Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Deflação é boa para os consumidores e má para a economia?

À primeira vista, parece uma boa notícia para os consumidores. Preços mais baixos significa maior poder de compra. Mas a longo prazo a deflação é uma das maiores dores de cabeça que podem ter governos e bancos centrais. E o pior é que é difícil de combater.

Miguel Baltazar/Negócios
Negócios 28 de Novembro de 2013 às 08:00
  • ...

Lembra-se de alguma vez ter ouvido um consumidor queixar-se da redução de preços? Pois, normalmente a queixa vai no sentido contrário. Não só porque os preços em geral não costumam baixar, mas também porque os consumidores vêem nessa tendência um aumento do poder de compra. Mas no longo prazo a redução de preços pode ter consequências muito negativas para a economia e, necessariamente, também para o consumo.

A redução de preços é boa para os consumidores?

Em termos imediatos, sim. Preços mais baixos reflectem-se, em termos imediatos, num aumento do poder de compra, logo tende a ser visto pelas pessoas como algo positivo. "Uma taxa de inflação mais baixa significa maior poder de compra real das famílias, favorecendo as trajectórias de recuperação da procura interna. Pelo que se se assumir como temporária, esta tendência acaba por ser benigna", afirma ao Negócios Paula Carvalho, do BPI.

Significa que quando os preços baixam o consumo sobe?

Depende sempre da evolução dos rendimentos das famílias. No curto prazo, há de facto um efeito de aumento do poder de compra. O problema é que a longo prazo esta redução de preços acaba por tornar-se num incentivo ao adiamento do consumo. Se os preços estão a baixar, vale a pena esperar para consumir mais barato. E este raciocínio tende a generalizar-se aos restantes agentes da economia.

Então a redução de preços é má para a economia?

Sim. Perante um cenário de queda de preços (deflação), os agentes económicos tendem a atrasar decisões de consumo e investimento, esperando por preços mais baixos na economia. Mas mesmo um cenário menos dramático, como o de inflação baixa, dificulta a recuperação de uma economia como a portuguesa, pois reduz o incentivo a antecipar a despesa e a recorrer a financiamento. Este efeito é sentido nomeadamente através da taxa de juro real (taxa nominal subtraída da inflação), como realçou recentemente o presidente do BCE, Mario Draghi. Ter inflação de 2% "é especialmente importante numa recuperação que ainda é frágil e que começa de níveis muito baixos" porque, neste contexto "é muito importante ter taxas de juro reais baixas". Ora com a taxa de juro nominal próxima de zero, cada vez que a inflação baixa, as taxas de juro reais ficam condenadas a subir. E o banco central está de mãos atadas porque a taxa de juro de referência já está no mínimo.

Inflação alta ajudaria ao ajustamento da Zona Euro?

Sim. E essa razão foi invocada há pouco tempo por Mario Draghi para justificar o objectivo de 2% de inflação que tem governado o BCE. "Os países [da Zona Euro] são muito diferentes e por isso a possibilidade de existirem desequilíbrios [macroeconómicos] estava já prevista" desde a fundação, afirmou o presidente do banco central. Na Zona Euro, "sem taxas de câmbio, para reequilibrar as economias seria preciso um ajustamento de preços" entre países, e "esse reajustamento é muito mais difícil" se tivermos inflação de 0% em vez de termos 2%, explicou o banqueiro central. Para países como Portugal, que precisam de ganhar competitividade dentro da Zona Euro, é importante que os preços dos parceiros cresçam mais do que os preços nacionais. Com inflação baixa por toda a Zona euro, esse processo é mais lento.

Por que é que o BCE fixou o tecto máximo para a inflação em 2%?

O valor é arbitrário, mas Mario Draghi deu recentemente uma explicação parcial para a sua escolha. Ao apontar para os 2%, o BCE procurou garantir uma inflação baixa para a Zona Euro e ao mesmo tempo garantir que eventuais "falhas ou erros de medição do índice de preços no consumidor possam ser acomodados dentro da evolução dos preços". É que já aconteceu noutras regiões considerar-se que os preços estavam a subir quando na verdade caiam. Neste cenário, as decisões do banco central baseadas em indicadores errados poderiam mesmo ser contraproducentes.

 
O que é deflação?

Deflação corresponde a um processo de redução generalizada e prolongada do índice de preços no consumidor. Uma redução de preços prolongada tende a criar um círculo vicioso nas economias na medida em que estimula os agentes económicos a adiar decisões: as famílias adiam o consumo, os empresários o investimento, conduzindo a economia ao que se chama depressão. Isso mesmo aconteceu nos Estados Unidos nos anos 30, bem como no Japão a partir da década de 90.

Ver comentários
Saber mais Paula Carvalho BCE Mario Draghi Zona Euro Portugal Estados Unidos Japão macroeconomia preços deflação economia
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio