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Inflação? Economista Augusto Mateus diz que "BCE assiste impávido e sereno"
Ex-ministro da Economia diz que problema "muito sério" da inflação não se combate com subida da taxa de juro de 25 pontos base e alerta que, com os Estados a diferentes velocidades, emerge o risco de uma crise cambial.
"Precisamos de combater a inflação e não se combate a inflação com um aumento da taxa de juro de 25 pontos base. Perante a disrupção, o BCE assiste impávido e sereno", afirmou o antigo ministro da Economia, lamentando que "os principais decisores políticos ainda estejam na fase de não reconhecer a doença".
"Em vez de se combater a inflação, pensa-se em subsídios, em panos quentes", atirou o economista, apelando a uma maior reflexão a longo prazo por parte de todos os agentes económicos, sob pena de depois terem de arcar com as consequências de não o fazer. "Era importante que pedíssemos ao Estado e aos consumidores que pensassem mais no futuro, porque de tanto ignorar o futuro criamos a tempestade perfeita para a inflação", argumentou, apontando que "as famílias, a imaginar dificuldades que não existiram, acumularam recursos com a pandemia, acabando a gerar "inflação pela procura".
Augusto Mateus puxou dos números: "Em Portugal, nestes dois anos, as famílias acumularam 30 mil milhões de euros em depósitos e isso permite inflação pela procura. Estamos a falar de dinheiro em suspenso - que não é poupança nem despesa - que levou a que houvesse períodos em que a taxa de poupança tenha chegado aos 25%".
Em paralelo, durante esses dois anos, assistiu-se a "um aumento drástico da despesa pública, todo financiado com criação de moeda. Os Estados emitiram dívida e o BCE comprou-a. Aquilo que se chama o M3, a moeda em sentido alargado, aumentou drasticamente", dando origem a um efeito dominó: "Se a moeda aumenta drasticamente, o valor dela baixa e se o valor da moeda baixa temos inflação".
E à "inflação pelos estrangulamentos" - apontou Augusto Mateus - acresce a inflação pelos custos. "Já vamos em 8%. Se descontarmos a energia estamos nos 5%. Como se responde a isto? É preciso política económica. É preciso deixar de criar moeda. É preciso impedir a inflação por inércia".
"Isto é muito sério e podemos ter colapsos de famílias, empresas, de economias porque não se liga a isto. E se não ligarmos à inflação vamos acabar com uma crise cambial porque as economias não vão ter todas a mesma inflação", alertou.