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O professor amargurado que já não se sente como tal
Alexandre Saraiva era professor de Artes Visuais há 12 anos. Agora está no desemprego e já nem sequer tem esperança de voltar a ser contratado.
Pode alguém deixar de ser o que é? Alexandre Saraiva pode. É professor há 12 anos e pela primeira vez está desempregado. "Já não me sinto professor", desabafa. "Ao fim de 12 anos e ficar desempregado.Já nem sequer tenho a esperança de voltar a ser contratado", acrescenta.
Para este professor de Artes Visuais o pior momento do mês é quando recebe o subsídio de desemprego porque "vou actualizar a caderneta e em vez de ter lá o pagamento feito pela escola, tenho lá o pagamento feito pela Segurança Social". Alexandre Saraiva sente que aos 40 anos já tem idade para ser pai, mas escolhe ser apenas professor. É que "se passar fome, sou só eu a passar fome, agora ver filhos meus a passar fome isso seria muito dramático".
Existir e sobreviver
Após oito anos de experiência profissional vive momentos de desespero, já não acredita numa vaga em Portugal. Só este ano, e fora a candidatura ao concurso nacional, já concorreu a 200 horários, não ficou com nenhum. Este docente do primeiro ciclo do ensino básico e de Educação Musical recusa-se a ter outra profissão. Foi durante o ensino secundário que decidiu ser professor para poder mudar uma pequena parte do mundo, "não me estou a ver a trabalhar numa caixa de supermercado ou num ‘call-center’, não que os considere trabalhos indignos, mas porque aí não vou fazer rigorosamente nada, vou estar apenas a existir". E acrescenta que "não investi milhares de euros na minha formação, eu e os meus pais, para agora me limitar a existir e a sobreviver."
Os 850 euros de subsídio de desemprego servem para pagar as despesas correntes, um curso de inglês e fazer um pé-de-meia para ser usado nos primeiros tempos quando estiver em Inglaterra. Vai seguir o caminho de tantos outros licenciados portugueses. "Estamos a exportar a nossa inteligência, os nossos licenciados estão a emigrar, seja lá para onde for, mas estão a emigrar", afirma. E acrescenta que "o que estamos a fazer com mais de 40 mil professores no desemprego e salas de aula sobrelotadas é a ceifar a inteligência nacional".
* Andreia Brito, Antena 1