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Comissão pode devolver OE a Renzi, Obama dá-lhe a mão

Renzi desafia pacto orçamental e arrisca ver o seu plano devolvido para reformulação. Ao mesmo tempo recebe apoio de Obama para que a Europa use estímulos orçamentais.

Reuters
19 de Outubro de 2016 às 22:00
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No mesmo dia em que entregou à Comissão Europeia um plano orçamental que viola as regras do pacto orçamental e que poderá ser devolvido por Bruxelas a Roma, Matteo Renzi jantou em Washington com Barack Obama, recebendo elogios pessoais e apoio contra a austeridade na Europa. Um dia depois, o principal conselheiro económico do Presidente norte-americano publicou um artigo de opinião no Financial Times com cinco razões para uma política orçamental mais expansionista, em particular na Zona Euro.

Terça-feira, horas depois de Mário Centeno ter feito o mesmo, a equipa económica do ministro Pier Carlo Padoan enviou para Bruxelas o esboço orçamental italiano para 2017 no qual o défice público baixará de 2,4% do PIB para 2,3% do PIB; o excedente primário piorará de 1,5% para 1,4% do PIB, e o défice estrutural, que segundo as regras deveria reduzir-se em 0,5 pontos, vai antes subir, de 1,2% do PIB para 1,6% do PIB. A dívida também sobe ligeiramente para 132,8% do PIB, lê-se no documento.

Com um nível de endividamento público semelhante ao português, a estratégia italiana choca de frente com o pacto orçamental europeu, o que explica a diferença significativa em relação aos planos lusos: Mário Centeno prevê baixar o défice de 2,4% para 1,6% do PIB; assegura o maior excedente orçamental da Zona Euro em 2017 (2,8% do PIB), e reduz o saldo estrutural em 0,6 pontos do PIB.

O arrojo italiano foi notado em Bruxelas: "Toda a gente ficou muito surpreendida que Renzi tenha decidido ser tão ousado", afirmou uma fonte da UE à Reuters. Segundo a agência, a Comissão pondera enviar na próxima semana um pedido a Itália para que acrescente medidas de consolidação orçamental. Se o aviso seguir e não receber resposta de Roma, o orçamento poderá mesmo ser devolvido ao país dentro de duas semanas. No ano passado Itália recebeu a alerta, mas acabou por evitar a devolução. 

Enquanto em Bruxelas se analisavam os primeiros números italianos, Matteo Renzi tratava de encontrar um apoiante de peso a uma política orçamental mais expansionista na Zona Euro e, subentende-se, em Itália. Na mesma terça-feira, o primeiro-ministro italiano foi o último convidado de honra de Barack Obama na Casa Branca em Washington, e ouviu o Presidente norte-americano dizer que se revê no se "optimismo, energia, visão". Obama também deu uma entrevista ao jornal italiano La Republica na qual defendeu que a austeridade na Europa "atrasou o crescimento" e gerou frustração e ansiedade, nomeadamente pelo elevado desemprego.

Ao apoio político juntaram-se argumentos técnicos no dia seguinte. Jason Furman, o presidente do Conselho de Peritos Económicos de Barack Obama, escreveu um artigo no Financial Times intitulado "cinco princípios para uma nova política orçamental", na qual defende que os governos das economias avançadas devem procurar o crescimento com os seus orçamentos.

Furman argumenta que é o que faz sentido, considerando que as taxas de juro estão baixas, que há défices de investimento em infraestruturas e que a coordenação de políticas maximiza os impactos dos estímulos orçamentais. A receita surgiu com uma referência directa à Zona Euro: "Uma política orçamental activa, mecanismos como o seguro de desemprego europeu, melhor coordenação entre países ou um pacto simplificado que permita enfatizar o crescimento de curto prazo devem ser consideradas", lê-se no artigo publicado na quarta-feira, dia 19 de Outubro.
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