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Poupança das famílias no valor mais alto desde 2003

A taxa de poupança está em recuperação desde os mínimos atingidos em 2008. De tal forma que, este ano, a quebra do consumo fez com que o governo não fosse capaz atingir os objectivos de défice orçamental.

Negócios 31 de Outubro de 2012 às 00:01
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As famílias portuguesas estão a poupar mais há quatro trimestres consecutivos. Depois de cinco anos de descida, a taxa de poupança tem recuperado, tendo atingido no ano terminado em Junho o valor mais elevado desde 2003.

Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam uma taxa de poupança de 10,9% no segundo trimestre do ano. Ou seja, os portugueses conseguiram poupar um em cada dez euros do seu rendimento disponível. Um ano antes, esse indicador estava nos 9,5%. No entanto, mesmo com esta recuperação, Portugal continua aquém dos seus parceiros comunitários. Em 2010, os últimos dados disponíveis, a taxa de poupança na zona euro estava nos 13,9%, apenas quatro outros países tinham taxas mais baixas que Portugal (Finlândia, Estónia, Chipre e Grécia).

Um nível baixo de poupança tem sido relacionado com o agravamento dos desequilíbrios macroeconómicos da história recente de Portugal, que acabaram por resultar na crise da dívida soberana. Segundo o INE, cujos dados recuam até 1999, o ponto mais baixo da poupança dos portugueses foi atingido no segundo trimestre de 2008 (5,7%), tendo--se iniciado uma recuperação com altos e baixos desde então.

O problema está, contudo, longe de ser recente. Segundo um estudo encomendado no ano passado pela Associação Portuguesa de Seguradores (APS) à Universidade do Minho, a grande quebra da poupança dos portugueses ocorreu entre o final dos anos 80 e meados dos anos 90, coincidindo com os primeiros anos de Portugal na União Europeia e o período de Cavaco Silva como primeiro-ministro. A taxa de poupança caiu de 24% em 1985 para 10% no final da década de 90. "Desde então tem estado estável, à excepção do período entre 2005 e 2008, no qual baixou para 7%. Esta queda terá resultado do aumento da taxa de juro neste período, à qual as famílias terão reagido, dado o elevado nível de endividamento, com a redução da poupança, em vez de reduzirem o consumo", escrevem os autores Fernando Alexandre, Luís Aguiar-Conraria, Pedro Bação e Miguel Portela.

As razões são muitas. No mesmo estudo é citado o nível elevado das contribuições sociais pagas em Portugal, uma convergência no nível de vida com o resto da Europa e menos restrições no acesso ao crédito. Os autores culpam também as políticas erráticas do governos, nomeadamente as alterações aos certificados de aforro e a benefícios fiscais associados à poupança.

Ao mesmo tempo, a poupança nacional tem um grave problema de assimetria. Quase 90% é gerada por apenas 20% dos agregados familiares. Por outro lado, para um terço das famílias, a poupança é negativa. Isto é, gastam mais do que aquilo que ganham.

Apesar deste desequilíbrio estrutural, em 2012 o problema não foi falta de poupança. Confrontados com um aumento enorme de impostos, os portugueses retraíram muito o seu consumo. De tal forma, que o governo não foi capaz de cumprir as suas metas de receita fiscal e, como consequência, falhou a meta do défice. "A poupança cresceu ao longo deste ano a uma dimensão que não esperávamos", afirmou Pedro Passos Coelho, em entrevista à RTP, em Setembro. "Muita gente, por receio ou por precaução, tinha dinheiro para gastar e não gastou. As pessoas podiam ter comprado automóveis."

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