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“Nunca estive convencido com a Agenda de Lisboa”
O antigo ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Joschka Fisher, diz ser imprescindível à Europa "prosseguir com as reformas para se adaptar à globalização", que classifica como a realidade definidora do século XXI, mas mostra-se muito céptico quanto à
O antigo ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Joschka Fisher, diz ser imprescindível à Europa "prosseguir com as reformas para se adaptar à globalização", que classifica como a realidade definidora do século XXI, mas mostra-se muito céptico quanto à capacidade mobilizadora da Estratégia de Lisboa, que enquadra as linhas essenciais de reforma política que devem ser seguidas por todos os Estados-membros.
"Nunca estive convencido de que a Agenda de Lisboa fosse uma boa ideia", confessa Fisher.
Para o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, que falava ontem no Porto no âmbito de uma conferência organizada pelo jornal "Público", "a Alemanha, Portugal, cada país precisava de fazer o seu trabalho de casa" e "não é boa ideia que seja Bruxelas a dirigir as reformas domésticas".
O antigo governante alemão falou ainda sobre a situação de impasse que se vive na Europa após o chumbo da Constituição Europeia nos referendos em França e na Holanda.
Em sua opinião existe "falta de liderança" na Europa, que se reflecte ainda na postura hesitante com que se tem encarado a adesão da Turquia. Em seu entender, este é um passo que a Europa tem de dar, até porque"não é possível falar de segurança europeia sem a Turquia" – só "a cegueira e as vistas curtas de muitos líderes europeus" podem explicar que esta realidade não seja abertamente reconhecida, precisou.
Para Fisher, que está retirado da vida política activa, os aspectos da Constituição relacionados com a política de segurança europeia terão que estar resolvidos até 2009. Defendeu igualmente a necessidade de "instituições europeias fortes" e que o reforço do papel da Europa não é compatível com a liderança rotativa de seis em seis meses.
Em todo o caso, advertiu que nos termos do Tratado de Nice, com o alargamento para 27 países, que será concretizado no próximo ano com a entrada da Roménia e da Bulgária, será imperativa a redução do número de membros da Comissão Europeia.
O Tratado de Nice, que resultou da Conferência Intergovernamental de 2000, solucionou provisoriamente a questão, prevendo uma limitação da composição da Comissão a um Comissário por Estado-membro, a partir da entrada em funções da Comissão de 2004-2009.
O protocolo relativo ao alargamento anexo ao Tratado de Nice prevê, no entanto que, quando a UE contar 27 Estados-membros, o número de membros da Comissão seja inferior ao de países, devendo o número exacto ser posteriormente acordado pelos Governos, por unanimidade.
Afirmando a sua convicção no processo de integração europeia, Fisher defendeu o processo de alargamento "para vencer os perigos do regresso da Europa dos nacionalismos".
Joschka Fisher foi ministro dos Negócios Estrangeiros no Governo de Gerhard Schröder entre 1998 e 2005, enquanto dirigente dos "Verdes", partido de que foi fundador.