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O professor amargurado que já não se sente como tal

Alexandre Saraiva era professor de Artes Visuais há 12 anos. Agora está no desemprego e já nem sequer tem esperança de voltar a ser contratado.

Negócios 30 de Novembro de 2012 às 00:01
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Pode alguém deixar de ser o que é? Alexandre Saraiva pode. É professor há 12 anos e pela primeira vez está desempregado. "Já não me sinto professor", desabafa. "Ao fim de 12 anos e ficar desempregado.Já nem sequer tenho a esperança de voltar a ser contratado", acrescenta.

Para este professor de Artes Visuais o pior momento do mês é quando recebe o subsídio de desemprego porque "vou actualizar a caderneta e em vez de ter lá o pagamento feito pela escola, tenho lá o pagamento feito pela Segurança Social". Alexandre Saraiva sente que aos 40 anos já tem idade para ser pai, mas escolhe ser apenas professor. É que "se passar fome, sou só eu a passar fome, agora ver filhos meus a passar fome isso seria muito dramático".

Se para Alexandre Saraiva essa escolha parece fácil, para a cunhada não. Joana Santos também é professora. Treme-lhe a voz quando fala dos planos adiados: "sou mulher, quero ser mãe, e gostava de apostar em ter uma família". Esta docente do primeiro ciclo do ensino básico recebe 492 euros de subsídio de desemprego depois de ter trabalhado 602 dias como professora. Números que revela com orgulho mas também com mágoa. "Talvez tivesse sido melhor nunca ter sido colocada porque tomei-lhe o gosto e senti que realmente é aquilo que sei fazer, e agora tiraram-me", confessa. Depois disso já foi operadora de ‘call-center’, colaboradora de loja e promotora. Agora "entrego espontaneamente currículos em várias lojas, diariamente concorro na plataforma do Ministério da Educação e vou a alguns sites de emprego para enviar currículos". Além disso está a tirar um curso de inglês porque para o ano vai para Inglaterra com o cunhado, a namorada do cunhado e com o namorado, Luís Saraiva, também ele professor, também ele desempregado.

Existir e sobreviver

Após oito anos de experiência profissional vive momentos de desespero, já não acredita numa vaga em Portugal. Só este ano, e fora a candidatura ao concurso nacional, já concorreu a 200 horários, não ficou com nenhum. Este docente do primeiro ciclo do ensino básico e de Educação Musical recusa-se a ter outra profissão. Foi durante o ensino secundário que decidiu ser professor para poder mudar uma pequena parte do mundo, "não me estou a ver a trabalhar numa caixa de supermercado ou num ‘call-center’, não que os considere trabalhos indignos, mas porque aí não vou fazer rigorosamente nada, vou estar apenas a existir". E acrescenta que "não investi milhares de euros na minha formação, eu e os meus pais, para agora me limitar a existir e a sobreviver."

Os 850 euros de subsídio de desemprego servem para pagar as despesas correntes, um curso de inglês e fazer um pé-de-meia para ser usado nos primeiros tempos quando estiver em Inglaterra. Vai seguir o caminho de tantos outros licenciados portugueses. "Estamos a exportar a nossa inteligência, os nossos licenciados estão a emigrar, seja lá para onde for, mas estão a emigrar", afirma. E acrescenta que "o que estamos a fazer com mais de 40 mil professores no desemprego e salas de aula sobrelotadas é a ceifar a inteligência nacional".

* Andreia Brito, Antena 1

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