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Moscovo garante que um dos pilotos foi resgatado com vida
O Kremlin garante que um dos dois pilotos que se ejectaram do avião russo abatido pela força aérea turca foi resgatado "vivo e de boa saúde". Moscovo e Ancara mantém acusações e versões díspares sobre o sucedido.
Possivelmente para acabar com as especulações em torno do destino dos dois pilotos – piloto e co-piloto – que se ejectaram do avião russo Sukhoi Su-24 quando este foi atingido, na última terça-feira, pela força aérea turca, o Kremlin anunciou esta quarta-feira, 25 de Novembro, que um dos pilotos foi resgatado "vivo e de boa saúde".
"A operação foi concluída com sucesso. O piloto chegou à nossa base [aérea síria] vivo e de boa saúde", adiantou o ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu.
Contudo, a operação de resgate feita pelas forças especiais russas, e que se prolongou durante 12 horas, não impediu a morte do co-piloto do avião russo, cujo corpo permanece em parte incerta, nem de um militar que participou no salvamento do piloto do Su-24 .
De acordo com uma agência russa, citada pelo Guardian, o co-piloto terá sido atingido e morto pouco depois de accionar o para-quedas e atingido por tiros disparados por turcomenos sírios.
Ainda de acordo com aquela agência (LifeNews), o co-piloto terá depois sido encontrado por um grupo de forças especiais sírias em que estariam ainda incluídos elementos do Hezbollah, partido libanês xiita que tem forças a combater, na Síria, do lado das forças fiéis ao presidente sírio, Bashar al-Assad. O presidente russo, Vladimir Putin, já disse que os três militares russos vão receber as mais elevadas honras militares, dois deles a título póstumo.
Mantêm-se as versões díspares
Esta quarta-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, insistiu na garantia de que o avião militar russo abatido estava a violar o espaço aéreo turco (durante 17 segundos), mantendo a violação após repetidos avisos. Já a Rússia afiança que o avião militar russo estava a sobrevoar território sírio, rejeitando que este tenha representado qualquer ameaça para Ancara.
Desde que no final de Setembro a Rússia, correspondendo a um pedido expressamente feito por Assad, começou a bombardear os inimigos do presidente sírio, por várias vezes a Turquia acusou Moscovo de ter violado o seu espaço aéreo.
Desta feita Ancara invocou o direito de "defesa do seu próprio território", uma argumentação que mereceu a anuência da NATO e dos Estados Unidos, garantindo ainda que as movimentações militares russas estavam a representar uma ameaça para as forças turcomenas sírias (na zona noroeste da Síria, junto à fronteira com a Turquia) que também integram a facção anti-Assad. Erdogan destacou também a necessidade de defesa dos "direitos dos nossos irmãos".
Por outro lado, a Rússia que ontem, pela voz de Putin, acusou a Turquia de ser "cúmplice do terrorismo" protagonizado pelo autoproclamado Estado Islâmico (EI), esta quarta-feira garantiu que Ancara está a proteger o EI em nome de "interesses financeiros". O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, considera que a Turquia está a beneficiar do petróleo proveniente das zonas controladas pelo EI no norte da Síria e no Iraque. Moscovo tenta assim estabelecer uma relação de proximidade ou, no mínimo, de comunhão de interesses, entre a Turquia, de maioria sunita, e aquela organização extremista que se revê na ala fundamentalista sunita, designada de salafismo. Já a Rússia defende a continuidade de Assad, um tradicional aliado russo na região, no poder.
Além de que para Medvedev os "actos criminosos" da Turquia provam que o país está a proteger o Estado Islâmico devido a "interesses financeiros directos de alguns responsáveis turcos no fornecimento" de petróleo das refinarias controladas pelo grupo radical, avança a agência noticiosa Interfax. Apesar dos receios relativos a uma eventual retaliação militar por parte da Rússia, os especialistas consultados pelo Negócios colocam de parte tal possibilidade e garantem que a resposta russa deverá incidir em penalizações de âmbito económico.