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Mesmo sem governo, espanhóis não querem voltar aos dois grandes partidos
Espanha não tem governo há sete meses, mesmo depois de ter repetido as eleições. Tudo por causa do fim do bipartidarismo. Mas os espanhóis não se mostram arrependidos e preferem valorizar os ganhos do pluralismo.
Espanha está sem Governo há mais de sete meses. Durante esse período, os espanhóis foram chamados por duas vezes às urnas para escolherem o partido que gostariam que governasse o país. E à segunda, a 26 de Junho, depois de meio ano de tentativas infrutíferas de entendimento entre os vários partidos, os eleitores fizeram uma escolha muito parecida. O PP venceu, e embora se tenha fortalecido um pouco, ficou ainda muito longe da maioria absoluta. Seguiram-se os socialistas do PSOE e logo depois a esquerda radical do Podemos, desta feita unidos aos comunistas da Esquerda Unida. A direita liberal representada pelo Cidadãos repetiu o quarto lugar.
A razão para este impasse é evidente: o aparecimento de dois novos partidos, Podemos e Cidadãos, veio acabar com o resiliente bipartidarismo que há décadas dividia o poder central em Espanha entre os conservadores do PP e os socialistas do PSOE. Agora, o partido mais votado não consegue mais do que um terço dos votos. E há mais três partidos com mais de 13% dos votos, dois dos quais reunem, cada um, a preferência de 22% dos eleitores.
Pode haver quem pense que a incerteza e instabilidade política estarão a deixar os espanhóis com saudades do bipartidarismo. Nada mais errado. Segundo uma sondagem da Metroscopia publicada este domingo pelo diário El Pais, 61% dos espanhóis diz que "o melhor é que existam vários partidos de dimensão similar pois isso aumenta o pluralismo". Pelo contrário, só 36% é que prefere "que haja dois grandes partidos porque torna mais fácil a formação de governo".
Porém, estas opiniões estão muito relacionadas com aspectos geracionais. Segundo explica o jornal, a partir dos resultados da mesma sondagem, são os jovens com qualificações médias e altas e, na sua maioria, votantes no Podemos e no Cidadãos que preferem a existência de mais do que dois partidos fortes. Ao invés, são sobretudo eleitores mais velhos e votantes no PP que mostram preferência pela existência de apenas dois grandes partidos.
O reforço do pluripartidarismo não é um fenómeno exclusivo de Espanha, estando a ganhar força em muitos países europeus. Mesmo em Portugal, onde ainda assim existem dois partidos – PS e PSD – que se destacam claramente na distribuição de votos, nota-se nos últimos anos uma maior dispersão do eleitorado. Nas últimas eleições legislativas, em 2015, o partido vencedor, o PSD, ficou-se pelos 38%. O PS, que governa neste momento, teve 32% dos votos, enquanto Bloco de Esquerda e PCP conseguiram ficar acima da fasquia dos 8%, tornando-se imprescindíveis para a governação socialista.