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Lagarde diz que BCE mantém “mente aberta” quanto a decisão de setembro e seguintes

Pressão do turismo na Zona Euro tem mantido elevada a inflação subjacente, com preços dos serviços a subirem em junho, mas dinâmica está a abrandar. Impacto no mercado do trabalho deve começar a sentir-se na indústria.

Kai Pfaffenbach / Reuters
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O Banco Central Europeu (BCE) mantém a "mente aberta" quanto àquela que poderá ser a ação da política monetária na próxima reunião, de setembro, mas também nas seguintes, indicou nesta quinta-feira a presidente da instituição, Christine Lagarde, após uma nova subida em 25 pontos base nas taxas de juro que deixa em aberto o caminho a seguir até ao final deste ano.

 

O comunicado da decisão dos governadores centrais do euro não apresenta, após esta reunião, qualquer nota de "forward guidance", afirmando que as próximas decisões estarão, como em ocasiões anteriores, dependentes dos dados económicos.

"Pode ser subida, pode ser pausa. E, se for pausa, pode não ser por um período prolongado", afirmou Lagarde na conferência de imprensa subsequente à decisão desta quinta-feira que, afirmou a presidente, foi unânime entre os membros do conselho de governadores.

Se a inclinação do BCE relativamente ao que poderá acontecer em seis semanas, para já, não é evidente, Christine Lagarde lembrou ter até aqui afirmado que "há mais caminho a percorrer" nas subidas de juros, e acrescentou agora que a extensão desse caminho será dada pelos dados económicos com o fim de manter os custos de financiamento "em níveis suficientemente restritivos pelo tempo que for necessário" até ao retorno à meta de 2% de inflação.

 

Na avaliação que suportou a reunião desta quinta-feira, dois factores apontam num sentido mais favorável a pausas. Por um lado, Christine Lagarde fez notar que "a dinâmica está abrandar no sector de serviços", cuja inflação conduziu a uma ligeira elevação da taxa de inflação subjacente anual da Zona Euro em junho, para 5,5%, à boleia de níveis robustos de despesa em viagens e turismo e por efeito de base face ao comportamento dos preços deste segmento em período igual do ano passado.

 

A mesma evolução não tem sido sentida nos preços dos bens, assinalou, indicando que nos próximos meses o BCE pretende analisar mais profundamente e com maior detalhe os dados da inflação subjacente, que permanece forte e mantém os níveis de subida de preços acima da meta de forma prolongada.

 

Por outro lado, os governadores dos bancos centrais mostram-se confiantes quanto à eficácia das decisões tomadas até aqui, refletindo que está a haver transmissão das subidas de juros às condições de financiamento, que estão já mais restritivas. O impacto, sinalizou a presidente, é já visível no recuo do investimento – e, em particular, no investimento das famílias em habitação.

O impacto está também a fazer abrandar as economias – sobretudo, com efeito na produção industrial e na procura que tem por base as empresas; menos entre as famílias  –, com a presidente do BCE a antecipar o início de impactos em mercados de trabalho que têm permanecido fortes, em mínimos de desemprego. Lagarde indicou que a tendência deverá começar a ser negativa no sector das indústrias manufatureiras.

Em resumo, apesar da falta de orientações futuras, o BCE vê o atual principal fator de pressão da inflação a atenuar-se e também a subida das taxas de juro a produzir os efeitos desejados.

 

Contudo, mais uma vez, permanece elevada a incerteza, assim como os riscos. Em particular, a evolução das margens das empresas – com uma ligeira descida no primeiro trimestre – e a evolução dos salários merecem atenção. O BCE preocupa-se com a possibilidade de a dinâmica de salários-lucros desancorar expectativas de inflação, mas mantém que não há espiral inflacionista à vista. Os ganhos em resultados das operações empresariais mantêm-se grandes o suficiente para acomodar o impacto de novos movimentos para a recuperação do poder de compra dos trabalhadores, sinalizou mais uma vez Lagarde.

 

Noutros riscos identificados, o BCE não afasta ainda a possibilidade de haver novos choques nos preços da energia e dos bens alimentares no quadro da continuação da guerra na Ucrânia, mas também devido à atual crise climática, com efeitos nos níveis de produção agrícola.

Após as declarações de Lagarde, os juros na Zona Euro inverteram a tendência e estão a aliviar. A "yield" das Bunds alemãs a 10 anos – "benchmark para a região – subtrai 5 pontos base para 2,428%, enquanto os juros da dívida portuguesa com a mesma maturidade a recuam 4,7 pontos base para 3,119%.

Também o euro inverteu a tendência contra a nota verde, estando a desvalorizar 0,52% para 1,1028 dólares.

No mercado acionista, as principais praças europeias somam pontos à exceção de Lisboa. Madrid avança 0,95%, Paris ganha 1,34%, Londres valoriza 0,31% e Amesterdão arrecada 2,11%. Milão soma 1,93%. Já a bolsa de Lisboa perde 1,03%, pressionada sobretudo pela Jerónimo Martins.

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