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WikiLeaks: Sócrates e Amado autorizaram voos de repatriamento de Guantánamo

Telegramas da Embaixada dos Estados Unidos, revelados pela WikiLeaks e noticiados pelo El Pais, revelam que Sócrates e Amado autorizaram voos de repatriamento de Guantánamo.

16 de Dezembro de 2010 às 07:52
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O primeiro-ministro, José Sócrates, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, autorizaram que voos de repatriamento de prisioneiros de Guantánamo sobrevoassem o espaço aéreo português ou fizessem escala nas Lajes, segundo telegramas diplomáticos dos EUA divulgados pelo El País.

Trata-se de cinco telegramas enviados da Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa entre 2006 e 2009 que dão conta, segundo o diário espanhol, das "pressões" de Washington sobre o Governo português neste tema e da "cautela" com que o Executivo atuou para autorizar aqueles voos.

"Sócrates aceitou permitir o repatriamento, caso a caso, de combatentes inimigos a partir de Guantánamo, através da base das Lajes", nos Açores, escreve o embaixador Alfred Hoffman num telegrama remetido de Lisboa a 07 de Setembro de 2007 e citado pelo El País.

"Foi uma decisão difícil devido às críticas constantes dos órgãos de informação portugueses e de elementos da esquerda do seu próprio partido à ação do Governo na polémica dos voos da CIA", escreve ainda.

O El País é um dos cinco jornais que teve acesso antecipado aos 251 mil telegramas obtidos pelo portal WikiLeaks e tem vindo a divulgar nos últimos dias vários dos 722 telegramas desse lote que foram enviados a partir da embaixada dos EUA em Lisboa.

Os documentos divulgados pelo El País só são colocados no site WikiLeaks entre 24 e 48 horas depois.


Nos documentos hoje divulgados pelo El País, o embaixador norte-americano sublinha que a luz verde do Governo aos voos com prisioneiros de Guantánamo "nunca foi tornada pública", dando conta ainda de que o procurador-geral da República "foi obrigado a analisar uma compilação de notícias de imprensa e acusações não provadas facilitadas por um membro do Parlamento Europeu sobre as operações da CIA através de Portugal".

Outro telegrama datado de 11 de Setembro de 2007 divulgado hoje pelo jornal espanhol refere que Luís Amado também autorizou o repatriamento de prisioneiros através das Lajes, seguindo a mesma premissa de a autorização ter de ser dada "caso a caso em determinadas circunstâncias".

Este documento, refere o jornal, também acrescenta que o ministro nunca reconheceu isto publicamente.

Os telegramas hoje conhecidos dão ainda conta das fortes pressões de Washington para que Portugal desse autorização para o uso da base das Lajes, nos Açores, como ponto de trânsito para voos de repatriamento de prisioneiros de Guantánamo.

Num deles, de Setembro de 2006, o embaixador Hoffman dá conta de uma reunião com Luís Amado em que este terá dito que teria que consultar o primeiro-ministro sobre o assunto e que seria difícil convencer José Sócrates.

Amado terá destacado, segundo o diário, a vontade de Portugal cooperar desde que houvesse transparência da parte norte-americana.

Entre os documentos revelados pelo El País há ainda um telegrama de janeiro de 2007 que refere uma reunião na embaixada norte-americana em Lisboa onde participaram os socialistas José Lello e Paulo Pisco e onde alegadamente se teceram duras críticas à eurodeputada Ana Gomes, uma das pessoas que mais pressionou Portugal devido aos voos com prisioneiros de Guantánamo.

As críticas a Ana Gomes terão sido igualmente feitas ao embaixador por Jorge Roza de Oliveira, então assessor diplomático do primeiro-ministro, segundo um telegrama de Janeiro de 2007.

A embaixada considera, nesse documento, que o assessor confirmou que alguns voos com prisioneiros de Guantánamo sobrevoaram Portugal, o que a embaixada diz ser "o primeiro reconhecimento feito até agora por um funcionário do Governo português". Finalmente, entre os documentos, está um outro telegrama, remetido à secretária de Estado norte-americana Condoleeza Rice, em que Portugal é considerado um "aliado" importante dos Estados Unidos.

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