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Inflação? Economista Augusto Mateus diz que "BCE assiste impávido e sereno"

Ex-ministro da Economia diz que problema "muito sério" da inflação não se combate com subida da taxa de juro de 25 pontos base e alerta que, com os Estados a diferentes velocidades, emerge o risco de uma crise cambial.

Mariline Alves / Cofina Media
01 de Junho de 2022 às 18:00
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O economista Augusto Mateus teceu, esta quarta-feira, duras críticas à forma como o Banco Central Europeu (BCE) está a atacar o problema "muito sério" da inflação.

"Precisamos de combater a inflação e não se combate a inflação com um aumento da taxa de juro de 25 pontos base. Perante a disrupção, o BCE assiste impávido e sereno", afirmou o antigo ministro da Economia, lamentando que "os principais decisores políticos ainda estejam na fase de não reconhecer a doença".

"Já se percebeu que não é algo transitório, pelo que a política económica tem de existir", apontou Augusto Mateus, durante uma intervenção que proferiu no âmbito do II Congresso das Marcas, organizado pela Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas e Produtos de Marca.

"Em vez de se combater a inflação, pensa-se em subsídios, em panos quentes", atirou o economista, apelando a uma maior reflexão a longo prazo por parte de todos os agentes económicos, sob pena de depois terem de arcar com as consequências de não o fazer. "Era importante que pedíssemos ao Estado e aos consumidores que pensassem mais no futuro, porque de tanto ignorar o futuro criamos a tempestade perfeita para a inflação", argumentou, apontando que "as famílias, a imaginar dificuldades que não existiram, acumularam recursos com a pandemia, acabando a gerar "inflação pela procura".

Augusto Mateus puxou dos números: "Em Portugal, nestes dois anos, as famílias acumularam 30 mil milhões de euros em depósitos e isso permite inflação pela procura. Estamos a falar de dinheiro em suspenso - que não é poupança nem despesa - que levou a que houvesse períodos em que a taxa de poupança tenha chegado aos 25%".

Em paralelo, durante esses dois anos, assistiu-se a "um aumento drástico da despesa pública, todo financiado com criação de  moeda. Os Estados emitiram dívida e o BCE comprou-a. Aquilo que se chama o M3, a moeda em sentido alargado, aumentou drasticamente", dando origem a um efeito dominó: "Se a moeda aumenta drasticamente, o valor dela baixa e se o valor da moeda baixa temos inflação".

Mas o principal problema ainda foi na etapa seguinte: a da recuperação. "Não se sai da pandemia em pelotão. O grande erro foi dos economistas que disseram que seria 'em V' e que vamos todos para cima se viemos todos para baixo. Acontece que não fomos todos para baixo nem viemos todos para cima e os estrangulamentos nas cadeias de abastecimento têm que ver com disrupções desta crise económica não ser feita em pelotão., sobretudo a recuperar.

E à "inflação pelos estrangulamentos" - apontou Augusto Mateus - acresce a inflação pelos custos. "Já vamos em 8%. Se descontarmos a energia estamos nos 5%. Como se responde a isto? É preciso política económica. É preciso deixar de criar moeda. É preciso impedir a inflação por inércia".

"Isto é muito sério e podemos ter colapsos de famílias, empresas, de economias porque não se liga a isto. E se não ligarmos à inflação vamos acabar com uma crise cambial porque as economias não vão ter todas a mesma inflação", alertou.

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