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2007 - O comendador madeirense que agitou o continente

Berardo pôs a Madeira nas notícias nacionais, o Tratado pôs Lisboa em discussão na Europa. Foram entreténs numa altura em que o "subprime" ia aquecendo nos EUA. Por cá, Paulo sucedeu a Belmiro. REN e Martifer trouxeram nova vida à bolsa.

Miguel Baltazar
Negócios 27 de Junho de 2013 às 00:01
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Figura do ano

Lançou uma oferta pública de aquisição ao Benfica. Atacou a oferta que a Sonaecom fez sobre a Portugal Telecom. Denunciou irregularidades no BCP. Comprou acções de forma hostil nos vinhos da Sogrape. Abriu um museu com uma colecção de arte.

 

Em todos estes casos, há um denominador comum. É Joe Berardo. O comendador esteve em todas. Foi o "joker" de 2007, como lhe chamou o Negócios. O seu poder era muito, na altura. Conseguiu fazer com que as acções da Papelaria Fernandes disparassem só com a indicação de que iria analisar a sua posição na empresa. Valeu-lhe, entre outros, uma investigação da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). O madeirense estava num triângulo: era odiado pelas elites do mundo empresarial, era

Eles não quiseram, eles é que ficaram a perder. Investir no Benfica é por amor, não por rentabilidade
 
Joe Berardo, empresário, sobre OPA falhada

amado pelos trabalhadores, começava a ganhar notoriedade nos meios culturais. Poderia haver outras caras de interesse neste ano.

 

Desde os Gato Fedorento a Mário Lino, passando por Henrique Granadeiro ou por Paulo Teixeira Pinto. Mas, sem Berardo, 2007 teria sido um ano muito mais parado. Foi essa a razão para a escolha como figura do ano. Mas havia outros motivos. Foi o nome do comendador o mais pesquisado no "site" do Negócios. Também foi Berardo o nome que apareceu em mais de 500 notícias do jornal. E, como é referido no texto que o elege, "Berardo não há outro". Pesquisa-se o seu nome e, em 2007, ora aparece ligado à Cimpor, ora à PT, ora ao BCP, ora ao Benfica. Em toda a hora, o nome estava em evidência. Em 2007, houve um empresário que causou rebuliço nas empresas, animou mercados, irritou o regulador e deu trabalho à Justiça. Foi Joe Berardo.

 
O que veio a seguir
O comendador apareceu em cerca de 500 notícias do Negócios em 2007. Mas a notoriedade foi-se perdendo. O número caiu para 57 no ano passado. No primeiro semestre de 2013, Berardo foi encontrado em apenas 21 notícias. Já não há OPA sobre o Benfica e processo no BCP já não dá tanto que falar. Na fusão que decorre entre a Optimus e a Zon, Berardo não levantou objecções. E já se desfez da posição na Sogrape. Especulou-se que essa venda pudesse estar ligada ao pagamento de dívidas à banca, devido em parte à erosão nas garantias dos créditos. Falou-se de penhoras e de vendas de activos dados como garantias. Não se sabe. O museu ainda está aberto, apesar dos cortes. Berardo ainda é notícia. Mas já não causa rebuliço.

Facto nacional

"Jamais" ou "jámé", o novo aeroporto é que (nunca) é

É na Ota, é na Ota. A posição do Governo sobre o novo aeroporto em Lisboa era, em 2007, esta. E ponto final. Afinal, não. O ponto final foi só uma vírgula. O destino irreversível para o novo aeroporto internacional de Lisboa já não era tão certo. O ministro dos Transportes, um defensor acérrimo dessa localização, foi "derrotado". Na margem sul, "jamais", dizia antes Mário Lino, com sotaque francês. Um estudo sobre a viabilidade de localizar o aeroporto na região de Alcochete veio colocar um travão à Ota. Pelo meio, houve discussões de dinheiro e de ambiente. A promessa não levantou voo. Afinal, foram reticências.

 
O que veio a seguir

Não ficou na Ota, não ficou em Alcochete, nem sequer no resto da margem Sul. Não há novo aeroporto internacional de Lisboa. A última solução a ser falada foi a construção de uma infra-estrutura aeroportuária no Montijo, que seria utilizada juntamente com o espaço da Portela. O plano para construir um novo aeroporto na capital parece, contudo, ter sido deixado de lado, com a privatização da ANA. O Governo diz que só se deverá discutir a sua construção dentro de 15 a 20 anos. Não é um "jamais". É um até (qualquer dia).

Facto internacional

"Subprime" tornou-se  "sobreproblema"

Tudo começou nos Estados Unidos. Crédito à habitação concedido a famílias de elevado risco ("subprime"), na crença de que os preços do imobiliário subiriam sempre. Esses créditos foram vendidos a investidores, com selo de qualidade dado pelas agências de "rating", espalhando os títulos tóxicos pelo mundo. A economia arrefeceu e as famílias em dificuldade entraram em incumprimento. De um momento para o outro, os títulos perderam todo o valor, provocando fortes perdas a quem investiu. Depois de chegarem a recorde nesse mesmo ano, as bolsas começaram a afundar.

 
O que veio a seguir

O difícil era adivinhar o que aí vinha. A crise do "subprime" passou a crise financeira e, depois, a crise económica. O gigante banco norte-americano Lehman Brothers faliu. Levou consigo o mundo para um enorme terramoto. Os mercados bateram no fundo e as economias entraram numa forte recessão. Houve injecções de liquidez por parte dos bancos centrais. Ainda hoje as economias tentam recuperar do choque.

Imagem do ano

Lisboa, a capital em que se pretendia reformular a UE

O Mosteiro dos Jerónimos era o palco. As personagens eram os chefes de Estado - ou seus representantes - dos 27 países da União Europeia. A bandeira portuguesa era o grande adereço. José Sócrates, o encenador.

 

A cena: a assinatura do Tratado de Lisboa, o tratado reformador da "família" União Europeia. Foi necessário assinar este documento porque o número de filhos cresceu. Como quando um casal que tem dois filhos e, de repente, descobre que vêm aí trigémeos, foi preciso mudar o funcionamento da casa. Um espaço que já contava com 27 países continuava a trabalhar segundo regras destinadas a um grupo de 15.

 

A forma de funcionamento da União Europeia foi modificada e criou-se, por exemplo, a função de presidente do conselho europeu. "De uma coisa estou certo: o que aqui estamos a fazer já está na História. A História há-de recordar este dia como um dia em que se abriram novos caminhos de esperança ao ideal europeu", foram palavras de José Sócrates naquele 13 de Dezembro de 2013. O acordo já vinha definido. Foi uma quase-formalidade. Bem aproveitada por Portugal, que estava responsável pela presidência da UE.

 

O que veio a seguir

A entrada em vigor do Tratado de Lisboa foi em 2009. Nos dias de hoje, o documento é referido quando se fala numa maior integração económica e política entre os Estados-membros da União porque, a concretizarem-se, estas deverão exigir profundas alterações ao Tratado. São modificações que pretendem fechar uma ferida aberta nos dias difíceis que vive a União Europeia. Tal como pretendia o Tratado de Lisboa.

Negócio do ano

EDP compra a Horizon e entra nos EUA

As energias estavam concentradas noutro lado. E a EDP aproveitou. Comprou a Horizon ao Goldman Sachs. O negócio avaliava a empresa eólica norte-americana em 2,74 mil milhões de dólares. Um negócio que, ao câmbio de hoje, seria de 2,09 mil milhões de euros, foi, na altura, de 2,2 mil milhões. A operação permitiu que o grupo português liderado por António Mexia colocasse os pés, de uma forma sustentada, nos Estados Unidos.

 

O negócio aconteceu porque, na Europa, se estava a olhar para a consolidação que ia marcando, por aqueles dias, o sector das "utilities". Sobre a EDP, os analistas anteciparam um impacto positivo da operação: não parecia ser uma aquisição dispendiosa.

 

As agências de "rating" reconheceram o sentido do negócio, do ponto de vista estratégico, mas alertaram para os riscos no campo financeiro. Certo é que foi a operação que deu à luz a ida da EDP Renováveis para a bolsa. Antes da aquisição, não havia uma carteira de activos que o justificasse.

 
O que veio a seguir

A EDP Renováveis entrou, efectivamente, em bolsa, em 2008. Hoje, António Mexia admite que tal só foi possível devido à aquisição da Horizon, agora denominada EDPR North America. Foi "um negócio importantíssimo" para a EDP. É assim que, seis anos depois, António Mexia fala da aquisição da eólica norte-americana, que garantiu a entrada do grupo nos Estados Unidos. A empresa assegura que os EUA ajudaram a mais do que duplicar a produção de energia eólica do grupo. Numa entrevista dada ao Negócios em Abril, o CEO da eléctrica rejeitava, contudo, mais fusões ou aquisições no futuro próximo. O objectivo, agora, é a desalavancagem. Apesar da força trazida pelo continente americano, a EDP é actualmente uma empresa nas mãos do continente asiático, já que a China Three Gorges é a maior accionista.

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