Notícia
SNS ativa plano de emergência para a saúde mental
O Programa Nacional para a Saúde Mental deu indicação às Administrações Regionais de Saúde (ARS) do país para ativarem o despacho criado após os incêndios de 2017
As pessoas com crises de ansiedade ou com outras perturbações de saúde mental podem ligar para o seu centro de saúde, onde um psicólogo deverá atender a chamada e poderá depois reencaminhá-la para um psiquiatra, se a situação o justificar. Este tipo de procedimentos integra as orientações do Programa Nacional para a Saúde Mental, da Direção-Geral da Saúde, que deu indicação às Administrações Regionais de Saúde (ARS) do país no sentido de ativarem o despacho criado após os incêndios de 2017 para apoio psiquiátrico em situações de emergência.
"Na sequência dos incêndios de Pedrógão, foi publicado um despacho (7059/2018) que determinava a intervenção da saúde mental no Serviço Nacional de Saúde em contexto de acidente ou catástrofe. Agora, em contexto de pandemia, ativámos esse despacho nas Administrações Regionais de Saúde do país. Ou seja, o Programa Nacional de Saúde Mental deu orientações aos coordenadores regionais para ativarem os seus gabinetes de crise", explica ao Negócios a psiquiatra Ana Matos Pires, assessora do Programa Nacional para a Saúde Mental e coordenadora da Saúde Mental da ARS do Alentejo.
"Nesse despacho, o que está determinado é a articulação da resposta entre os serviços locais de saúde mental e os cuidados de saúde primários, nomeadamente em termos de acompanhamento de doentes, acompanhamento de pessoas que, não estando referenciadas previamente nos serviços de psiquiatra, possam precisar deles, e de ajuda a profissionais de saúde", refere a também diretora do Serviço de Psiquiatria da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo.
"O SNS tem vindo a ativar os planos na saúde mental em contexto de catástrofe (…), o que vai permitir um conjunto de respostas integradas e articuladas com os diferentes níveis de prestação de cuidados. O apoio psicológico aos profissionais de saúde envolvidos no combate à epidemia também está assegurado e é crucial", garantia o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, na conferência de imprensa do dia 26 de março.
Em termos práticos, se alguém sofrer uma crise de ansiedade, por exemplo, e necessitar de ajuda, pode ligar para o centro de saúde local, "onde será atendido preferencialmente por um psicólogo – o enfermeiro e o assistente social também têm formação em primeiros cuidados psicológicos -, que consegue resolver a emergência ou, se considerar que existe necessidade de uma observação psiquiátrica, (o profissional) contacta a linha direta dos centros de saúde para os serviços de psiquiatria, onde responderá um psiquiatra. E, depois, o psiquiatra poderá contactar a pessoa", exemplifica Ana Matos Pires. "O trabalho está a ser feito preferencialmente por telefone para evitar a ida às urgências ou aos serviços, mas sempre que a avaliação suspeitar da necessidade de uma consulta presencial ou internamento, nós enviamos para as urgências".
Questionada sobre como está a decorrer a implementação do despacho, a psiquiatra nota que, da sua observação, enquanto coordenadora da Saúde Mental da ARS do Alentejo, o plano está a "funcionar bem" em cidades como Beja, Portalegre e Évora. "Já a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano está com muitos problemas da resposta, mas está com dificuldades a todos os níveis, por falta de clínicos", lamenta.
O plano de emergência em saúde mental prevê, também, linhas de apoio institucionais dos serviços de psiquiatria aos profissionais de saúde. "Cada instituição desenvolve a sua estratégia. Em Beja, por exemplo, estamos com uma linha de apoio que funciona 24 horas", aponta a médica especialista. "Existe igualmente uma linha nacional (www.p5.pt/apoio/) criada pela Escola de Medicina da Universidade do Minho, e que tem o apoio do Programa Nacional de Saúde Mental".
Em termos gerais, Ana Matos Pires aponta, como grupos de maior grupo de risco, os doentes psiquiátricos graves e as pessoas que já tinham diagnóstico psiquiátrico. "As queixas prendem-se sobretudo com quadros de ansiedade. As pessoas têm medo de serem infetadas ou de infetar as famílias, têm medo de ficarem sem medicação, medo de não terem ajuda…", conta.
Como psiquiatra, deixa algumas orientações: "As pessoas devem manter as suas rotinas, mesmo em confinamento – acordar, fazer refeições e trabalhar às horas normais", indica. "Estar em casa é um fator de tensão e stress adicional, o que nas famílias disfuncionais poderá ser um problema grave. Estamos muito preocupados com as descompensações comportamentais. E, provavelmente, síndromes de abstinência irão disparar nos próximos tempos".