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Patrões do têxtil: “Salários poderão estar em risco a curto prazo”
Com quase 60% a antecipar uma quebra superior a metade da faturação em abril, os industriais avisam o Governo que a retoma será “muito difícil sem o acautelamento dos rendimentos” dos 138 mil trabalhadores do setor.
O líder da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) admitiu esta quinta-feira, 26 de março, que os salários dos trabalhadores "poderão estar em risco a curto prazo". Mário Jorge Machado advertiu que "sem o acautelamento dos rendimentos" dos cerca de 138 mil trabalhadores, "a retoma adivinha-se muito difícil".
Enfrentando "sucessivos adiamentos e cancelamento de encomendas por parte dos clientes, que em alguns casos não chegam a pagar" os produtos que já receberam, o empresário desenha uma "tendência com um profundo impacto ao nível dos recebimentos e das receitas, sobretudo num cenário onde os custos fixos permanecem".
Os resultados de um inquérito realizado pela ATP ao longo dos últimos dias mostram que 59% das empresas do setor esperam registar no mês de abril uma quebra equivalente a mais de metade do seu volume de negócios. Há ainda 26% dos inquiridos a estimar no próximo mês uma redução entre 30% a 50% neste indicador devido à pandemia de covid-19, que já infetou 3.544 pessoas e provocou 60 mortes em Portugal.
"Instala-se uma enorme incerteza na economia europeia, prevendo-se a sua consolidação global nos próximos meses, mesmo depois da atual crise sanitária passar. Com 82% das exportações destinadas ao mercado europeu (…), a indústria têxtil e vestuário e os 7,7 mil milhões euros por ano por ela gerados encontram-se agora fortemente ameaçados", sentenciou Mário Jorge Machado, repetindo o alerta para "medidas urgentes" por parte do Executivo.
As três reivindicações da indústria têxtil e de vestuário:
1- Lay-off simplificado: regulamentação urgente do processo de aplicação, com regras diferentes das atualmente previstas para garantir a sua eficácia. O período de demonstração de quebra de rendimentos da empresa tem de ser o mais curto possível; e a demonstração da quebra tem que poder ser feita através da evidenciação simples de que não há encomendas futuras.
2- Mecanismo entre bancos e o Banco de Portugal: moratória dos pagamentos devidos e sem registo de incumprimento, bem como a diluição ao longo de quatro ou cinco anos do correspondente pagamento, para evitar o estrangulamento de tesouraria no momento da retoma da atividade.
3- Linhas de crédito: garantir que as linhas de crédito criadas serão, de facto, utilizadas sem o aproveitamento por parte dos bancos, com especial atenção às taxas e comissões praticadas. O financiamento previsto terá de facto de chegar às empresas que realmente precisam.