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Politólogos falam num "divórcio" quase irreversível com o eleitorado

Quebra de confiança no Executivoem funções há pouco mais de um ano.

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O último pacote de austeridade anunciado pelo primeiro-ministro está a marcar um "ponto de viragem" na relação de confiança com o eleitorado que, segundo os analistas políticos ouvidos pelo Negócios, será difícil de recuperar até ao final da legislatura.

Apesar de Passos ter assumido pessoalmente as recentes medidas, o desgaste arrastará todo o Executivo. Desta vez, incluindo o CDS-PP, que tutela a Segurança Social através do ministro Mota Soares e que batalhara na coligação para que não subisse a carga fiscal. "Os cidadãos não vão distinguir entre taxa e imposto. É a perda de rendimento disponível. Ponto!", diz Carlos Jalali.

Só as próximas sondagens permitirão avaliar com exactidão o impacto popular das medidas, mas "o facto é que o Governo nunca arriscou tanto uma ruptura irreversível com a opinião pública", avalia o professor de Aveiro. Não tendo uma lua-de-mel, Jalali lembra que o Governo teve "um benefício da dúvida que foi-se esvaindo até que agora parece haver um divórcio". A perda de rendimento tem "sempre um impacto poderoso" e, a acontecer, o início da recuperação económica em 2013 "não teria efeito nos bolsos da maior parte" dos portugueses.

"A popularidade do Governo está em declínio. Este discurso pode ser um ponto de viragem num aprofundar do afastamento e da quebra da confiança entre os votantes e o Governo", sentencia Marina Costa Lobo. Tal como os restantes analistas, a investigadora do ICS também já não crê que "algo se possa alterar" no que toca à percepção de que os mais ricos estão a escapar melhor aos sacrifícios. Mesmo que nos próximos dias surjam medidas adicionais para taxar o capital.

Ana Maria Belchior, doutorada em Ciência Política, concorda que "a colagem e defesa pessoal da causa da troika irá deixar o nome de Passos Coelho indissociável da precarização das condições de vida dos portugueses e de um rotundo falhanço em termos de políticas económicas". Sem conseguir "gerar expectativas positivas" com esta estratégia, completa, as últimas medidas são "mais um passo numa trajectória de desgaste" que está a gerar "um natural e crescente capital de descontentamento" popular.

Face ao provável fim do consenso político e social que até aqui as autoridades anunciavam no exterior como factor diferenciador no processo de ajustamento português, os analistas aguardam uma intervenção de Cavaco Silva, que, até à hora de fecho desta edição, se mantinha em silêncio. André Freire, professor do ISCTE, antecipa que o Presidente da República tentará "estabelecer aproximações" políticas, como fez no passado, com "posições mais ousadas que o próprio PS, embora inconsequentes".

Apesar de reconhecer que uma maior acção em Belém – como prometido aliás na última eleição presidencial – ainda possa fazer surgir "algumas saídas", o politólogo vê "a situação bastante negra". E um caminho de austeridade tão irreversível quanto o desgaste da coligação: "há uma fuga para a frente muito forte, agora recuar disto não é fácil".

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