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Ministro alemão das Finanças quer avançar para a liderança do SPD
Segundo avança a Der Spiegel, Olaf Scholz mostrou-se disponível para se candidatar à liderança dos sociais-democratas alemães, partido que conta atualmente com três líderes interinos.
Olaf Scholz é hoje o nome mais forte do SPD e está disponível para se candidatar a secretário-geral dos sociais-democratas alemães.
A Der Spiegel escreve que, na passada segunda-feira, durante uma chamada por vídeoconferência com os atuais três líderes interinos do SPD, Scholz revelou estar aberto a concorrer à liderança dos sociais-democratas se aqueles nada tiverem a opor.
"Estou disposto a concorrer se vocês quiserem", cita a revista germânica. Esta é uma mudança na posição inicialmente assumida pelo responsável pelas Finanças germânicas na sequência do anúncio da demissão de Andrea Nahles, que então preferiu afastar qualquer possibilidade de se candidatar ao cargo.
No início de junho, a direção do SPD nomeou três personalidades para liderarem o partido durante a fase de transição do até ao congresso que determinará a escolha da nova liderança. A realização do congresso está prevista para entre 14 de outubro e 8 de dezembro.
Manuela Schwesig, ministra-presidente do Estado-federado de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental, Malu Dreyer, chefe do governo federal do Estado Renânia-Palatinado, e o líder do SPD no parlamento de Hesse, Thorsten Schäfer-Gümbel, assumiram a liderança interina depois da demissão de Nahles.
A agora ex-secretária-geral do SPD esteve pouco mais de um ano à frente dos destinos de um partido em erosão eleitoral. Depois de nas eleições federais de 2017 terem registado o pior resultado de sempre desde a Segunda Guerra com Martin Schulz ao comando, os sociais-democratas, já com Nahles, não foram além dos 15,5% nas europeias de 26 de maio, caindo assim para terceira força, atrás dos Verdes.
Apesar de cerca de 70 anos em que o SPD dividiu com a aliança democrata-cristã (CDU-CSU) a hegemonia na política alemã, o partido tem vindo a perder força a cada eleição.
A participação em três dos quatro governos da chanceler Angela Merkel (CDU) enquanto partido júnior contribuiu para uma indiferenciação entre o centro-esquerda e o centro-direita que tem penalizado ambos os partidos nas urnas, embora de forma mais acentuada no caso do SPD, desde logo pela menor capacidade para determinar o programa e agenda do governo.
A entrada do SPD no atual governo só aconteceu depois de fracassada a tentativa de Merkel se coligar aos Verdes e aos liberais (FDP). Perante a falta de alternativas para formar um governo com apoio maioritário no Bundestag (parlamento alemão) mais polarizado de sempre, o então líder deu o dito por não dito e acabou por aceitar reeditar a chamada "grande coligação" (Groko).
Schulz considerava que os sociais-democratas deviam assumir a liderança da oposição para se constituir como verdadeira alternativa política aos conservadores de Merkel, porém acabou por deixar esse papel para o AfD.
As sondagens mais recentes colocam mesmo o SPD como o quarto partido alemão, não apenas atrás de conservadores (CDU-CSU) e ecologistas (Verdes), que surgem com números próximos, mas também da extrema-direita (AfD).
Ao longo dos últimos meses, no seio do SPD tem vindo a crescer o tom das críticas à participação no último governo da chanceler Merkel. A contestação subiu de tom após a escolha da chanceler para presidente da próxima Comissão Europeia, que recaiu sobre a agora ex-ministra alemã da Defesa, Ursula von der Leyen.
Um vice-chanceler sob pressão da economia
Além de tutelar as Finanças, Olaf Scholz é também o vice-chanceler do executivo alemão, pelo que o sucesso da governação será necessariamente tambem mérito seu, e vice-versa.
No entanto, o momento do motor da economia europeia não é o melhor. Entre abril e junho, a economia alemã contraiu 0,1% face ao primeiro trimestre, com o produto germânico a ser particularmente penalizado pelos constrangimentos que a disputa comercial EUA-China está a causar nas trocas comerciais, já que a quebra no setor exportador reflete-se na diminuição dos níveis da produção industrial.
Com uma nuvem negra de recessão a pairar sobre a economia mundial, uma economia tão voltada para as exportações como é o caso da alemã fica especialmente vulnerável aos efeitos de uma potencial escalada na tensão comercial promovida pela administração chefiada por Donald Trump.
No final do passado mês de julho, Olaf Shcolz afastava qualquer necessidade de adotar estímulos económicos na Alemanha em resposta à degradação da conjuntura económica devido à espiral protecionista e também à incerteza em torno do processo do Brexit, numa fase em que ganha forçla um cenário de saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo.
Contudo, já depois de serem conhecidos os números que confirmaram a retração do produto no segundo trimestre, foi a própria chanceler Merkel a assumir como real a possibilidade de implementação de medidas expansionistas, contudo só depois de avaliado o comportamento da economia alemã no terceiro trimestre.