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Embaixador russo na Turquia assassinado
O embaixador russo em Ancara, Andrey Karlov, morreu após um ataque a tiro durante a inauguração de uma exposição. O incidente surge num momento de tensão a propósito da acção russa na Síria.
O incidente surge num momento de tensão a propósito da acção russa na Síria. O ataque, perpetrado em Ancara, foi inicialmente confirmado pelo ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, que adiantou que o embaixador Karlov ficou gravemente ferido. O embaixador acabou por não resistir aos ferimentos, tendo morrido minutos depois do ataque, confirmou mais tarde o Governo russo. A porta-voz do Ministério dos Estrangeiros russo, Maria Zakharova, já revelou que o Kremlin considera que este evento representa um "ataque terrorista".
O incidente de que foi alvo o embaixador russo e que terá causado, pelo menos, mais três feridos após o disparo de um total de pelo menos oito tiros, aconteceu durante a inauguração de uma exposição intitulada de "A Rússia através de olhos turcos". Karlov iniciou a carreira diplomática em 1976, tendo passado mais de 30 anos na Coreia do Norte. Foi tranferido em 2007 para Ancara, ascendendo ao cargo de embaixador na Turquia em 2013.
A agência noticiosa russa RIA Novosti refere que o embaixador russo estava a fazer um discurso aquando do ataque e que, imediatamente antes do mesmo, terão sido ouvidos gritos em que era dito "Deus [Alá] seja louvado". A televisão turca adianta que o autor do ataque já terá sido eliminado pela polícia turca. Já a agência turca Anadolu, citada pela Reuters, refere que o autor do ataque foi "neutralizado". A Reuters nota que o presidente russo Vladimir Putin está a analisar informações sobre o incidente.Çatisma alaninda mahsur kalan isçiler BirGün' konustu https://t.co/MgWIbToBmJ pic.twitter.com/ek6xYKcmrn
— BirGün Gazetesi (@BirGun_Gazetesi) 19 de dezembro de 2016
O presidente do Comité de Relações Internacionais do Parlamento russo, Leonid Slutsky, já veio garantir que as relações entre os dois países não serão afectadas pelo acontecimento desta segunda-feira. Também já surgiram na comunicação social garantias de que os presidente russo e turco, Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan, respectivamente, já conversaram ao telefone sobre o sucedido.
O presumido autor do ataque estava na cerimónia inaugural, vestido de fato e gravata, tendo, alegadamente, entrado na galeria garantindo ser um elemento das forças de autoridade, algo que fonte das forças de segurança confirmou à Reuters. O homem em causa chamar-se-á Mert Altintas, tem 22 anos de idade e integrou as forças de segurança turcas em 2014, estando destacado esta segunda-feira para prestar segurança ao embaixador russo.#pts: Images show #Russia’s Ambassador to #Turkey, Andrey Karlov (left) and his assassin (right) just before the attack in #Ankara: pic.twitter.com/H6XxhiCgYo
— Charles Lister (@Charles_Lister) 19 de dezembro de 2016
Além da referência a Alá já citada, o autor do ataque terá ainda feito referência às situações vividas na Síria, e em Aleppo. Aparentemente, Ancara e Moscovo estavam a cooperar nas negociações relacionadas com a imposição de cessar-fogo na cidade síria.
Nesta altura é ainda cedo para concluir acerca dos motivos que estiveram por detrás deste ataque, não se sabendo ainda sequer se o autor do ataque é um "lobo solitário", se foi apoiado por um grupo, e qual grupo. É que são inúmeras as organizações extremistas islâmicas que operam em território sírio.
Isto num momento em que o regime sírio do presidente Bashar al-Assad já recuperou praticamente o controlo total sobre a cidade de Aleppo, um dos últimos bastiões das forças extremistas sunitas na Síria. Assad contou com o apoio militar aéreo russo e ainda com a cooperação, no terreno, de forças militares do Irão e do Líbano (Hezbollah). Certo parece ser o facto de se tratar de um assassinato político.
Relações turco-russas outra vez em causa?
Depois de anos em que as relações bilaterais entre Ancara e Moscovo foram marcadas por uma pouco habitual convergência no que diz respeito a questões internacionais, a rivalidade que durante séculos marcou as relações entre os dois Estados voltou a ficar bem vincada em Novembro do ano passado.
Se o pano de fundo das mais recentes divergências entre os dois países está relacionado com a situação na Síria, a desencadear o resfriar das relações bilaterais esteve o derrube de um avião militar russo por parte do exército turco, em Novembro de 2015. A resposta russa não tardou, com Moscovo a aplicar um conjunto de sanções económicas a Ancara, designadamente penalizações direccionadas aos sectores turístico e agrícola da Turquia.
Já no Verão deste ano as relações foram normalizadas depois de o presidente Erdogan ter pedido formalmente desculpa a Moscovo pelo incidente. Pouco depois, em Julho, aquando do golpe de Estado falhado na Turquia, o presidente Putin foi dos primeiros a mostrar solidariedade em relação ao regime de Erdogan.
Putin e Erdogan assinalaram o restabelecer de relações normalizadas em Agosto, com o presidente turco a apontar mesmo a abertura de um novo capítulo nas relações turco-russas, mostrando disponibilidade para agilizar a construção do projecto Turquish Stream, através do qual a Rússia pretende exportar gás natural para a Europa Central e do Sul.
Já relativamente à questão síria, os dois países mantêm profundas divergências. Se Moscovo tem no regime do alauita Assad o principal aliado no Médio Oriente e está, desde Setembro de 2015, a combater com recurso a meio aéreos junto das forças leais a Damasco, o regime de Ancara é favorável aos rebeldes sunitas que combatem o presidente sírio. Nesta altura é cada vez mais um dado adquirido de que, independentemente da configuração final do pós-guerra na Síria, o país continuará a ser governado por Assad. Putin terá mais razões para sorrir do que Erdogan.
(Notícia actualizada às 18:15)