Notícia
2008 - No ano do "crash", foi o contribuinte a pagar a factura
Os longos braços do Estado ampararam as quedas do BPN e do BPP, mas para isso dependeram do contribuinte português. Foi neste ano que se instalou a crise financeira internacional, com a queda do Lehman. E que se deu a ascensão de Barack Obama.
Figura do ano
Foi em 2008 que o descalabro financeiro se abateu sobre o mundo. A falência do Lehman Brothers, considerada a maior de toda a história, arrastou os mercados para o pânico e pôs a nu as necessidades de financiamento (e os anos de excessos) de inúmeros bancos em todo o globo. O modelo de nacionalização de bancos avançou por todo o lado e em Portugal apanhou o BPN. O Governo ajudou também o Banco Privado Português, com um crédito que ficou por pagar. Os Estados optaram por nacionalizar para evitar uma crise sistémica. Mas quem pagou foram os contribuintes. O Negócios elegeu o contribuinte como figura do ano precisamente por causa disso: foi o contribuinte que salvou a economia, os bancos, as empresas. Sem ninguém perguntar nada, o contribuinte deu tudo. Ajudou bancos falidos, aumentou o capital da CGD por três vezes, e financiou empresas que estavam perto da insolvência.
Foi ainda o contribuinte que financiou uma subida de salários na Função Pública bem acima da inflação.
Tudo isto num ano em que o Estado congelou contas bancárias e penhorou imóveis de forma ilegal, além de ter retido indevidamente reembolsos de IRS e de ter acabado com benefícios fiscais.
O que veio a seguir
Se o fardo tributário parecia extremamente pesado em 2008, ele é apenas uma pluma comparado com os dias de hoje. O Orçamento do Estado para 2013 contempla "um enorme aumento de impostos", palavras do próprio ministro das Finanças, Vítor Gaspar. O Executivo alterou as tabelas do IRS, penalizando mais os contribuintes, e retirou subsídios. O Estado continua a resgatar bancos. Porém, agora o dinheiro provém da troika, e os bancos têm que o devolver, acrescido de juros que começam nos 8,5%. A CGD também vai contar com mais dinheiro para apoiar empresas e os impostos estão tão altos que, na restauração, já fecharam centenas de estabelecimentos. Portugal tem de cumprir as metas do défice e os contribuintes estão cá para garantir que isso acontece.
Facto nacional
Nacionalização do BPN exigiu injecção de mil milhões
O BPN foi nacionalizado a 2 de Novembro. Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, justificou a operação com a "iminente situação de ruptura de pagamentos" e tranquilizou os clientes do banco. "Os portugueses podem estar tranquilos. A situação está finalmente resolvida", declarou.
Miguel Cadilhe, presidente do banco, criticou a decisão, assegurando que se o Estado tivesse injectado 600 milhões de euros para recuperar o banco isso teria ficado mais barato ao erário público - e a verdade é que o Estado e a CGD injectaram até final do ano mil milhões de euros no banco, para o recuperar.
O que veio a seguir
O BPN foi um caso de polícia e ainda não está resolvido. Oliveira e Costa, que liderou o BPN, foi detido a 20 de Novembro de 2008 e continua na prisão. A comissão parlamentar de inquérito ao BPN concluiu que houve uma "gestão ruinosa" de Oliveira e Costa e lançou várias críticas à forma como o banco foi gerido durante o período em que esteve nacionalizado. O custo para os contribuintes, estima-se, foi de 5,3 mil milhões de euros. O banco foi reprivatizado em 2011: o BIC comprou-o por 40 milhões de euros.
Facto internacional
Colapso do Lehman instalou a crise
Primeiro foi a crise do "subprime" que mostrou que o sistema financeiro construído nos últimos anos tinha pés de barro: empréstimos concedidos sem critério deixaram os bancos a "arder" com dinheiro que nunca mais iam ver. Depois veio o colapso do Lehman Brothers, a maior falência de sempre, que praticamente parou a economia e semeou o pânico nos mercados.
A partir daí, os Estados Unidos aprovaram um plano de estímulos à economia, aumentaram a garantia dos depósitos e ficou claro que mais nenhum banco cairia. A Europa foi atrás.
O que veio a seguir
A política expansionista que começou em 2008, e que consistiu em estimular a banca através de injecções de capital e apoiar o investimento público, foi posta em causa quando a Grécia caiu: Papandreou descobriu gigantescos buracos financeiros, que obrigaram a um resgate e pressionaram o mercado soberano europeu, que viu os "ratings" dos países serem cortados sucessivamente. Irlanda e Portugal foram resgatados. A regra é consolidar.
Imagem do ano
Obama é eleito e devolve a esperança a todo o mundo
O mundo precisava de mudar, em 2008: o colapso da economia, a pressão dos anos de guerra em que os Estados Unidos estavam envolvidos, a falta de confiança do planeta em George W. Bush, um líder em quem o mundo não se revia. Barack Obama capitalizou a falta de esperança e assentou a sua campanha eleitoral nessas duas premissas: "Hope" (esperança) e "Change" (mudança), "We Can" (nós conseguimos).
Obama contou desde o início com uma presença muito forte nas redes sociais, o que o ajudou a preparar a vitória: a 4 de Novembro de 2008, Barack Obama venceu as eleições presidenciais norte-americanas, conquistando 52,9% dos votos (face a 45,7% do republicano John McCain) e tornou-se o primeiro afro-americano a presidir à maior economia do mundo. Barack Obama adoptou um cão-de-água português para oferecer às filhas e prometeu reformar a saúde, sair do Iraque e não aumentar impostos.
O democrata prometeu ainda recuperar empregos e a economia do País, através de um fundo para recuperar infra-estruturas. Obama deu ainda um impulso às energias renováveis e prometeu fechar a prisão de Guantánamo.
O que veio a seguir
Barack Obama já foi reeleito, no passado mês de Novembro, para um segundo mandato nos Estados Unidos, mas pelo meio deixou algumas promessas por cumprir. A prisão de Guantánamo continua por fechar e Obama não conseguiu, por exemplo, introduzir os genéricos no País. Mas já retirou os EUA do Iraque e prevê fazer o mesmo no Afeganistão em 2014. Conseguiu recuperar o sector automóvel e capturou Osama Bin Laden.
Negócio do ano
Angolanos descobrem "El Dorado" em Portugal
Foi em 2008 que Portugal começou a ouvir falar de Manuel Vicente e de Isabel dos Santos. As empresas portuguesas descobriram em Angola um "paraíso" de resultados financeiros, venderam as posições que lá detinham e permitiram que os angolanos reforçassem nas portuguesas. Manuel Vicente, líder da petrolífera Sonangol, aproveitou a oportunidade para reforçar no BCP, onde passou a deter perto de 10% do maior banco privado português.
Foi também em 2008 que a Sonangol aumentou a sua participação na Galp. Presente indirectamente na petrolífera através dos 45% que detém na Amorim Energia, a Sonangol manda em cerca de 15% da Galp. Isabel dos Santos, filha do presidente angolano, optou por se tornar uma accionista relevante no BPI e no BIC, que abriu uma subsidiária em Portugal, liderada por Mira Amaral. Isabel dos Santos adquiriu 9,69% do BPI ao BCP, e já detinha 25% do BIC. Detém ainda 20% do BES Angola.
O que veio a seguir
A falta de liquidez das empresas portuguesas, em contraponto com a pujança económica angolana, tem levado a investimentos cada vez mais frequentes dos angolanos em Portugal. Isabel dos Santos tornou-se accionista de referência de várias empresas. Na Zon, é a maior accionista detendo 28,8% do capital. É nessa qualidade, aliás, que vai deter 50% da empresa que vai resultar da fusão da Zon com a Optimus. Isabel dos Santos está ainda nas telecomunicações em Angola, Cabo Verde e São Tomé. Manuel Vicente, que foi ganhando maior relevância política - nas eleições de 2012 foi eleito o número dois das listas, atrás de Eduardo dos Santos - continua a ser o maior accionista do BCP, onde detém cerca de 11% do capital. Mantém a posição na Galp e comprou a Escom, o negócio dos diamantes, ao BES.