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FT: Portugal está perante uma "tempestade demográfica perfeita"

A elevada taxa de desemprego jovem e a precariedade do mercado de trabalho são factores críticos que levam os jovens casais a adiarem a decisão de terem filhos, diz o Financial Times num trabalho sobre a demografia em Portugal.

Reuters
Negócios 12 de Agosto de 2015 às 23:52
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"Uma fabricante de vestuário no centro do país começou a pagar aos seus trabalhadores um bónus por terem filhos. O ‘incentivo à natalidade’, de 505 euros, que corresponde ao salário mínimo mensal que a maioria dos 330 empregados dessa empresa recebe, é uma modesta resposta local ao que Pedro Passos Coelho descreve como o maior problema de Portugal: o rápido declínio da sua população". É assim que o Financial Times começa por abordar, num trabalho sobre a demografia em Portugal, os problemas com que o país se confronta neste plano.

 

A referida empresa de confecções chama-se Goucam (Gouveia & Campos), foi criada em 1978 e é hoje uma das maiores exportadoras do concelho de Viseu e também uma importante empregadora na região, conforme referia o Negócios em Abril passado.

 

"Ninguém vai ter um filho por causa deste privilégio", comentou ao FT Ângela Castanheira, uma das administradoras do grupo. "No entanto, é um gesto incentivador que esperamos que se estenda a outras empresas e que leve o governo a confrontar um problema que está a ameaçar os nossos futuros", acrescentou.

 

A empresa atribui estes incentivos à natalidade desde Janeiro de 2015 e está também a devolver a sobretaxa de IRS aos seus trabalhadores. "Desde Janeiro deste ano, decidimos começar a realizar este incentivo [à natalidade] e apoiar com a atribuição de um salário mínimo [ao trabalhador], no mês do nascimento da criança", disse Ângela Castanheira, à agência Lusa em Maio passado.

 

Pegando neste exemplo, o jornal britânico sublinha que Portugal é o país da União Europeia mais duramente atingido por um problema demográfico que se estende a toda a Europa, numa altura em que a redução das taxas de fertilidade e o envelhecimento das populações coloca em risco o crescimento económico, bem como a atribuição de pensões e a prestação de serviços de saúde pública e cuidados na terceira idade.

 

"Esta crise que paira, descrita no editorial de um jornal como uma ‘tempestade demográfica perfeita’, resulta da conjugação da forte queda da taxa de natalidade em Portugal, da profunda recessão e da vaga de emigração que está a tornar o país, muito rapidamente, numa sociedade de famílias só com um filho", salienta o artigo do FT, aludindo a um editorial do jornal Público de 10 de Março de 2014.

 

"Os mais jovens estão a adiar cada vez mais a altura em que começam a constituir família porque é actualmente muito difícil encontrar um emprego estável – isto quando se consegue emprego – que lhes permita sair de casa dos pais e fixarem-se por conta própria", refere ao jornal britânico José Loff, um consultor estatístico com 37 anos e um filho de dois anos. 

O Financial Times lembra, neste trabalho assinado pelo seu correspondente em Lisboa, Peter Wise, que a taxa de fertilidade [número médio de crianças na população por cada mulher em idade fértil] em Portugal tem vindo a cair, tendo passado de 3 em 1970 para 1,21 em 2013. "Trata-se do nível mais baixo na Europa e, no universo dos 34 países membros da OCDE, apenas a Coreia do Sul tem uma taxa mais baixa", sublinha o jornal.

Se nada mudar, a projecção mais pessimista do Instituto Nacional de Estatística (INE) aponta para que a população de Portugal caia de 10,5 milhões de pessoas para 6,3 milhões em 2060, ao passo que o número de pessoas com idade acima dos 65 anos por cada 100 pessoas com menos de 15 anos – o chamado índice de envelhecimento – disparará de 131 para 464, o mais alto da Europa, alerta o FT. 

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