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Excedente pode ser mais alto do que prevê Medina e atingir 1% do PIB, diz CFP

Dois anos seguidos de superávit são“excentricidade”, mas organismo diz que a lei é clara: saldos positivos devem servir para pagar a dívida enquanto esta for considerada excessiva. Governo quer fundo para investimentos.

Nazaré da Costa Cabral apresentou as perspetivas do CFP até 2027. Para este ano, prevê menos défice, mas menos crescimento e mais inflação.
Tiago Petinga/Lusa
25 de Outubro de 2023 às 16:01
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O saldo orçamental das administrações públicas deverá ser superior àquele que o Governo prevê com o excedente a atingir afinal 1% do PIB, afirma o Conselho das Finanças Públicas (CFP) nesta quarta-feira, na análise à proposta de Orçamento do Estado para 2024.

 

No documento, o ministro das Finanças, Fernando Medina, antecipou um excedente de 0,8% do PIB, em virtude da arrecadação fiscal extraordinária deste ano. Mas o CFP, que em setembro admitia 0,9% de excedente, refez agora os cálculos incorporando a nova informação prestada pelo Governo.

 

O resultado fica duas décimas acima do projetado pelo Governo – representando um valor adicional próximo dos 550 milhões de euros -  e, segundo o CFP, é explicado sobretudo com a arrecadação esperada na tributação das empresas.

 

"A evolução projetada para a receita fiscal é determinante para explicar este maior excedente, sobretudo no que respeita aos impostos diretos, muito em particular ao IRC, uma vez que a projeção para a despesa pública evolui praticamente em linha com o estimado pelo Ministério das Finanças", adianta.

 

Também na dívida pública o organismo liderado por Nazaré Costa Cabral espera ver uma redução um pouco mais intensa do que o projetado pelas Finanças, antecipando um rácio de 102,6% do PIB no fim deste ano (o Governo prevê 103% do PIB).

 

Já para o próximo ano, a previsão do saldo agora feita pelo CFP fica aquém daquela que espera o Governo, com o organismo a apontar para um excedente de apenas 0,1% do PIB em 2024. Já Fernando Medina espera um excedente orçamental 0,2% do PIB.

 

Segundo a análise publicada, a diferença é "determinada por um menor saldo primário (sem juros), uma vez que os encargos com juros em rácio do PIB estão em linha com o previsto" pelo Governo.

 

Também a previsão relativa à evolução da dívida pública em 2024 apresenta uma ligeira diferença, com o CFP a apontar para um rácio de 98,7% do PIB (o Governo espera 98,9% do PIB).

 

As perspetivas orçamentais para o próximo ano estão no entanto sujeitas aos riscos negativos do cenário macroeconómico, que poderão fazer variar as receitas e despesas – por exemplo, com a necessidade de mais apoios ou subida de gastos com estabilizadores automáticos. O excedente projetado para 2024 é "modesto" e poderá mesmo não se concretizar, admite o CFP.

 

Em todo o caso, "a previsão de saldos orçamentais excedentários em dois anos consecutivos surge como uma excentricidade na história económica do país e suscita inéditas interrogações sobre a orientação a dar à política orçamental", refere o CFP na apreciação global da proposta do Governo. A conclusão da apreciação é a de que a postura orçamental para o próximo ano será "neutra", em face de um ligeiro aumento do saldo primário estrutural.

 

Outra questão é a de saber o que fazer com os excedentes projetados. E, aqui, o CFP contraria as pretensões do Ministério das Finanças de avançar para a constituição de um Fundo de Investimento Estruturante a pensar no período pós-2026.

 

O Conselho lembra que um dívida pública acima de 60% do PIB é ainda considerada excessiva à luz das regras europeias e lembra que a Lei de Enquadramento Orçamental é clara ao priorizar a amortização de dívida pública em caso de excedente orçamental nesta situação. A possibilidade de constituir uma reserva de estabilização de caráter anticíclico também está contemplada, mas apenas quando a dívida estiver abaixo do limiar de 60% do PIB, assinala

 

"Por conseguinte, o cumprimento estrito desta disposição legal obriga a que necessariamente qualquer excedente orçamental seja canalizado para a redução da dívida pública, enquanto considerada excessiva. Só depois haverá espaço orçamental para a criação de uma almofada financeira de estabilização", defende o CFP.

 

Para Portugal,  a redução da dívida deve ser ainda a "almofada financeira principal e prioritária", prescreve a publicação.

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