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Obama e Merkel desaconselham Cameron a fazer referendo sobre Europa

Primeiro foi um responsável da Administração norte-americana; agora um aliado próximo da chanceler alemã. O aviso é idêntico: Londres perderá influência se sair da União Europeia e criará mais um foco de perturbação para a economia global.

10 de Janeiro de 2013 às 18:16
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A eventualidade de o primeiro-ministro britânico renegociar o estatuto do Reino Unido no seio da União Europeia (UE) e de convocar um referendo para o ratificar foi recebida com cepticismo quer em Washington – capital do mais forte aliado britânico no mundo – quer em Berlim, capital do maior e mais influente país da UE.

 

“Temos um relacionamento crescente com a UE enquanto instituição que tem, por seu turno, uma voz cada vez forte no mundo, e queremos ouvir uma voz forte britânica dentro da UE", afirmou ontem Philip Gordon, número dois no Departamento de Estado responsável pelas relações com a Europa.

 

O responsável da Administração Obama advertiu o Reino Unido contra a possibilidade de ser marginalizado, avisando ainda que referendos “muitas vezes voltam os países para si mesmos” e que é do interesse dos Estados Unidos ter um Reino Unido “virado para o exterior”.

 

Por sua parte, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, disse que julga ser do interesse do Reino Unido não só permanecer como membro, mas como um membro “muito activo e pleno” da UE onde é uma “nação líder”.

 

Quanto à eventualidade de os Tratados serem alterados para acomodarem um eventual novo perfil de integração britânica, Van Rompuy remeteu-a para depois das eleições de 2014 para o Parlamento Europeu.

 

Já hoje, Gunther Krichbaum, um dos mais próximos aliados de Angela Merkel e presidente da comissão parlamentar de assuntos europeus, considerou que “existe certamente o risco de um referendo paralisar os esforços para uma melhor integração da Europa” e de o Reino Unido ser “isolado”. "Se o Reino Unido perder o mercado único será um desastre para a economia britânica. Se sair da UE, enfraqueceria a União e a ideia de Europa, mas também enfraqueceria a sua posição face à UE e no mundo".

 

Questionado sobre como a Alemanha responderá à ameaça do Reino Unido de que bloquear novas mudanças nos Tratados para tornar o euro mais forte se não obtiver as concessões que pretende (como sucedeu há um ano, com o Tratado Orçamental) Krichbaum respondeu que “não se pode criar um futuro político comum com base em chantagens entre Estados”.

 

Falando em Londres, onde se encontra a chefiar uma delegação do Bundestag, o responsável salientou que “uma Europa estável é do interesse de todos”.  Krichbaum questionou ainda a capacidade de Cameron controlar os termos de um referendo. “É certamente possível para convencer as pessoas das vantagens da UE, mas há sempre o risco de que o referendo incida – como Charles de Gaulle o diria – menos sobre a pergunta e mais sobre a pessoa que o convoca”.

 

David Cameron, primeiro-ministro britânico, confirmou na quarta-feira na Câmara dos Comuns que quer manter o Reino Unido "envolvido no mercado único" e como membro “activo” na UE. Mas disse também que, devido às alterações em curso no modelo de governação da Zona Euro no sentido de uma maior integração, julga necessário negociar um novo acordo com a UE e, em seguida, realizar um referendo sobre o resultado dessa negociação, no âmbito da qual Londres quererá muito provavelmente recuperar alguns poderes transferidos para Bruxelas.

 

Hoje, num invulgarmente longo editorial, o "Financial Times" defende a realização de um referendo, mas no quadro de um debate informado e que vise manter, no essencial, o relacionamento existente. “Este jornal sempre defendeu a adesão do Reino Unido à UE, e continuamos a acreditar que tal é central para o interesse nacional”, não apenas por razões económicas, mas porque “ajuda a manter a relação especial com os EUA” e “amplia influência num mundo onde o poder económico se está a deslocar para Leste”.

 

Contudo, prossegue o "Financial Times", as reformas antecipadas para reforçar o projecto da moeda única, como a união bancária e a criação de um orçamento separado para a Zona Euro, “vão mudar ainda mais, e profunda e irrevogavelmente, a UE”. “Vão criar um núcleo novo, totalmente integrado, ao qual o Reino Unido pode nunca querer aderir”. É nesse contexto que o Reino Unido deve negociar, mas sem fazer “ameaças” nem cair na “fantasia” de querer ser uma Suíça ou Noruega, conclui.

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