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Santos Silva responde a embaixador dos EUA que quem toma as decisões é Portugal

O embaixador americano em Lisboa disse que Expresso que Portugal tem de escolher entre os "amigos e aliados" EUA e o "parceiro económico" China, admitindo consequências caso escolha a China para o 5G. O ministro dos Negócios Estrangeiros avisa que quem toma as decisões são as autoridades portuguesas,

Rodrigo Antunes/Lusa
Lusa 26 de Setembro de 2020 às 11:17
O chefe da diplomacia portuguesa avisou este sábado que quem toma as decisões em Portugal é o Governo, em resposta a declarações do embaixador dos Estados Unidos, que exigiu que Lisboa escolha entre os aliados e a China.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, comentava, em declarações à agência Lusa, e entrevista de George Glass ao semanário português Expresso, em que defendeu que Portugal tem de escolher entre os "amigos e aliados" EUA e o "parceiro económico" China, alertando que escolher a China em questões como o 5G pode ter consequências em matéria de Defesa.

"O Governo português regista as declarações [...]. Mas o ponto fundamental é este: em Portugal, quem toma as decisões são as autoridades portuguesas, que tomam as decisões que interessam a Portugal, no quadro da Constituição e da lei portuguesa e das competências que a lei atribui às diferentes às diferentes autoridades relevantes", disse.

Ao Expresso, o embaixador norte-americano em Lisboa admitiu consequências para Portugal se o país escolher trabalhar com a China, consequências que serão de âmbito técnico, como a atividade da NATO ou a troca de informação classificada, e não políticas, pelo menos para já.

 

"Há países que estão a trabalhar numa verdadeira parceria como aliados. Se não formos capazes de comunicar a esse nível, então haverá também reflexos na atmosfera política e nos desenvolvimentos da relação política. Por agora, é um assunto de Defesa Nacional e não de política", afirmou Glass.

 

O embaixador admite que Portugal é uma vítima do conflito comercial entre EUA e China ao fazer parte do "campo de batalha" na Europa, onde uma das frentes de conflito é a nova tecnologia 5G, relativamente à qual Portugal equaciona trabalhar com a chinesa Huawei, ainda que não em aspetos fundamentais da rede, mas apenas na distribuição do sinal de rádio.

 

Glass é taxativo ao dizer que os EUA preferiam que Portugal não tivesse qualquer equipamento da Huawei na rede de 5G. "Se não tivermos parceiros confiáveis na rede de telecomunicações portuguesa, mudará a forma como interagimos com Portugal em termos de segurança e de Defesa. Temos feito chegar esta mensagem alto e bom som: a forma como trabalhamos com a NATO ou como trocamos informação classificada será afetada. Se tivermos confiança nas telecomunicações, seremos capazes de continuar a relacionar-nos como no passado. Se não tivermos, teremos de mudar a forma como comunicamos com Portugal", disse.

  

Há outras empresas chinesas com posições de capital em empresas portuguesas – como a China Three Gorges na EDP e a CCCC que recentemente entrou no capital da Mota-Engil, que "vendeu 30% da companhia por 30 moedas de prata" — a dificultar a relação entre Portugal e EUA, sendo que em relação à Mota-Engil o embaixador norte-americano admite a possibilidade de sanções.

 

Remeteu, no entanto, mais esclarecimentos para essas questões para o subsecretário norte-americano da Economia, Keith Krach, que vai estar na próxima semana em Lisboa.

 

Sobre a importância do "incrivelmente estratégico" porto de Sines para a distribuição do gás natural liquefeito americano, Glass disse esperar que a construção e gestão do novo terminal "não vá para os chineses". Se for, isso compromete a distribuição, admitiu.

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