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Banco de Portugal mantém previsão do PIB; baixa estimativa inflação
O Banco de Portugal, no Boletim Económico de Setembro, manteve a previsão de crescimento da economia nacional este ano, apesar de baixar a estimativa para o consumo privado. A inflação vai crescer menos que o esperado.
O Banco de Portugal prevê que o produto interno bruto de Portugal aumente entre 0 e 1% este ano, o mesmo valor que estimava no Boletim Económico de Junho. Em 2001 o PIB português aumentou 1,8%.
No entanto a instituição liderada por Vítor Constâncio alterou as previsões para várias rubricas da economia nacional, aumentando as estimativas para a procura externa e baixando as previsões para a procura interna e consumo privado (ver quadro).
«A manutenção da amplitude do intervalo de previsão reflecte o grau de incerteza excepcional a que estão sujeitas as actuais projecções, resultante, em grande parte, das revisões sucessivas que se têm verificado nos dados do comércio externo», refere o Banco de Portugal no mesmo documento.
Nos anteriores Boletins de Setembro o Banco de Portugal dava uma amplitude de 0,5% para o intervalo previsto do PIB. «A instabilidade destes dados dificulta a análise da evolução da economia portuguesa em 2002, em particular no que se refere ao comportamento das quotas de mercado dos exportadores, da evolução da procura interna e do próprio saldo de mercadorias», diz a mesma fonte.
O Banco de Portugal explica que «o abrandamento da economia portuguesa abrangeu a generalidade das componentes da despesa e dos sectores produtivos. A desaceleração da actividade económica tem-se verificado gradualmente ao longo do ano».
Para o Banco de Portugal «o processo de ajustamento da economia portuguesa continuou em 2002, num contexto em que o enquadramento externo é particularmente desfavorável para esse efeito».
Quebra na procura interna e investimento explicam abrandamento económicoO Banco de Portugal explica o abrandamento económico deste ano com a quebra prevista na procura interna e no investimento.
Esta evolução do PIB «é determinada pela desaceleração do consumo privado e pela redução da formação bruta de capital fixo (FBCF) - agregados que no final da década de 1990 registaram taxas de crescimento muito elevadas - correspondendo à continuação do processo de ajustamento da economia portuguesa iniciado em 2000», refere o Banco de Portugal.
O abrandamento do consumo privado, que este ano variar entre uma queda de 0,25% e uma subida de 0,75%, é explicado pela «desaceleração do rendimento disponível, restrições financeiras associadas aos elevados níveis de endividamento das famílias e níveis de confiança muito baixos».
Segundo o Banco de Portugal o investimento das famílias em habitação e o investimento das empresas este ano vai voltar a cair, devido às perspectivas desfavoráveis da procura interna, elevado endividamento e níveis menos elevados de utilização de capacidade produtiva.
O investimento em construção deverá registar uma queda, após um crescimento real de 3% em 2001.
A compensar a quebra destes indicadores está uma melhoria da procura externa. «As exportações poderão apresentar um crescimento próximo do verificado no ano anterior, o que, num contexto de desaceleração da procura externa dirigida aos produtores portugueses, implicará a realização de ganhos de quota de mercado superiores aos observados em 2001», explica o Banco de Portugal, que prevê uma subida entre 0,75% e 2,25% nas exportações.
«A informação disponível permite projectar, para 2002, uma redução do défice conjunto das balanças corrente e de capital - que traduz as necessidades de financiamento da economia portuguesa face ao exterior - de um valor de 8,4% do PIB em 2001 para o intervalo de variação de -6,75 a -5,25 do PIB», refere o Banco de Portugal.
Inflação de 2002 entre os 3,5 e os 3,7%As previsões do Banco de Portugal apontam para uma inflação este ano entre os 3,5 e os 3,7%, o que se situa abaixo do intervalo entre 3,5% e 4,5% indicado no último Boletim da instituição liderada por Vítor Constâncio.
Em 2001 o índice de preços no consumidor aumentou 4,4%.
Para o Banco de Portugal o abrandamento dos preços é explicado por três factores:
O primeiro factor é um «menor crescimento dos preços dos bens alimentares não transformados, reduções nos preços das importações e desaceleração dos salários nominais», sendo o segundo a conversão dos preços de escudos em euros.
O último factor foi a subida da taxa máxima do IVA de 17 para 19%, que afectou a evolução do IHPC a partir de Junho de 2002.
O Banco de Portugal explica que a reavaliação feita à evolução da inflação deste ano reflecte sobretudo de «uma reavaliação do impacto nos preços da subida da taxa normal do IVA - que se estima agora ser menos intenso e mais desfasado do que o então assumido - e uma revisão nas hipóteses técnicas do exercício, em resultado da apreciação da taxa de câmbio de euro e de uma evolução mais favorável da generalidade dos preços internacionais de bens de consumo do que o então assumido da recuperação económica mundial».
O Banco de Portugal alerta ainda para a subida do diferencial da inflação do nosso país com a Zona Euro, que «deverá estar relacionado com o facto de, em Portugal, os custos salariais terem registado regularmente crescimentos superiores aos observados para o conjunto da área do euro».
«Esta diferença persistente constitui um obstáculo à redução significativa do diferencial de inflação entre Portugal e a área do euro», alerta a mesma fonte.
Abaixo segue tabela com o novo cenário macroeconómico para o nosso país do Banco de Portugal:
2001 | 2002 | ||
Previsão actual | Previsão de Junho | ||
Consumo Privado | 1,0 | -0,25;0,75 | 0,5;1,5 |
Consumo público | 2,9 | 1,1 | 0,9 |
Formação Bruta de Capital Fixo | -0,4 | -5,25;-3,25 | -5,0;-3,0 |
Procura Interna | 1,1 | -1;0 | -0,75;0,25 |
Exportações | 1,7 | 0,75;2,25 | 1;2,5 |
Procura Global | 1,3 | 0,5;0,5 | -0,25;0,75 |
Importações | 0,1 | -2,5;-0,5 | -1,5;0,5 |
Produto Interno Bruto | 1,8 | 0;1 | 0;1 |
Balança Corrente+Balança de Capital | -8,4 | -6,75;-5,25 | -6,5;-5,0 |
Índice Harmonizado de Preços no Consumidor | 4,4 | 3,5;3,7 | 3,5;4,5 |
Fonte: Banco de Portugal
Boletim do Banco de Portugal sobre a economia portuguesa em 2002 (formato PDF)
Por Nuno Carregueiro