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Pacote de estímulos nos EUA vai elevar dívida para níveis da II Guerra Mundial

A Capital Economics estima que a dívida federal dos Estados Unidos supere os 100% do PIB do país em 2020.

Reuters
28 de Abril de 2020 às 18:50
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Com o Congresso norte-americano a dar luz verde a sucessivos reforços do pacote de estímulos orçamentais do país, a dívida federal irá superar os 100% do PIB este ano, não muito longe do máximo histórico de 108% do produto interno bruto que se registou a seguir à Segunda Guerra Mundial, estima a Capital Economics.

 

Segundo a consultora de análise económica, esse cenário não será uma preocupação nos próximos 12 a 24 meses, mas coloca a possibilidade de – tal como na década de 1940 – ser necessário um mix de maior inflação e repressão financeira para a redução da dívida, podendo a Fed ter de colocar um limite às rendibilidades das obrigações soberanas.

 

O pacote de estímulos no valor de 480 mil milhões de dólares aprovado na semana passada, que fez aumentar o valor dos cheques para pequenas empresas (Paycheck Protection Program [PPP], um programa de proteção de cheques de pagamento de ordenado, para ajudar as empresas a poderem continuar a pagar salários) e os gastos nos cuidados de saúde, além da bazuca (CARES Act) de 2,3 biliões de dólares, significa que a dimensão total do pacote orçamental de resgate já mais do que duplica os estímulos decorrentes da crise financeira mundial de 2008.

 

O aumento do défice não será tão elevado quanto estes valores sugerem, porque parte desse financiamento será concedido sob a forma de empréstimos para o setor do transporte aéreo e 450 mil milhões de dólares provirão do capital que a Fed está a usar para escudar o seu vasto leque de programas de crédito, sublinha a Capital Economics.

 

Assim, o governo federal deverá conseguir recuperar grande parte desses fundos e, tal como sucedeu a seguir à crise financeira global, poderá até realizar algum lucro. "Outras medidas, como o diferimento de impostos, fará aumentar o défice este ano mas irá reduzi-lo nos anos futuros", acrescenta a consultora.

 

O Gabinete Orçamental do Congresso estima que os pacotes de estímulos farão aumentar o défice em cerca de dois biliões de dólares este ano e mais 500 mil milhões no próximo.

 

Além disso, o défice aumentará à medida que forem sendo ativados os estabilizadores automáticos. E apesar de estes serem de dimensão relativamente pequena nos EUA em comparação com a Europa – porque os programas de bem-estar social são menos generosos e parcialmente financiados pelos governos estaduais –, deverão contribuir com perto de 400 mil milhões de dólares para o défice deste ano (ou 2% do PIB).

 

Tudo junto, "concordamos com a estimativa do Gabinete Orçamental do Congresso de que o défice dos EUA aumentará para 3,7 biliões de dólares este ano, o que equivale a 18% do PIB", sublinha a Capital Economics.

 

"Um défice orçamental de perto de 20% e uma queda de 5,5% do PIB que antevemos este ano significa que a dívida federal em proporção do PIB irá disparar em 25 pontos percentuais, elevando-a para mais de 100%", realça.

 

A consultora diz que as suas projeções económicas são similiares às do Gabinete Orçamental do Congresso, mas refere que antecipa uma forte retoma económica já no próximo ano, "o que deverá reduzir o défice e ajudar a estabilizar o rácio dívida/PIB em 2021".

 

Entretanto, no longo prazo, um eventual nível mais elevado da dívida federal poderá exercer uma maior pressão sobre o Congresso no sentido de tentar encarrilar as finanças públicas, salienta a análise da Capital Economics.

 

"Até mesmo antes da pandemia, os EUA registavam um défice de 5% do PIB, numa altura em que a taxa de desemprego estava perto de mínimos históricos, e o rápido envelhecimento da população significa que a despesa pública canalizada para a segurança social e para o Medicare [um sistema de subsídios de acesso à saúde para quem tem menos recursos] aumentarão no longo prazo. É por isso que o Gabinete Orçamental do Congresso estima que a proporção da dívida no PIB continuará a aumentar nas próximas décadas".

 

Por conseguinte, não há opções fáceis neste aspeto. A melhor estratégia, considera a consultora, será promover um crescimento económico real mais rápido – no qual o governo terá pouca influência no curto prazo. "O Congresso deve também reduzir o défice orçamental através de austeridade. Mas, atendendo à posição de partida, é improvável que consiga reduzir significamente a dívida sem fortes aumentos de impostos e profundos cortes nos benefícios. A experiência da austeridade pós-2008 também não é muito encorajadora", remata.

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