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"Capitães de Abril" reiteram alertas para perigo de violência em Portugal
Os "capitães de Abril" Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho reiteraram hoje alertas para o perigo de violência na actual situação político-económica em Portugal, após uma conferência de quase quatro horas sobre o 25 de Novembro, em Lisboa.
No auditório da Sociedade Portuguesa de Autores, os dois coronéis foram trocando, entre si e com a plateia, repleta de outros militares, factos, relatos e interpretações dos acontecimentos vividos desde a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1975, ao golpe militar liderado pelo depois pelo antigo Presidente da República Ramalho Eanes, que instituiu o Processo Constitucional no lugar do Processo Revolucionário em Curso (PREC).
"Eu sou um dos que sou acusado disso. Não estou a incitar à violência. Estou a alertar para que a violência vem aí. Venho a fazer este alerta há cerca de três anos. A figura que criei na altura foi 'vem aí nova revolta de escravos', se não se alterarem as políticas que estão a ser feitas. Quem está a provocar a violência é quem está a fazer as políticas", afirmou Vasco Lourenço, referindo-se a declarações anteriores, num encontro organizado por outro ex-Presidente da República, Mário Soares, há dias na Aula Magna.
O coronel, assumidamente "moderado" rejeitou ter feito quaisquer "apelos à violência", mas insistiu que, "se não alterarem as políticas, a violência vai ser inevitável", adiantando que, tal como as suas palavras, também Soares não quis incentivar qualquer acção violenta.
"É indisciplina! A burguesia, a classe dominante, a minha classe, fica extremamente em aflição quando há um prenúncio de violência. É a única linguagem. Como o Estado burguês tem o monopólio da violência e lhe foge ao controlo, da polícia, da GNR, a classe dominante fica aflita", comentou Otelo, por seu turno, sobre a recente invasão das escadarias da Assembleia da República por parte de profissionais das forças de segurança.
Para o dirigente operacional do golpe militar que depôs o Estado Novo, "vão continuar a existir coisas dessas".
"Mário Soares fez aquela charla na Aula Magna e avisou que vem aí a violência. Eu também julgo que sim. Apesar de o nosso povo ser de brando costumes - o povo é sereno, dizia o almirante Pinheiro de Azevedo -, mas, a certa altura, quando a coisa extravasa, a criminalidade está a aumentar, pode-se passar para atos de violência que vão chocar enormemente a classe burguesa que, depois, é capaz de não ter polícia e todas as forças de repressão para actuarem. E aí, é um problema", disse.
Relativamente à homenagem de hoje ao antigo Chefe de Estado Ramalho Eanes, Vasco Lourenço, reconheceu que a figura é merecedora, mas discordou da data em causa, por poder "abrir feridas".
"Acho que a homenagem é justa pelo passado dele, agora podia ser feita, por exemplo, no 1.º de Dezembro ou no dia de anos do general Ramalho Eanes. Eu não estou na homenagem só por isso. Ao fazerem no 25 de Novembro, estão a realçar a divisão que houve. Já muito se conseguiu, muitas feridas conseguiram ser saradas e agora estão a reabri-las", justificou.
Sobre Eanes, Otelo classificou-o como "um prussiano", já que se "agarrou à Constituição como se fosse um regulamento de disciplina militar e tudo o que fugisse dali, 'corta'".
Saraiva de Carvalho considerou que "o 25 de Novembro representa uma paragem, uma travagem brusca no PREC, que estava a ter um curso acidentado, um bocado atormentado, indisciplinado, nos quartéis (...). Que levou ao poder a facção mais moderada, mais aceite pelo Mundo ocidental".
Analisando a actualidade, Vasco Lourenço defendeu que Portugal está a assistir à "destruição de tudo o que cheira a Abril", tornando-se um "protectorado de forças estrangeiras, em que o poder está a vender o país a pataco", caminhando "para situações que de democráticas têm muito pouco".