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Teatro da Cornucópia fecha portas ao fim de 43 anos

O Teatro da Cornucópia, fundado em 1973 em Lisboa e dirigido por Luís Miguel Cintra, anunciou hoje que fecha portas no sábado.

Luís Miguel Cintra, que dedicou grande parte da vida ao Teatro da Cornucópia, retirou-se dos palcos em 2015 por razões de saúde. Miguel Baltazar
Negócios 16 de Dezembro de 2016 às 12:23
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"Pensamos que ao longo destes anos fizemos muito e menos mal, mas também julgamos já ter idade para ousar dizer que não sabemos nem queremos adaptar-nos a modelos de gestão a que dificilmente nos habituaríamos a cumprir. Isso faríamos mal. Talvez seja tempo de parar a atividade", lê-se num comunicado divulgado pelo teatro.

 

Sem programação anunciada para os próximos meses, a companhia de teatro decidiu por fim à actividade com um recital, de entrada gratuita às 16:00, a partir de textos do poeta francês Guillaume Apollinaire, com a participação de atores e músicos que têm trabalhado com o teatro.

 

Num balanço do percurso da companhia, será ainda lançado o segundo volume do livro "Teatro da Cornucópia - Espectáculos de 2002 a 2016", que reúne informação sobre 52 criações, e o DVD do espectáculo "Fim de citação", de Joaquim Pinto e Nuno Leonel.

 

O Teatro da Cornucópia foi fundado em 1973 por Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo. A estreia deu-se com a peça "O Misantropo", de Molière, a 13 de Outubro de 1973 no antigo Teatro Laura Alves, na Rua da Palma, em Lisboa, hoje transformado numa sapataria.

 

Em 1975 a companhia mudou-se para o Teatro do Bairro Alto (antigo Centro de Amadores de Ballet), onde permaneceu até à actualidade.

 

Em quatro décadas, centrou-se sobretudo na dramaturgia contemporânea "com a intenção de construir um teatro de reflexão com uma função activa na realidade cultural portuguesa", como se lê no site do grupo de teatro.

 

Encenaram-se pelas de Shakespeare, Tchekov, Moliére, Genet, Pasolini, Strindberg, Holderlin, Brecht, Garcia Lorca, mas também Gil Vicente, Camões, Almeida Garrett e António José da Silva.

 

São "126 criações no histórico, três estreias mundiais, 25 textos dramáticos portugueses, dezenas e dezenas de atores de todas as gerações, encenadores convidados, espectáculos acolhidos e co-produzidos", elencou o teatro.

 

O Teatro da Cornucópia propôs uma actividade "sempre contra a corrente", sem "perder algum sentido de intervenção política, de missão pública", de fazer teatro "para o público e em função do público", como afirmou Luís Miguel Cintra à agência Lusa em 2013, por ocasião dos 40 anos da companhia.

 

Já nessa altura, o actor e encenador falava na possibilidade de o teatro encerrar por causa de constrangimentos financeiros, por via dos cortes no financiamento público pela Direcção-Geral das Artes.

 

"Os subsídios estão a limitar a liberdade. [O sistema] é mais limitativo da liberdade do que existir uma censura. (...) Eu não ganho cada vez que duplico funções [actor e encenador], ganho sempre o mesmo e ganho uma miséria", disse na altura.

 

Luís Miguel Cintra, Prémio Pessoa 2005, dedicou grande parte da vida ao Teatro da Cornucópia retirou-se dos palcos em 2015 por razões de saúde.

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