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O dilema de Sanders: unir os democratas ou forçar agenda de esquerda

Depois da derrota em mais três estados nas primárias da última terça-feira, o senador do Vermont ficou com hipóteses diminutas de assegurar a nomeação do Partido Democrata. Bernie Sanders será obrigado a decidir entre desistir da corrida para unir o partido em torno de Biden ou seguir até final para condicionar o ex-vice-presidente e empurrá-lo para uma agenda progressista.

Bernie Sanders joga uma espécie de última cartada nas primárias desta terça-feira, onde o resultado no Michigan pode ser determinante.
Lucas Jackson/Reuters
22 de Março de 2020 às 15:00
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Com a vitória cada vez mais certa de Joe Biden na corrida pela nomeação democrata, a grande incógnita passa agora por saber como vai (e quando) Bernie Sanders resolver o dilema que tem pela frente.

O senador independente pelo Vermont terá de decidir entre desistir das primárias para promover a unidade dos democratas em torno do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, e assim aumentar as hipóteses de impedir a reeleição de Donald Trump, ou manter-se na corrida para forçar Biden a aproximar-se da sua agenda de esquerda.

Após vencer as primárias da passada terça-feira nos estados da Flórida, Arizona e Illinois, e quando estão atribuídos mais de metade dos delegados em jogo, Joe Biden segue à frente com 1.184, cada vez mais perto dos 1.991 necessários para assegurar a nomeação na convenção nacional democrata de julho. Sanders, que num espaço de apenas duas semanas passou de grande favorito a provável vencido, segue atrás com 885 delegados eleitos. Um dos responsáveis da candidatura de Sanders admitiu que o senador está avaliar as condições para prosseguir.

Estas primárias democratas têm como pano de fundo premissas distintas de outros anos. A grande preocupação dos eleitores democratas passa agora menos pela eleição do seu candidato favorito e mais pela escolha do melhor para derrotar Trump.

Por outro lado, estas são as primeiras primárias realizadas num contexto estabilizado de polarização política, quer ao nível nacional quer no seio dos próprios democratas.

Argumentos pela continuação
O Politico escreve, com base em fontes próximas do candidato independente, que a avaliação que Sanders fará não assenta exclusivamente naquilo que é melhor para a sua candidatura, mas no que considerar melhor para o "movimento progressista".

Aquela publicação sublinha que entre os aliados e apoiantes mais próximos de Sanders subsiste a convicção de que o senador deve ir até ao fim. E tentar eleger o máximo número de delegados possível para influenciar o posicionamento do Partido Democrata na convenção nacional do verão.

Esta seria a melhor forma de o legado político de Bernie Sanders não ser desperdiçado, nem algumas das propostas (cuidados de saúde gratuitos e universais, mais impostos sobre os 1% muito ricos ou reforma do sistema político) mais emblemáticas.

É que ao longo da campanha Biden tem sido obrigado a ajustar propostas (a área da saúde é exemplo disso mesmo) face ao que preconizou durante boa parte da já longa carreira política, num claro reposicionamento à esquerda para não deixar o campo progressista à mercê de Sanders.

Como aponta o Washington Post, Joe Biden moveu-se em direção ao "centro de gravidade" dos democratas, hoje bem mais à esquerda do que em 2015, antes de Bernie Sanders ter surpreendido numas primárias que acabou por perder para Hillary Clinton. Não desistir seria uma forma de manter o moderado Biden "preso" a ideias e propostas de esquerda.

Argumentos pela desistência
À cabeça a improbabilidade de vitória. Não só porque Sanders precisaria eleger mais de 60% dos delegados ainda em disputa, algo improvável dada a dinâmica de vitória encetada por Biden e a vantagem confortável conquistada, mas também porque parte dos próximos estados em jogo têm eleitorados claramente favoráveis ao antigo número dois de Barack Obama (Georgia e Louisiana, por exemplo).

Além de que fazer campanha, e mobilizar eleitores, num cenário de pandemia cria dificuldades adicionais, em particular para o candidato que segue atrás. E numa altura em que o Congresso terá de discutir medidas de resposta ao surto da Covid-19, Sanders poderia desempenhar um papel relevante no Senado apoiando as classes mais desfavorecidas.

Outra razão invocada a favor da desistência prende-se com a convicção de que é preciso evitar o desgaste inerente à campanha e à realização de mais debates com duras trocas de palavras.

Os defensores desta perspetiva acreditam ser preciso evitar focos de desunião num Partido Democrata já fragmentado. Para permitir que o partido se apresente uno nas presidenciais de 3 de novembro e para que Biden possa, desde já, centrar atenções em derrotar Trump (e fazê-lo com mais dinheiro para a campanha presidencial).

Há ainda quem considere que, ao desistir agora, Sanders estaria em melhores condições para negociar concessões com Biden nas principais bandeiras eleitorais do senador pelo Vermont face a um posterior cenário de derrota.

Bernie Sanders tem a palavra final.
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