São cinco os candidatos assumidos e que hoje, terça-feira, 5 de Julho, têm a primeira prova. Há esta terça-feira uma primeira votação, na qual o menos votado sairá da disputa. Ficarão quatro, cujos nomes serão também votados a 7 de Julho e a 12 de Julho, dia em que ficarão os dois candidatos que disputarão as eleições em Setembro. Nessa altura serão 150 mil militantes (que já fossem membros quando as eleições foram marcadas ou que sejam membros há três meses até às eleições) a depositar o seu voto. Quem receber mais de 50% dos votos ganhará o acto a 9 de Setembro.
Os candidatos:
Stephen Crabb, 43 anos, apoiou o Remain
Criado por mãe solteira no País de Gales, Crabb foi educado em escolas públicas e, segundo a Reuters, pagou todo o seu percurso universitário trabalhando na construção. É referido como tendo as suas raízes na classe operária, o que, aliás, enfatiza sempre que pode. Foi eleito para o parlamento britânico em 2005, depois de trabalhar como consultor de marketing.
Está há três meses à frente da pasta do trabalho e pensões, tendo antes sido o ministro para Gales. Crabb diz que o tempo, agora, deve ser usado para reunir um Reino desunido, antes mesmo de se invocar o artigo 50.º do Tratado de Lisboa. Para ele, já declarou, o controlo da imigração é uma linha vermelha, já que foi nisso que muitos britânicos pensaram quando votaram. Não haverá segundo referendo, assegurou.
Liam Fox, 54 anos, apoiou o Leave
Da ala da direita do partido, Fox nasceu na Escócia, onde o Remain ganhou. Mas Fox foi apologista do Leave. Estudou medicina na Universidade de Glasgow, tendo exercido medicina até 1992 quando foi para o Parlamento britânico.
Foi ministro da Defesa entre 2010 e 2011, cargo do qual saiu por alegada conduta imprópria, com conflito de interesses entre o cargo público e relacionamentos pessoais, ao ter tornado um amigo seu conselheiro. "Não penso existir espaço para ser um membro do mercado único, se isso significar livre circulação de pessoas".
Michael Gove, 48 anos, apoiante do Brexit
Esteve lado-a-lado com Boris Johnson na campanha pelo Leave, mas passou-lhe a perna assim que a liderança do Partido Conservador ficou aberta. Foi dos primeiros a assumir essa candidatura, mesmo antes de Johnson. Michael Gove é ministro da Justiça. Cresceu na Escócia e estudou em Oxford, antes de se tornar jornalista. Trabalhou na BBC e no jornal Times.
Foi David Cameron que o trouxe para a política. E na conferência de imprensa, pós-referendo, foi mesmo o último a falar, para dizer que defendia negociações informais com a União Europeia antes de se accionar o artigo 50.º. Michael Gove, na casa de apostas, surge em terceiro lugar como candidato à liderança dos tories. Sempre disse,até ao último minuto, que não seria candidato. Depois, foi uma cedência pelo próprio partido: "Não tenho glamour ou carisma", admitiu a 1 de Julho. Depois também assumiu que deveria ser um "leaver" a assumir os comandos do país. E alguém com experiência de negociações, disse.
Andrea Leadsom, 53 anos, apoiante do Leave
É a segunda na casa das apostas. Leadsom estudou ciência política em Warwich, antes de trabalhar na banca e sistema financeiro durante 25 anos, tendo inclusive trabalhado no Barclays ou na Invesco Perpetual. Também em 1995 ajudou, segundo a Reuters, como conselheira, o governador do banco de Inglaterra, Eddie George, a prevenir que houvesse uma corrida aos depósitos quando o Barings faliu. Foi eleita para o Parlamento em 2010.
Foi ministra da Energia, um cargo que os jornais britânicos caracterizam como pouco visível. "O Reino Unido pode ser muito melhor no mundo", declarou no seguimento do referendo. Já como candidata diz ser urgente accionar o artigo 50.º, para evitar incerteza, mas acredita que é do interesse dos países da União Europeia fazerem um acordo comercial, sem tarifas alfandegárias, com o Reino Unido, mesmo sem que este país autorize a livre circulação de pessoas. Já fez saber também que irá garantir os direitos dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido.
Theresa May, 59 anos, apoiante do Remain
É para já a candidata que parece mais destacada na corrida à liderança do partido conservador. Licenciada em Oxford, começou a sua carreira no Banco de Inglaterra. Entrou no Parlamento em 1997 e em 2002 tornou-se a primeira presidente não executiva do partido, onde ganhou reputação, segundo a Reuters, de reformista quando declarou que os conservadores tinham de deixar de ser um partido desagradável. Tem desempenhado o cargo de ministra do Interior, um cargo criticado. Nesse cargo confrontou-se com o ex-mayor de Londres, Boris Johnson. Mas não conseguiu, conforme tinha sido prometido, limitar a entrada de migrantes a 100 mil ao ano.
Apoiou o "Remain", mas de forma discreta, segundo alguns. A própria lembrou que tinha feito campanha, por exemplo, na Irlanda do Norte, onde ganhou o "Remain". Mas na conferência onde apresentou a candidatura não deixou dúvidas: "Brexit significa Brexit". Não há volta a dar, mas diz que antes de accionar o artigo 50.º o país tem de ter uma posição negocial clara. Não há, por isso, pressa.