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Surto controlado no Japão sem isolamento intriga especialistas
O Japão regista menos de 17 mil casos de covid-19 desde o início da pandemia e 867 mortes.
O estado de emergência no Japão terminou com novos casos de coronavírus de meras dezenas. O país conseguiu o objetivo ignorando em grande medida os procedimentos seguidos por outras nações.
Não foram impostas restrições à mobilidade de residentes, e empresas, como restaurantes e salões de beleza, permaneceram abertas. Não foram implantados aplicações de alta tecnologia que rastreavam os movimentos das pessoas. O país não possui um centro de controlo de doenças. E, mesmo quando os países foram exortados a "testar, testar, testar", o Japão testou apenas 0,2% da população, uma das taxas mais baixas entre os países desenvolvidos.
No entanto, a curva foi achatada, com mortes bem abaixo das mil, de longe o menor número entre os países desenvolvidos do G-7. Em Tóquio, com alta densidade populacional, os casos caíram para um dígito na maioria dos dias. Embora a possibilidade de uma segunda vaga mais grave de infecção esteja sempre presente, o Japão entrou e deve deixar o estado de emergência em apenas algumas semanas. O estado já foi suspenso em todo o país na passada segunda-feira, 25 de maio.
"Olhando para os números de mortes, pode-se dizer que o Japão foi bem-sucedido", disse Mikihito Tanaka, professor da Universidade de Waseda, especializado em comunicação científica que faz parte de um grupo consultivo público de especialistas sobre o vírus. "Mas mesmo especialistas não sabem o motivo."
Uma lista amplamente partilhada reúne 43 possíveis razões citadas em reportagens, que vão desde uma cultura de uso de máscaras a uma taxa de obesidade baixa, além da decisão relativamente precoce de fechar escolas. Entre razões menos credíveis está o facto de os japoneses emitirem menos gotículas potencialmente carregadas de vírus ao falar em comparação com outros idiomas.
Rastreamento de contatos
Especialistas consultados pela Bloomberg News também sugeriram uma infinidade de fatores que contribuíram para o resultado, e nenhum deles soube apontar um pacote único de políticas que pudesse ser replicado em outros países.
No entanto, essas medidas ainda oferecem lições de longo prazo para países ainda a meio da pandemia.
Uma resposta rápida face ao aumento de infecções foi crucial.
Embora o governo central tenha sido criticado pelos passos lentos, especialistas elogiam o papel dos rastreadores de contato do Japão, que entraram em ação após as primeiras infecções serem identificadas em janeiro. A resposta rápida foi possibilitada por uma das vantagens do Japão: os seus centros de saúde pública, que em 2018 empregavam mais de metade dos 50 mil enfermeiros com experiência no rastreamento de infecções. Em tempos normais, esses enfermeiros rastreavam infecções mais comuns, como influenza e tuberculose.
"É muito analógico - não é um sistema baseado em aplicações como o de Singapura", disse Kazuto Suzuki, professor de políticas públicas da Universidade Hokkaido que escreveu sobre a resposta do Japão. "Mas, no entanto, tem sido muito útil."
"Muitas pessoas dizem que não temos um Centro de Controlo de Doenças (equivalente ao CDC dos Estados Unidos) no Japão", disse Yoko Tsukamoto, professora de controlo de infecções da Universidade de Ciências da Saúde de Hokkaido, citando uma queixa frequente sobre a gestão de infecções no Japão. "Mas o centro de saúde pública é uma espécie de CDC local."