O Reino Unido mantém-se como um dos principais parceiros comerciais de Portugal, mas há um antes e depois do Brexit. A saída da União Europeia, que coincidiu com a pandemia da covid-19, levou a uma queda nas exportações e importações portuguesas para “terras de Sua Majestade” – a partir deste sábado Carlos II – e, apesar de haver já uma ligeira recuperação nas exportações, as importações continuam ainda abaixo dos valores de 2019.
Segundo os dados do Banco de Portugal (BdP), a balança comercial entre os dois países tem sido positiva para Portugal desde o início do século. Quer isto dizer que Portugal exporta mais bens e serviços para o Reino Unido do que aqueles que importa. Em 2020, o ano da saída do Reino Unido da UE – que aconteceu a 31 de janeiro –, o saldo da balança comercial foi de 2,9 mil milhões de euros. Três anos depois, o valor mais do que duplicou: 7,5 mil milhões.
Essa melhoria no saldo comercial traduz uma forte recuperação nas exportações no pós-Brexit e pós-pandemia. Desde 2009, as exportações de bens e serviços para o Reino Unido começaram a acelerar, tendo alcançado um recorde de 9,6 mil milhões de euros em 2019, mas a saída da UE e a pandemia fizeram com que as exportações caíssem para 6,5 mil milhões em 2020. Porém, em 2022, as vendas a Londres conseguiram superar os valores de 2019 e ultrapassar a fasquia dos 10 mil milhões. Esse crescimento verificou-se no turismo, fornecimentos industriais, material de transporte e bebidas e é explicado, em parte, pela inflação, que fez com que o preço das mercadorias trocadas aumentasse.
Além da forte recuperação nas exportações, a balança comercial com o Reino Unido tornou-se ainda mais excedentária nestes últimos três anos devido ao decréscimo nos bens e serviços comprados por Portugal. Embora a evolução das importações do Reino Unido tenha ziguezagueado entre avanços e recuos nas últimas duas décadas, 2019 foi o ano em que Portugal mais importou bens e serviços ingleses: 4,3 mil milhões de euros. Mas, no ano passado, as importações não foram além dos 3,3 mil milhões.
No caso das importações de bens, as compras ao Reino Unido encolheram para metade após Brexit. Em fevereiro de 2020, o primeiro mês completo desde a saída do Reino Unido da UE, foram importados 208 milhões de euros em bens, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). E esse valor caiu 55% para 94,3 milhões em fevereiro deste ano, precisamente três anos após se formalizar o Brexit.
O maior abalo deu-se, no entanto, quando terminou o período de transição após Brexit, em janeiro de 2021. Nesse mês, as importações de bens do caíram 85% para 29,2 mil milhões. Esse recuo foi transversal aos diferentes produtos, incluindo máquinas, combustíveis minerais e químicos, que são dos bens mais comprados pelos aos britânicos.
Turismo pesa mais de 30% nas exportações
Quanto aos serviços, as viagens e turismo continuam a ter um peso considerável nas exportações para o Reino Unido. O BdP indica que, em 2019, Portugal faturou um recorde de 3,8 mil milhões de euros com viagens e outros serviços ligados ao turismo vendidos aos britânicos. As alterações de 2020 na circulação de pessoas devido à covid e à saída do Reino Unido da UE, fizeram esses valores recuar para um terço: 1,2 mil milhões.
Mas, no ano passado, o recorde de 2019 foi ultrapassado. Ao todo, foram vendidos aos britânicos serviços de viagens e turismo no valor de 3,3 mil milhões de euros. Isso significa que, em 2022, o turismo pesava já 30% nas exportações para o Reino Unido. Em sentido contrário, as viagens e turismo corresponderam a 321 milhões de importações do Reino Unido, menos de metade face a 2019.
À Lupa
Uma relação antiga que tem permitido vários excedentes comerciais a Portugal
Apesar do Brexit e da pandemia, as relações com o Reino Unido têm continuado a dar sucessivos excedentes comerciais a Portugal. Turismo, fornecimentos industriais e bebidas dão maiores ajudas.