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Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega

Há vencedores e vencidos, recados à esquerda e à direita e uma novidade: a confirmação de que o futuro político de António Costa terá o respaldo do Governo português no caminho rumo a Bruxelas.

Bruno Colaço
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Sem hesitações e ainda relativamente cedo, o primeiro-ministro e líder do PSD deu a cara e assumiu prontamente a derrota nas eleições europeias. Sem rodeios, nem meias palavras.

"Quando há eleições cada força política tem os seus objetivos: os da AD é ter mais um voto de qualquer outro partido e quero assumir que não cumprimos o objetivo", reconheceu.

Já antes, à chegada ao hotel onde a AD passou a noite eleitoral, Montenegro tinha desdramatizado, vincando que não lhe passava pela cabeça demitir-se se não tivesse mais votos. "Está a insistir na mesma pergunta, isso [a demissão] não está em cima da mesa e essa pergunta não faz sentido", rematou.



No discurso em que assumiu a derrota, o líder do PSD e da AD não quis, ainda assim, deixar cair o cabeça de lista, Sebastião Bugalho, uma aposta arriscada e com forte cunho pessoal do primeiro-ministro, que todos surpreendeu quando apresentou o nome.

Dirigindo-se ao cabeça de lista, Luís Montenegro agradeceu ao candidato escolhido: "Sebastião Bugalho, disseste que estavas orgulhoso. Nós estamos orgulhosos e reconhecidos pela campanha que conseguiste fazer", considerando que a campanha da AD "foi extraordinária na defesa dos valores de sempre: da paz, dos direitos fundamentais, da prosperidade económica."

 

Os recados de Pedro Nuno e o que aí vem

A pouca distância, também num hotel da capital, o líder socialista cantava vitória depois de uma noite longa em que os dois maiores partidos estiveram taco a taco nas votações.

Pedro Nuno Santos, um dos vencedores da noite com 8 eurodeputados eleitos, mas ainda assim perdendo um lugar face a 2019, não deixou passar a oportunidade de reivindicar os ganhos, frisando o papel menor de um Governo eleito há pouco mais de três meses, mas não querendo arriscar mais do que um mero sinalizar de forças. Afinal de contas, a diferença foi de 38.500 votos.

"Esta vitória do PS e a derrota da AD não é irrelevante no plano nacional", começou por apontar, considerando que "o Governo nacionalizou esta eleição".


Os números não lhe dão margem, a divisão constante ao longo da noite demonstrou-o, o que levou o secretário-geral socialista a lembrar que "não será pelo PS que haverá instabilidade política em Portugal". "Não foi o Governo que ficou em causa nestas eleições, mas uma forma de governar."

Esta segunda-feira, Pedro Nuno Santos voltou a repetir que com as eleições europeias ficou "muito claro que os portugueses não gostaram da forma como o Governo foi lidando com o parlamento e a oposição".

 

Costa, o que mais sai destacado nas Europeias

Despido o fato de primeiro-ministro, António Costa assumiu o fato de comentador televisivo na emissão da CMTV, mas acabou por ser um dos vencedores da note.

Luís Montenegro usou-o como trunfo para desviar as atenções da derrota da AD nas Europeias e anunciou que tinha, mesmo antes de ser nomeado chefe de Governo, garantido o apoio a Costa caso este assumisse a corrida ao Conselho Europeu.

A votação deste domingo deu a vitória à família política do PPE, o que permite à coligação onde PSD e CDS se sentam liderar a Comissão Europeia. A lógica de Bruxelas abre assim portas a que a segunda força política mais votada – os socialistas do S&D – possa escolher o presidente do Conselho Europeu… E Costa está entre os preferidos entre os diversos chefes de Estado e de governo europeus.


Na CMTV, o antigo primeiro-ministro admitiu que tinha falado com Montenegro, por duas vezes, sobre o apoio para uma eventual corrida ao alto cargo da EU, reconhecendo que "nunca aceitaria ser presidente do Conselho sem o apoio do Governo". Foi um dos triunfadores, mesmo não estando diretamente em jogo, do tabuleiro político da última noite eleitoral.

A má noite do Chega e de Ventura

Esteve durante boa parte da noite eleitoral a ser apontado pelas projeções como a quarta força política nas eleições europeias em Portugal, mas lá acabou por aguentar o terceiro lugar, ficando à frente da Iniciativa Liberal. A diferença foi curta, pouco mais de 28 mil votos.

O Chega, que durante a campanha chegou a avançar que um bom resultado seria eleger seis deputados, não foi além dos dois mandatos. Mesmo tendo alcançado, pela primeira vez, a entrada no Parlamento Europeu, foi o próprio cabeça de lista António Tânger Correia a admitir que "não foi um dia bom para o Chega".

Já Ventura chamou a si os fracos números do partido nas europeias, admitindo que "este obviamente não era o resultado" desejado, reiterando que a expectativa era "vencer estas eleições".

O presidente do Chega envolveu-se diretamente na campanha, percorreu o país e esteve marcadamente na rua a pedir o voto aos portugueses. Perdeu o fôlego de protesto das legislativas, não conseguiu vincar a posição do partido na Europa ao contrário de alguns partidos próximos da sua filiação de extrema-direita. E isso tornou Ventura um dos perdedores da noite, o que era visível na rosto desanimado.

 

BE e CDU perdem eleitos, mas seguram-se em Bruxelas

À esquerda, Bloco e CDU estiveram quase até à última para agarrar os lugares dos seus cabeças de lista em Bruxelas. Catarina Martins foi a primeira a anunciar que tinha conseguido a eleição.

Apesar de terem cantado vitória, o certo é que os bloquistas estão entre os perdedores da noite já que recuaram de dois assentos no Parlamento Europeu para apenas um. Em 2019, foram eleitos Marisa Matias e José Gusmão, agora só Catarina Martins segue para Bruxelas e Estrasburgo.

Depois de um desempenho pouco positivo nas legislativas, a direção do Bloco volta a demonstrar pouca força em urna numas eleições.

Também a CDU sai perdedora da noite, com João Oliveira a surgir duas vezes a discursar: fez uma primeira abordagem muito genérica, quase incompreensível, quando ainda não sabia se ia ser eleito. Já a noite ia longa quando pôde finalmente sorrir de alívio, garantindo a manutenção dos comunistas no Parlamento Europeu.

João Oliveira segurou o lugar, mas o partido registou o pior resultado de sempre em Europeias, tornando-se num dos perdedores da noite eleitoral. A CDU passou de quarto para sexto lugar - ficando atrás de PS, AD, Chega, IL e BE - e perdeu votos em todos os distritos e regiões autónomas.


Cotrim centrou a campanha em si e cumpriu meta

A Iniciativa Liberal foi uma das vencedoras da noite eleitoral, ainda que não tenha conseguido o pleno ao não conseguir ter maior votação do que o Chega.

Ainda assim, a campanha para as Europeias da IL, muito centrada na imagem de João Cotrim de Figueiredo, acabou por resultar. Os liberais não só conseguiram a entrada no Parlamento Europeu, como alcançaram a meta de dois mandatos que o partido tinha assumido a meio da campanha.

No discurso de final da noite, Cotrim Figueiredo defendeu que a IL demonstrou com tal resultado que "basta não evitar os assuntos que preocupam" os portugueses e que "Portugal não está condenado a nunca cumprir o seu potencial".


"Pelos vistos, quando uma campanha dá aos portugueses essa confiança os portugueses dizem sim", afirmou o candidato liberal.

E acrescentou: "Os portugueses vão cada vez mais dizer sim, porque a IL mostra que é possível combater a desesperança e o voto de protesto estéril". Cotrim insistiu ainda que se trata de "uma grande vitória da política positiva".

PAN e Livre eclipsam-se nas europeias

Se o Livre tinha alcançado algum ímpeto nas últimas legislativas, ao eleger dois deputados para o parlamento nacional, nas Europeias a corrida não correu assim tão bem ao partido de Rui Tavares.

O partido já estava fora de Estrasburgo desde 2019, mas ambicionava um regresso. A escolha do candidato foi pautada por polémica, tendo o nome de Francisco Paupério estado, numa fase inicial, desligado da direção do Livre. Tudo ao processo interno de seleção do candidato.

No PAN, voltou a confirmar-se a tendência decrescente do partido, que tem vindo a ser castigado em urnas.

A liderança de Inês Sousa Real está cada vez mais fragilizada e o partido que chegou a ter quatro deputados no hemiciclo nacional e que no passado já elegeu para o Parlamento Europeu, caiu significativamente na votação, ficando atrás do ADN de Joana Amaral Dias.

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