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"Um Governo mais político para combater a crise económica"

Alberto Navarro, embaixador de Espanha em Lisboa, comenta ao Negócios a profunda remodelação governamental anunciada esta manhã pelo primeiro-ministro José Luís Zapatero. Sublinha que nunca um Governo socialista integrou tantas figuras do proa do PSOE. Um Governo mais político, para combater uma crise económica, portanto.

07 de Abril de 2009 às 18:05
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Alberto Navarro, embaixador de Espanha em Lisboa, comenta ao Negócios a profunda remodelação governamental anunciada esta manhã pelo primeiro-ministro José Luís Zapatero. Sublinha que nunca um Governo socialista integrou tantas figuras do proa do PSOE. Um Governo mais político, para combater uma crise económica, portanto.

Alberto Navarro lamenta, mas compreende, a saída de Pedro Solbes, e diz-se convicto de que Elena Salgado, a nova ministra das Finanças, estará à altura dos desafios.

Porquê esta remodelação agora, em plena recessão, em que a estabilidade política seria um activo a valorizar?

Esta remodelação, um ano depois do início da segunda legislatura, surge precisamente para dar resposta à crise económica, com um Governo com um grande peso político. Chamo a atenção para o facto de, pela primeira vez, um Governo socialista integrar as três figuras máximas do PSOE: o presidente [Manuel Chaves, agora vice-presidente do Governo responsável pela Politica Territorial], o secretário-geral [o próprio Zapatero] e o vice-secretário-geral [José Blanco, como ministro do Fomento].

Um Governo mais político para responder a uma crise económica: não é uma contradição?

Não, até porque pela frente está também a renegociação da lei do financiamento das comunidades autonómicas e esta é uma matéria politicamente delicada, que exigirá um esforço redobrado a um Governo minoritário. Estamos a falar da repartição de quase 30% do total dos gastos públicos em Espanha. E creio que, aqui, o papel de Manuel Chaves [presidente do PSOE, que esteve 18 anos à frente da Junta da Andaluzia] será muito importante, porque será preciso ao Governo negociar acordos pontuais, com os canários, com os bascos, com os catalães, para conseguir uma maioria parlamentar para a aprovar a nova lei, que fundamentalmente terá de adaptar as transferências para as Comunidades em função das alterações demográficas dos últimos anos, que foram muito influenciadas pela imigração.


Mas à frente das Finanças, passa a estar uma mulher que não tem a projecção internacional nem a experiência de Pedro Solbes...

É um facto que Elena Salgado não tem a projecção internacional de Pedro Solbes, nem mesmo internamente. As sondagens sugerem que só metade dos espanhóis a conhece, e conhecem-na, sobretudo, por causa da lei do tabaco, de que foi responsável enquanto ministra da Saúde no anterior Governo.

Mas não chega a ser uma figura desconhecida, mesmo nos círculos internacionais. Recordo que Elena Salgado foi candidata, até à última etapa de selecção, à presidência da Organização Mundial de Saúde, e que é uma gestora reconhecida em Espanha que esteve, por exemplo, à frente da direcção-geral das Finanças nos Governos de Felipe González . É uma mulher discreta, mas com uma longa experiência governativa.

Porque é que Pedro Solbes, independente que nunca se filiou no PSOE, saiu? Havia divergências no Governo sobre a estratégia de resposta à crise?

A saída de Pedro Solbes deve-se sobretudo a cansaço, como o próprio já afirmou. Desde a década de 90, foi ministro da Agricultura e depois da Economia de Felipe González, mais tarde comissário europeu dos Assuntos Económicos, e agora estava de regresso à Economia, desde o primeiro mandato de Zapatero. São muitos anos de trabalho intenso na vida pública e é natural que, a um dado momento, ele quisesse retirar-se. Pessoalmente, tenho pena, porque é um homem que admiro muito, mas compreendo a sua opção, e estou certo de que Elena Salgado está à altura das responsabilidades.

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