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Merkel pede "solidariedade" para evitar o regresso de "nacionalismos e egoísmos" à Europa

A chanceler alemã discursou no Parlamento Europeu sobre o futuro da Europa e definiu como principal premissa para os próximos tempos a recuperação do espírito do solidário que está na génese do projecto de integração europeia.

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Merkel pede 'solidariedade' para evitar o regresso de 'nacionalismos e egoísmos' à Europa
13 de Novembro de 2018 às 14:00
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"Os nacionalismos e egoísmos não devem voltar a prosperar na Europa", proclamou Angela Merkel num discurso marcadamente europeísta em que a chanceler germânica reiterou a necessidade de evitar nacionalismos que possam colocar em causa o projecto de integração europeia. 

Defendendo a importância de recuperar a "tolerância e solidariedade" como predicados fundamentais da União Europeia, Angela Merkel, que falava esta terça-feira, 13 de Novembro, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, defendeu que a Europa vive um momento decisivo que exige decisões no sentido de maior cooperação e integração, pelo que "não devemos desperdiçar esta oportunidade". 

"É a nossa responsabilidade para com as gerações passadas e as gerações vindouras", disse a chanceler alemã. 

A intervenção da chanceler foi acompanhada de aplausos regulares dos eurodeputados europeístas, mas houve também apupos a pautar o discurso vindos das bancadas eurocépticas. Este clima de divisão reflecte o momento que a União Europeia vive, isto a cerca de meio ano das eleições europeias que deverão determinar o reforço das forças que querem corroer por dentro o projecto europeu. 

Nesse sentido, e consciente das principais divisões que persistem na Europa - divisão norte-sul em questões relacionadas com a Zona Euro ou leste-oeste em temas como a imigração -, Merkel reconhece ser "cada vez mais difícil defender os nossos interesses" para concluir que "mais do que nunca temos de nos preocupar com os interesses de todos". Numa fase em que os interesses nacionais se têm vindo a sobrepor ao interesse geral, a chanceler reitera que a solução passa pela primazia da "tolerância e da solidariedade", determinantes para salvaguardar "o nosso futuro comum". 


"Ao servir os interesses dos outros é que podemos lá chegar, colocando-os em pé de igualdade com os nossos próprios interesses. Sem solidariedade não existe Europa (...) A solidariedade é um valor central do ADN europeu", prosseguiu dando como exemplo bem-sucedido deste apoio mútuo os "pacotes de resgastes" concedidos aos países-membros em dificuldade na sequência da crise das dívidas soberanas. 

A líder alemã endereçou os principais desafios com que a Europa se depara, das ameaças às regras do Estado de Direito em países como a Polónia e a Hungria ao reforço do nacionalismo, uma tendência não apenas circunscrita à Europa Central, passando pela inexistência de uma voz única europeia ao nível das relações internacionais. "A Europa só pode funcionar se for uma comunidade de direito (...) "A UE só pode ter influência externa se falar em uníssono". 

Completar a união económica e monetária

A governante germânica identificou ainda "três áreas essenciais" que vão moldar o futuro da Europa e que exigem maior integração. O primeiro diz respeito à Política Externa e de Segurança da União, porque "os nossos interesses estão mais bem defendidos quando actuamos colectivamente". Recordou também que o novo papel assumido pelos Estados Unidos de Donald Trump faz com que a Europa precise de alcançar uma "maior capacidade de actuação no longo prazo".

Para o conseguir, Merkel disse já ter proposto a criação de um Conselho Europeu de Defesa com presidência rotativa e defendeu que é preciso "criar tropas europeias" para forjar "um exército europeu", numa clara aproximação à vontade do presidente francês, Emmanuel Macron. Não seria um exército "contra a NATO, mas complementar", elucidou perante alguns apupos no plenário. "Seria muito mais fácil cooperarmos se em vez de vários exércitos tivéssemos apenas um." Propôs ainda uma "política comum de exportação de armas". 

Em segundo lugar insistiu na necessidade de finalizar a união económica e monetária porque "só assim podemos ter uma Europa estável". Nesta área, Merkel recordou o acordo firmado com a França de Macron que propõe a conversão do Mecanismo Europeu de Estabilidade num Fundo Monetário Europeu, sustentou ser preciso finalizar a união bancária e "trabalhar na criação de um orçamento na Zona Euro".

Por fim, destacou a "migração" como a terceira e última área crucial para o futuro europeu. Admitindo a ausência de "sintonia" que desejaria nesta questão, Merkel realçou alguns dos avanços conseguidos, designadamente na protecção comum das fronteiras externas, para pedir aos Estados-membros que prescindam de alguma soberania para o bem-comum. "Devemos abrir mão de um pouco de competência nacional para o bem de todos", atirou, suscitando novos apupos. 

"Nem todos os problemas da Europa devem ser resolvidos pela Europa. Solidariedade significa reciprocidade. Estou convencida de que a Europa é a nossa melhor oportunidade para a prosperidade", concluiu num discurso em que o saldo global entre vaias e aplausos lhe foi claramente favorável. 

Apesar do momento de fragilidade interna e poucas semanas depois de anunciar que não se recandidata à liderança da CDU no congresso de Dezembro, Merkel saiu de Estrasburgo como o estatuto reforçado de líder da Europa.  


(Notícia actualizada às 15:20)

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