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NATO deve «acomodar» braço militar da UE

«O principal desafio que se coloca à NATO é o de acomodar no seu seio o esforço europeu para estabelecer, no quadro da União Europeia, uma política de defesa forte e credível», afirmou o Presidente da República na abertura da Conferência Internacional sob

21 de Outubro de 2003 às 21:21
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«O principal desafio que se coloca à NATO é o de acomodar no seu seio o esforço europeu para estabelecer, no quadro da União Europeia, uma política de defesa forte e credível», afirmou o Presidente da República na abertura da Conferência Internacional sob o tema “Conflito e Cooperação nas Relações Internacionais – Relações Transatlânticas Europa-EUA», organizada pela Fundação Gulbenkian.

Jorge Sampaio fez questão de repetir esta a afirmação, para depois sublinhar que, «cada vez mais, os Estados Unidos terão, nesta área de saber lidar com a União Europeia como um todo e não como um conjunto díspar e variado de aliados».

«Existe nesta área uma ambiguidade fundamental que deve ser clarificada», disse ainda o Presidente, esclarecendo que «os Estados Unidos, desde há muito, solicitam aos seus aliados um esforço maior na área da defesa, mas dificilmente aceitam as implicações políticas de tal esforço».

Uma Europa reforçada do ponto de vista da segurança e defesa permitir-lhe-á, designadamente tomar «conta de operações que, por falta de alternativa, eram até agora asseguradas pela NATO ou por ‘coalitions of the willing’».

Mas por mais rápido e profundo que seja esse processo, para tarefas de envergadura no plano militar continuará a ser necessária, ou pelo menos altamente vantajosa a cooperação entre os dois lados do Atlântico – necessária tanto para a Europa como para os Estados Unidos», disse o chefe de Estado.

A visão de Sampaio é, contra o que aparenta, mais próxima da que defendem os Estados Unidos, e o seu maior parceiro europeu, o Reino Unido – o «mais atlantista entre os atlantistas», numa expressão que o Presidente usou sem apontar o referente – do que as posições defendidas pela França e mesmo pela Alemanha.

Jacques Chirac declarou na sexta-feira, à margem da última cimeira europeia em Bruxelas, estar disposto a trabalhar no sentido de conseguir que a estrutura de comando do futuro braço militar da União Europeia seja totalmente independente da Organização do Atlântico Norte.

Os embaixadores aliados discutirão na quinta-feira as preocupações dos Estados Unidos em relação às propostas do chefe de Estado francês, mas ficou claro pelas declarações de Sílvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano, de Javier Solana – alto responsável da UE para a Política Externa e ex-secretário-geral da NATO –, assim como do chefe do governo britânico Tony Blair, logo na sexta-feira, que vários Estados nada farão «que ponham em risco a NATO», na expressão de Blair.

No que pode ser visto como uma antecipação à preocupação levantada hoje de manhã por Sampaio, Tony Blair garantiu em Bruxelas que tudo fará para que o braço militar da UE apenas opere “nas circunstâncias em que a América não queira envolver-se», exactamente o que disse o Presidente português.

No seu discurso na sexta-feira, o Presidente elaborou sobre cinco teses ou «proposições» que no seu entender sintetizam o actual estado das relações transatlânticas, para depois tirar «duas conclusões para Portugal».

A primeira tese é que «entre os Estados Unidos e a Europa existe uma identidade básica de valores mas não necessariamente de cultura política»; a segunda é que «o fim do sistema bipolar alterou as bases do relacionamento entre os Estados Unidos e a Europa»; em seguida, «a aceleração do processo de globalização desencadeada pelo fim da guerra-fria aumentou a interdependência económica entre os Estados Unidos e a Europa»; «Os EUA e a Europa têm todo o interesse em se entenderem, mas não têm interesses necessariamente coincidentes» e, finalmente, «o fim da guerra-fria alterou a natureza da NATO mas não destruiu a sua utilidade».

Para Jorge Sampaio, Portugal deve participar no debate europeu «com uma atitude construtiva relativamente aos EUA, mas sem receios ou complexos em afirmar as nossas posições».

O Presidente considerou também que o «atlantismo versus europeísmo é um falso dilema para Portugal», sustentando que «nenhuma força política em Portugal, nem mesmo ninguém de bom senso, pode hoje pensar que o atlantismo é uma verdadeira alternativa à integração na Europa, nem no ponto da cultura política nem no ponto dos nossos interesses vitais».

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