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António Borges: um País não se abandona!

O António Borges para a não-esquerda foi sempre uma referência em macroeconomia e nas ideias que nos trazia sobre o modus empresarial em Portugal, ou seja daquilo que gostava de referir como centros de poder e práticas de management.

25 de Agosto de 2013 às 22:30
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No permanente e inacabado debate entre as mundividências de esquerda e direita, necessariamente que estabelecemos preferências e modelos de pessoas e ideias, ou porque nos desafiam seriamente as convicções, ou porque nos tranquilizam e confirmam a bondade daquilo que defendemos. O António Borges para a não-esquerda foi sempre uma referência em macroeconomia e nas ideias que nos trazia sobre o modus empresarial em Portugal, ou seja daquilo que gostava de referir como centros de poder e práticas de management.

A sua frontalidade nestas matérias gerou nos corredores da não esquerda, e em parte nas elites económicas e empresariais, uma ambivalência de posições: a admiração genérica que sempre houve sobre as suas capacidades intelectuais, e a de expressar a complexidade da economia de forma inteligível nas suas inspiradoras palestras, contrastava muitas vezes com as reacções públicas negativas, e com os subliminares ataques àquilo que expressava.

Habituado ao espírito livre e independente das aulas duma universidade, mas também aos corredores do poder e da influência, tornou a sua vida política complexa quando agia publicamente. Conviviam nele as duas perspectivas: a de um português que se fascinava com as respostas dos portugueses ao desafio da industrialização, da entrada na EFTA, do jogo democrático, da adopção da economia de mercado, e pela capacidade dos trabalhadores e gestores portugueses na aquisição rápida de competências, pelo sucesso na entrada na UE e no Euro, e recentemente com os reequilíbrios macroeconómicos patentes na evolução da balança externa e das contas públicas.

Do outro lado da sua personalidade, surgia-nos uma pessoa que queria mudar o País com as lentes de um estrangeirado, habituado às sociedades anglo-saxónicas competitivas da destruição criativa, e de comportamentos de risco e de poupança. Detestava a ideia dos pick the winner feitos pelas políticas públicas e do Estado protector e manipulador. Elogiava sempre a capacidade de resposta da economia aos choques externos. Entendia Portugal inserido numa rede global com uma capacidade ímpar de triunfar, tal como o fez a título pessoal.

Não poderia deixar de referir a sua simplicidade, determinação e visão sempre optimistas da vida, e do prazer que retirava do trabalho e da companhia dos que lhe eram mais próximos.

Em Abril de 2008, o Negócios pela pessoa do seu director Pedro Santos Guerreiro, deu-me a mim e ao meu amigo Brandão de Brito o privilégio de inaugurar uma curta série de entrevistas à "tropa de elite" portuguesa: iniciámos com o António Borges. Uma homenagem é revisitar nesta entrevista o seu pensamento. Uma memória para quem acreditou que um País e as suas gentes nunca se abandonam.

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