Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Juízes contra propostas de PS e PSD sobre enriquecimento ilícito em cargos públicos

A ASJP entregou aos grupos parlamentares em abril uma proposta de alteração à lei com vista a uma "punição mais eficaz" de titulares de funções públicas, em caso de ocultação intencional de riqueza.

Miguel Baltazar/Negócios
17 de Junho de 2021 às 22:52
  • ...
A Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) afirmou hoje que as propostas do PS e PSD sobre o enriquecimento ilícito em altos cargos públicos "mantêm os alçapões que impedem que a lei funcione".

À saída de uma audiência com o Presidente da República, o presidente da ASJP, Manuel Soares, disse ter transmitido a Marcelo Rebelo de Sousa a "ideia" da Associação Sindical para legislação sobre o enriquecimento ilícito dos titulares de altos cargos públicos, bem como a "dificuldade" que está a ter a com os projetos do PS e PSD.

A ASJP entregou aos grupos parlamentares em abril uma proposta de alteração à lei com vista a uma "punição mais eficaz" de titulares de funções públicas, em caso de ocultação intencional de riqueza.

No preâmbulo da proposta, a que a agência Lusa teve acesso, a ASJP refere que o objetivo é uma "punição mais eficaz do ato de ocultação intencional de riqueza adquirida no período correspondente ao exercício dos cargos previstos na LOD [Lei de Obrigações Declarativas], independentemente da licitude da sua fonte de aquisição", através da alteração de normas da referida lei que, desde 2019, abrange os magistrados judiciais.

Desde abril, o debate foi aberto e os partidos têm apresentado diferentes propostas de resolução sobre o tema.

Questionado pelos jornalistas, Manuel Soares esclareceu que tanto o PS como o PSD pretendem perpetuar "a necessidade de haver notificação prévia [do Tribunal Constitucional] para haver um crime". "Manter a notificação é quase um truque porque o dinheiro que está escondido é desconhecido e, por isso, nunca haverá notificação", afirmou.

Face à situação atual que estabelece que os titulares de altos cargos públicos têm de entregar a última declaração de rendimentos três anos depois do fim do cargo, "todos os grupos parlamentares à exceção do PS e PSD", apontou Manuel Soares, "acrescentaram à obrigação declarativa, o dever de apresentar promessas de vantagens económicas".

Estes factos levam o presidente da ASJP a considerar que os dois maiores partidos com assento parlamentar estão a revelar um "comportamento problemático de risco evidente".

Em abril, a ASJP solicitou à Assembleia da República algumas alterações à LOD, nomeadamente a introdução da descrição de promessas de vantagens patrimoniais futuras que possam alterar os valores declarados, num montante superior a 50 salários mínimos mensais recebidas entre a data de início do exercício das funções e os três anos após o seu termo.

Foi também proposto que, nas declarações, conste a indicação dos factos geradores das alterações que deram origem ao aumento dos rendimentos ou do ativo patrimonial, à redução do passivo ou à promessa de vantagens patrimoniais futuras.

Os juízes defenderam ainda um agravamento das penas para o incumprimento, de um a cinco anos de prisão, moldura penal igual à dos crimes de falsificação de documentos por funcionários no exercício de funções.

Na lei atual o titular pode declarar um aumento patrimonial superior a 50 salários mínimos mensais - por exemplo, a aquisição da propriedade de um bem ou a liquidação de um empréstimo bancário - sem ter de explicar a sua proveniência o que não assegura a fiscalização da aquisição de riqueza no exercício de funções públicas.

A LOD também não obriga os sujeitos a declararem vantagens patrimoniais futuras cuja promessa de aquisição ocorra no período do exercício do cargo.

 
Ver comentários
Saber mais Manuel Soares Associação Sindical dos Juízes Portugueses ASJP PS PSD enriquecimento ilícito
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio