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Horta Osório nomeado cavaleiro no Reino Unido
O título de cavaleiro (knight) ou dama (dame) é das mais altas honras que um indivíduo pode receber no Reino Unido, sendo concedido pelo monarca britânico.
António Horta Osório vai receber o título de cavaleiro, pela rainha Isabel II. Passa assim a ser um "Sir" - tratamento dado aos cavaleiros da Ordem do Império Britânico. Quem recebe esta distinção e não é cidadão britânico não pode ser designado "Sir", mas fica com o título de cavaleiro honorário - e pode, se assim o desejar, acrescentar o sufixo KBE [Knight of the British Empire] ao seu apelido. Mas Horta Osório tem dupla nacionalidade desde 2014, pelo que será um "Sir".
Duas vezes por ano, a 1 de janeiro e em junho (no aniversário oficial da rainha), são divulgadas as listas com os nomes – que normalmente superam os 1.000 – de quem vai receber a distinção, depois de aprovados por um comité para o efeito que analisa todas recomendações. E o banqueiro consta da lista de quem vai agora receber esta honra.
Apesar de a lista conhecida esta sexta-feira ter cerca de 1.000 nomes no total, apenas 17 receberam o título de "Sir" e 14 de "Dame" – todos os outros receberam distinções de menor grau.
Na lista, é sublinhado que esta distinção a Horta Osório se deve ao serviço prestado no âmbito dos serviços financeiros e dos serviços de voluntariado nas áreas dos cuidados mentais e da cultura.
"Sinto-me profundamente honrado por receber uma distinção tão prestigiante. Passei mais de metade da minha vida profissional no Reino Unido e foi um grande privilégio ter liderado o Lloyds Banking Group durante uma década", declarou Horta Osório em reação a esta condecoração.
"Embora este seja um reconhecimento pessoal, gosto de pensar que reflecte os esforços de muitos milhares de colegas do Lloyds Banking Group, que foram incansáveis no seu serviço aos clientes e aos contribuintes britânicos durante todo o tempo em que lá estive", acrescentou em comunicado enviado ao Negócios.
Esta distinção atribuída a Horta Osório está a ser noticiada em variados títulos dos meios de comunicação internacionais, como o Financial Times, The Guardian, The National, Daily Mail e Daily Business.
Recorde-se que, pós deixar a presidência executiva do britânico Lloyds, em abril passado, Horta Osório acumula agora o cargo de "chairman" do Credit Suisse e de "chairman" da Bial.
Horta Osório – amante de xadrez e praticante de ténis, mergulho com garrafa e esqui nos seus tempos de lazer – tem um longo historial na banca.
O gestor, atualmente com 57 anos, iniciou a sua actividade profissional em 1987 no Citibank e posteriormente trabalhou na Goldman Sachs em Nova Iorque e Londres. Em 1993 juntou-se ao grupo Santander e em 2000, após o acordo entre António Champalimaud, o Santander e a Caixa Geral Depósitos, o grupo espanhol passa a deter os bancos Totta e Crédito Predial Português (além do Santander de Negócios e do Santander Portugal). Horta Osório é nomeado presidente executivo dos quatro bancos depois fundidos no Banco Santander Totta.
Em 2006 parte para Londres para liderar o Abbey, do grupo Santander, e a 1 de Março de 2011 substitui Eric Daniels no cargo de CEO do Lloyds. Foi assim denominado como sendo o homem certo para liderar a recuperação do Lloyds Banking Group.
O gestor português tinha a missão de reestruturar o Lloyds – que incluía vender 600 balcões até novembro de 2013 -, devolver o dinheiro que o Tesouro britânico injectou na instituição para evitar a sua falência e "contratar várias pessoas-chave para a equipa". Questões que Horta Osório disse que só ele poderia resolver. E resolveu, mas não sem antes passar por um esgotamento numa fase muito inicial – oito meses depois de ter assumido o cargo.
O facto de Horta Osório ter reconhecido este esgotamento, derivado de grande pressão que o privou de muitas horas de sono, é apontado como um momento importante para o setor financeiro.
A consultora Sandra Navidi, no seu livro "Superhubs - Como a elite financeira e as suas redes regem o nosso mundo", editado em Portugal pela Lua de Papel em 2017, destacou esse mesmo facto. "Especialmente durante e após a crise financeira, muitos presidentes executivos tiveram esgotamentos que, na maioria dos casos, foram dissimulados e tratados com a prescrição de medicamentos, incluindo anti-depressivos. O CEO do Lloyds, António Horta Osório, foi o único caso de alta visibilidade de um executivo de topo que admitiu estar num estado de exaustão. Após estar nem há um ano no cargo, pelo qual recebia um pacote remuneratório anual de 8,3 milhões de libras esterlinas, além do bónus de entrada no valor de quatro milhões de libras, teve de meter baixa médica devido à fadiga derivada do stress", escreveu Navidi.
"Quem sabe quantos destes executivos de topo, de capa e espada e aparentemente invencíveis, estão secretamente a sofrer? Claro que poderiam libertar-se a qualquer momento deste encarceramento auto-imposto, mas normalmente não são capazes de fugir da prisão das suas personalidades. Apesar de provavelmente terem imensas oportunidades de carreira se deixassem os seus cargos, para muitos deles a potencial perda de estatuto, reconhecimento e poder é ainda mais insuportável do que a tensão decorrente da mais exigente das funções. Trata-se de um jogo de estatuto altamente viciante e os CEO com algemas de ouro são completamente consumidos pelos seus esforços para se manterem no topo", acrescentava a autora.