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Herberto Helder, o poeta maior que recusou o Prémio Pessoa
Considerado um dos maiores poetas portugueses, Herberto Helder, que morreu segunda-feira aos 84 anos, deu a sua última entrevista em 1968 e recusou o Prémio Pessoa na década de noventa, rejeitando quase sempre o mediatismo literário.
Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de Novembro de 1930 no Funchal, ilha da Madeira, no seio de uma família de origem judaica.
Aos 16 anos viajou para Lisboa para frequentar o liceu, tendo posteriormente ingressado na Faculdade de Direito de Coimbra.
Em 1949, mudou para a Faculdade de Letras, onde frequentou o curso de Filologia Romântica, que não chegou a concluir.
De regresso a Lisboa, passou a viver "por razões pessoais" numa 'casa de passe' e começou a trabalhar na Caixa Geral de Depósitos e posteriormente como angariador de publicidade.
Em 1954, data da publicação do seu primeiro poema, em Coimbra, regressou à Madeira, onde trabalhou como meteorologista.
Quando regressou a Lisboa, em 1955, frequentou o grupo do Café Gelo, formado por figuras como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, Hélder Macedo, João Vieira e António José Forte.
Trabalhou como delegado de propaganda médica e redactor de publicidade durante três anos e em 1958 publicou o seu primeiro livro, "O Amor em Visita".
Nos anos seguintes viveu em França, Holanda e Bélgica, como operário, empregado numa cervejaria, cortador de legumes, empacotador de aparas de papel e policopista, tendo mesmo vivido na clandestinidade em Antuérpia, onde foi guia de marinheiros no submundo da prostituição.
Regressado a Portugal em 1960, tornou-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, profissão que o fez percorrer vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo.
Foi para Angola em 1971, trabalhar numa revista. Como repórter de guerra, sofreu um grave acidente e esteve hospitalizado três meses.
Regressou a Lisboa e partiu novamente, agora para os Estados Unidos, em 1973, ano em que publicou "Poesia Toda", reunindo a sua produção poética até à data, e fez uma tentativa falhada de publicar "Prosa Toda".
A Portugal, voltaria só depois do 25 de Abril, já em 1975, para trabalhar na rádio e em revistas, como meio de sobrevivência, tendo sido editor da revista literária Nova, de que se publicaram apenas dois números.
Da sua poesia, escreveu o crítico literário e responsável pela primeira edição brasileira da poesia de Herberto Helder publicada no Brasil, em 2000, Jorge Henrique Bastos, que o poeta "impulsiona a viva encantação das palavras [e que] o abalo que a sua poesia provoca é um dos mais profundos que a literatura de língua portuguesa já sofreu".
Já neste século, o poeta voltou a editar pela Porto Editora, nomeadamente a sua poesia completa em "Poemas completos", obra que segue a fixação empregue na edição anterior, "Ofício cantante", e inclui os esgotados "Servidões", que foi considerado pela crítica literária como o livro do ano em 2013, e "A morte sem mestre", o livro de inéditos escrito em 2013 e publicado em 2014, numa edição limitada.
Herberto Helder morreu na segunda-feira aos 84 anos na sua casa em cascais e segundo fonte familiar haverá uma cerimónia fúnebre privada apenas para a família.
Presidente da República, Cavaco Silva
"Dotado de rara imaginação e sensibilidade, a sua obra sobressai pela originalidade, a coerência e o rasgo de génio com que se afirmou desde o primeiro livro e que sempre lhe foi reconhecido pelos seus leitores"
Primeiro-ministro, Passos Coelho
Herberto Hélder "fez da expressão da sua consciência poética uma vocação extraordinária, enriquecendo todos os que o leram e ouviram". "É unânime o reconhecimento da singularidade e importância da sua obra e há muito que ela integrou o património cultural nacional", acrescenta.
Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves
"Herberto Helder é o mestre sem morte, para nos suportarmos 'em trocadilho' nas suas palavras. Palavras de libertação, palavras aladas, como que a querer "redimir" uma existência que acusava o excesso de peso do mundo numa lucidez pessoana que afinal a todos nos resgatava", lê-se na nota divulgada por Assunção Esteves.
Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier
"Herberto Helder é uma referência maior para a cultura portuguesa e para o seu lugar no mundo, e o seu contributo para a construção do Portugal contemporâneo um bem que a todos deu e do qual todos recebemos parte, enquanto Portugueses e falantes do Português", lê-se no mesmo documento.
Secretário-geral do PS, António Costa
"Herberto é - porque a sua obra perdurará - um dos nossos maiores poetas de sempre, um príncipe das letras de Portugal, cujo contributo ao longo das últimas décadas constitui um património de grande riqueza e densidade para a língua e para a cultura portuguesas", salienta o PS.
Pedro Mexia
"Olhando para a poesia portuguesa do século XX, não haverá talvez uma obra com a mesma força verbal de Herberto Helder", poeta que se remeteu ao silêncio, que "viveu afastado do lado mais mundano da vida literária", deixando apenas falar a obra poética.
Presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE), José Manuel Mendes
"A perenidade não morre. Herberto Helder foi um homem, um escritor criador da obra mais fulgurante em Portugal desde a edição do seu primeiro livro", em 1958, intitulado "Poesia - O Amor em Visita".
Porto Editora
Herberto Helder é um "poeta maior que ficará entre a meia dúzia de nomes incontornáveis da poesia portuguesa do século XX".