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Quem paga o Prémio Camões?
Manuel Alegre foi distinguido com o prémio mais importante da literatura em língua portuguesa. O valor do prémio foi variando ao longo do tempo, mas há 16 anos que vale o dobro do que quando foi lançado.
O Prémio Camões, que foi atribuído esta quinta-feira ao poeta Manuel Alegre, custa aos cofres públicos 50 mil euros. Mas o autor distinguido com o mais importante prémio de literatura em língua portuguesa recebe o dobro. A outra metade é suportada pelo governo brasileiro. É assim desde 2001.
Segundo explicou ao Negócios fonte oficial do Ministério da Cultura, até 1999 este Prémio era de 10 milhões de escudos (o equivalente a 50 mil euros). Os valores do prémio ainda estão em escudos e naquele ano correspondia a metade dos valores actuais.
Naquele ano, era Manuel Maria Carrilho ministro da Cultura, o valor do Prémio aumentou para 60 mil euros (então 12 milhões de escudos). Em 2001, aquando da quinta cimeira luso brasileira o montante atribuído no Prémio Camões voltou a ser reforçado. O prémio subiu para 100 mil euros (20 milhões de escudos), duplicando o valor com que tinha arrancado. O montante do Prémio está há 16 anos sem mexer.
O Ministério da Cultura explicou que, independentemente do valor, o prémio sempre foi suportado em montantes iguais pelos dois países e que, no caso português, é o Orçamento do Estado quem financia aquele que é considerado o prémio mais importante da literatura a distinguir um autor de língua portuguesa pelo conjunto da obra.
O Prémio Camões foi criado em 1988, aquando da assinatura do Protocolo Adicional ao Acordo Cultural entre o Governo de Portugal e o Governo do Brasil e tem como objectivo prestar homenagem à literatura em português, recaindo a escolha num escritor cuja obra contribua para a projecção e reconhecimento da língua portuguesa.
A atribuição do Prémio Camões de 2017 a Manuel Alegre foi anunciada pelo Ministério da Cultura a 8 de Junho. Entre as obras de Alegre destacam-se as colectâneas Poemas Livres (1963-1965) e os dois volumes de poemas, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), que deram ao autor notoriedade por terem sido apreendidos pelas autoridades antes do 25 de Abril, mas com grande circulação nos meios intelectuais. Alegre estreou-se na ficção com Jornada de África, em 1989 e tem uma vasta obra traduzida e publicada em diversos países.
Na quinta-feira, quando soube da atribuição do Prémio, o histórico dirigente socialista disse ao Diário de Notícias receber a distinção "com alegria mas também com serenidade". "Não estava à espera nem sabia que o júri estava reunido", afirmou ainda. "É natural que me atribuam este prémio. Até podia ter sido mais cedo", declarou, mostrando-se ainda "muito honrado" com a decisão do júri.