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Banco de Portugal mantém previsão do PIB; baixa estimativa inflação

O Banco de Portugal, no Boletim Económico de Setembro, manteve a previsão de crescimento da economia nacional este ano, apesar de baixar a estimativa para o consumo privado. A inflação vai crescer menos que o esperado.

18 de Novembro de 2002 às 15:30
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O Banco de Portugal, no Boletim Económico de Setembro, manteve a previsão de crescimento da economia nacional este ano, apesar de baixar a estimativa para o consumo privado. A inflação vai crescer menos que o esperado.

O Banco de Portugal prevê que o produto interno bruto de Portugal aumente entre 0 e 1% este ano, o mesmo valor que estimava no Boletim Económico de Junho. Em 2001 o PIB português aumentou 1,8%.

No entanto a instituição liderada por Vítor Constâncio alterou as previsões para várias rubricas da economia nacional, aumentando as estimativas para a procura externa e baixando as previsões para a procura interna e consumo privado (ver quadro).

«A manutenção da amplitude do intervalo de previsão reflecte o grau de incerteza excepcional a que estão sujeitas as actuais projecções, resultante, em grande parte, das revisões sucessivas que se têm verificado nos dados do comércio externo», refere o Banco de Portugal no mesmo documento.

Nos anteriores Boletins de Setembro o Banco de Portugal dava uma amplitude de 0,5% para o intervalo previsto do PIB. «A instabilidade destes dados dificulta a análise da evolução da economia portuguesa em 2002, em particular no que se refere ao comportamento das quotas de mercado dos exportadores, da evolução da procura interna e do próprio saldo de mercadorias», diz a mesma fonte.

O Banco de Portugal explica que «o abrandamento da economia portuguesa abrangeu a generalidade das componentes da despesa e dos sectores produtivos. A desaceleração da actividade económica tem-se verificado gradualmente ao longo do ano».

Para o Banco de Portugal «o processo de ajustamento da economia portuguesa continuou em 2002, num contexto em que o enquadramento externo é particularmente desfavorável para esse efeito».

Quebra na procura interna e investimento explicam abrandamento económico

O Banco de Portugal explica o abrandamento económico deste ano com a quebra prevista na procura interna e no investimento.

Esta evolução do PIB «é determinada pela desaceleração do consumo privado e pela redução da formação bruta de capital fixo (FBCF) - agregados que no final da década de 1990 registaram taxas de crescimento muito elevadas - correspondendo à continuação do processo de ajustamento da economia portuguesa iniciado em 2000», refere o Banco de Portugal.

O abrandamento do consumo privado, que este ano variar entre uma queda de 0,25% e uma subida de 0,75%, é explicado pela «desaceleração do rendimento disponível, restrições financeiras associadas aos elevados níveis de endividamento das famílias e níveis de confiança muito baixos».

Segundo o Banco de Portugal o investimento das famílias em habitação e o investimento das empresas este ano vai voltar a cair, devido às perspectivas desfavoráveis da procura interna, elevado endividamento e níveis menos elevados de utilização de capacidade produtiva.

O investimento em construção deverá registar uma queda, após um crescimento real de 3% em 2001.

A compensar a quebra destes indicadores está uma melhoria da procura externa. «As exportações poderão apresentar um crescimento próximo do verificado no ano anterior, o que, num contexto de desaceleração da procura externa dirigida aos produtores portugueses, implicará a realização de ganhos de quota de mercado superiores aos observados em 2001», explica o Banco de Portugal, que prevê uma subida entre 0,75% e 2,25% nas exportações.

«A informação disponível permite projectar, para 2002, uma redução do défice conjunto das balanças corrente e de capital - que traduz as necessidades de financiamento da economia portuguesa face ao exterior - de um valor de 8,4% do PIB em 2001 para o intervalo de variação de -6,75 a -5,25 do PIB», refere o Banco de Portugal.

Inflação de 2002 entre os 3,5 e os 3,7%

As previsões do Banco de Portugal apontam para uma inflação este ano entre os 3,5 e os 3,7%, o que se situa abaixo do intervalo entre 3,5% e 4,5% indicado no último Boletim da instituição liderada por Vítor Constâncio.

Em 2001 o índice de preços no consumidor aumentou 4,4%.

Para o Banco de Portugal o abrandamento dos preços é explicado por três factores:

O primeiro factor é um «menor crescimento dos preços dos bens alimentares não transformados, reduções nos preços das importações e desaceleração dos salários nominais», sendo o segundo a conversão dos preços de escudos em euros.

O último factor foi a subida da taxa máxima do IVA de 17 para 19%, que afectou a evolução do IHPC a partir de Junho de 2002.

O Banco de Portugal explica que a reavaliação feita à evolução da inflação deste ano reflecte sobretudo de «uma reavaliação do impacto nos preços da subida da taxa normal do IVA - que se estima agora ser menos intenso e mais desfasado do que o então assumido - e uma revisão nas hipóteses técnicas do exercício, em resultado da apreciação da taxa de câmbio de euro e de uma evolução mais favorável da generalidade dos preços internacionais de bens de consumo do que o então assumido da recuperação económica mundial».

O Banco de Portugal alerta ainda para a subida do diferencial da inflação do nosso país com a Zona Euro, que «deverá estar relacionado com o facto de, em Portugal, os custos salariais terem registado regularmente crescimentos superiores aos observados para o conjunto da área do euro».

«Esta diferença persistente constitui um obstáculo à redução significativa do diferencial de inflação entre Portugal e a área do euro», alerta a mesma fonte.

Abaixo segue tabela com o novo cenário macroeconómico para o nosso país do Banco de Portugal:

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  2001 2002
Previsão actual Previsão de Junho
Consumo Privado 1,0 -0,25;0,75 0,5;1,5
Consumo público 2,9 1,1 0,9
Formação Bruta de Capital Fixo -0,4 -5,25;-3,25 -5,0;-3,0
Procura Interna 1,1 -1;0 -0,75;0,25
Exportações 1,7 0,75;2,25 1;2,5
Procura Global 1,3 0,5;0,5 -0,25;0,75
Importações 0,1 -2,5;-0,5 -1,5;0,5
Produto Interno Bruto 1,8 0;1 0;1
Balança Corrente+Balança de Capital -8,4 -6,75;-5,25 -6,5;-5,0
Índice Harmonizado de Preços no Consumidor 4,4 3,5;3,7 3,5;4,5

Fonte: Banco de Portugal

 

Boletim do Banco de Portugal sobre a economia portuguesa em 2002 (formato PDF)

Por Nuno Carregueiro

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