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FMI volta a cortar previsões de crescimento da Zona Euro

Mau desempenho de 2023 corta possibilidades de crescimento das economias do euro neste ano. Projeções globais são revistas em alta com as duas maiores economias mundiais – EUA e China – a terem agora um horizonte melhor.

O FMI diz que as espirais inflacionistas de salários foram raras.
Yuri Gripas/Reuters
30 de Janeiro de 2024 às 13:00
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O caminho para a aterragem suave das economias, vista como provável no outono, está aberto e as perspetivas de crescimento mundial seguem a melhorar, mas a Zona Euro ainda assiste a uma deterioração das possibilidades de crescimento em 2024 penalizada pelo mau momento do final do ano passado.

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu nesta terça-feira novamente em baixa as perspetivas de crescimento do espaço euro. A previsão é agora a de que a expansão não vá neste ano além de 0,9%, menos três décimas do que era esperado em outubro. Também as projeções de 2025 para a Zona Euro levam um corte ligeiro, de uma décima, com o fundo a esperar um crescimento de apenas 1,7% no próximo ano.

 

As novas previsões para o grupo da moeda única são conhecidas no dia em que o Eurostat confirmou mais um trimestre de estagnação por parte da economia do euro, numa primeira estimativa rápida que afasta para já o cenário de recessão técnica esperado para o final do ano passado.

 

Segundo o Eurostat, a Zona Euro atravessou o ano todo praticamente em estagnação, com ligeiras variações positivas de 0,1% no primeiro e segundo trimestres e uma contração de 0,1% no terceiro trimestre, obtendo crescimento nulo no trimestre final de 2023.

 

A média anual de crescimento no grupo terá ficado em 0,5%, em linha com aquela que é também a estimativa do FMI, divulgada umas horas mais tarde, mas preparada antes de serem conhecidos os dados oficiais do Eurostat.

 

As projeções para o espaço do euro são penalizadas pelo efeito negativo da dinâmica no ano passado, com impacto arrastado para 2024, apesar das expectativas de recuperação.

 

"Um consumo mais forte das famílias à medida que os efeitos do choque de preços das energia diminuem e a inflação desce, apoiando o crescimento real de rendimentos, deverá conduzir a recuperação", reflete a atualização de previsões do FMI para as principais economias.

 

Contudo, o efeito de "carry-over" da dinâmica do ano passado justifica largamente o corte de 0,3 pontos percentuais no crescimento esperado para 2024, explica a instituição.

 

Alemanha, França e Espanha crescem menos

 

No documento publicado esta terça-feira, Alemanha, França e Espanha têm as possibilidades de crescimento agora mais reduzidas, enquanto Itália escapa a nova revisão em baixa.




 

Para o FMI, a saída alemã da recessão, neste ano, não trará mais do que 0,5% de crescimento, num quadro que mal vai além da estagnação. Já no caso de França, avista-se 1% de crescimento. Itália também pode esperar uma expansão de apenas 0,7%. E Espanha, um dos países europeus que mais deverá crescer em 2024, surge com meros 1,5% de impulso no PIB.

 

Os cálculos do fundo têm como pressuposto que o Banco Central Europeu começará a cortar nas taxas de juro na segunda metade do ano, e não antes, tal como tem vindo a ser sinalizado pela autoridade monetária até aqui.

 

Enquanto a Zona Euro se pode preparar para atravessar um período de anemia mais funda do era possível antecipar há cerca de três meses, do lado de lá do Atlântico os Estados Unidos surgem revigorados nas novas projeções desta terça-feira. O FMI sobe as previsões de crescimento da economia norte-americana em 2024 nuns significativos 0,6 pontos percentuais, esperando agora uma subida de 2,1% no PIB. Também aqui, contam os efeitos de "carry-over", após um crescimento acima da expectativas no ano passado: 2,5%, estima o fundo de Washington.

 

Para 2025, porém, as previsões de crescimento dos EUA já surgem alinhadas com as da Zona Euro, nos 1,7%.

 

Na segunda maior economia do mundo, a China, o FMI também está agora mais otimista, revendo as perspetivas para 2024 em alta: para 4,6%, mais quatro décimas do que o previsto em outubro. Para 2025, é esperada uma subida do PIB em 4,1%, num percurso que persiste em valores cada vez mais abaixo de 5% de crescimento (a marca vista como necessária pelas autoridades chinesas para colocar o país no grupo das economias ricas nos próximos anos).

Riscos equilibrados

Apesar disso, a melhoria relativa de perspetivas para EUA e China, assim como para um conjunto de outras economias emergentes, vem tornar um pouco mais otimista o cenário global. As previsões de crescimento mundial para 2024 alcançam agora 3,1%, sem perda de ritmo face a igual estimativa para o ano anterior. Em 2025, a economia mundial poderá expandir-se em 3,2%.

 

"Contudo, a projeção de crescimento global em 2024 e em 2025 está abaixo na média histórica anual de 3,8% (2000-2019), refletindo políticas monetárias restritivas e a retirada de apoio orçamental, assim com um crescimento de produtividade subjacente baixo", assinala o FMI.

 

As projeções agora divulgadas não deixam de enfrentar riscos, que, no entanto, se encontram nesta fase equilibrados, segundo a instituição liderada por Kristalina Georgieva. Há espaço para surpresas positivas no crescimento: desde logo, com a possibilidade de uma maior aceleração do processo de desinflação, mas também caso os governos sejam menos rápidos a retirar medidas de apoio do que se espera. Uma recuperação melhor da China também pode levantar as perspetivas mundiais acima do que se espera, além de que, a médio prazo, o FMI também admite efeitos positivos para a produtividade das economias avançadas com o desenvolvimento da inteligência artificial. Nas economias emergentes, por outro lado, cita reformas do lado da oferta que também poderão contribuir para maior crescimento.

 

Os riscos de sentido oposto – negativo - também existem, e mantêm-se plausíveis. O crescimento mundial poderá ficar abaixo das marcas agora esperadas com novos choques de preços induzidos pelas tensões geopolíticas, onde pontuam os riscos de um conflito regional alargado no Médio-Oriente, os ataques do Mar Vermelho e ainda a guerra na Ucrânia. O clima é outra ameaça ao controlo dos preços.

 

A persistência da inflação elevada e das políticas monetárias restritivas são uma ameaça, assim como a possibilidade de a economia chinesa continuar a falhar não obstante os estímulos de Pequim. Por fim, a pressão pode vir de estratégias mais agressivas que o necessário para a consolidação orçamental em países com endividamentos elevados, com o FMI a desaconselhar uma mudança brusca para subidas de impostos e cortes de despesa.

 

 

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